O SABOR DA CACHAÇA

O SABOR DA CACHAÇA

Por Aderson Machado.

Meu pai sempre dizia, com muita propriedade: “Ninguém, ninguém, bebe cachaça (ou aguardente) por gostar de seu sabor, pois não há, no mundo, bebida de sabor tão desagradável! Tanto é assim que as pessoas, em sua grande maioria, ao ingerirem essa bebida, normalmente fazem careta.” Isso é uma verdade incontestável, diga-se de passagem.

Por curiosidade, eu perguntei ao meu pai por que as pessoas gostavam tanto de beber aguardente, mesmo sabendo que o seu gosto era deveras ruim. A resposta de meu genitor foi a seguinte: “Meu filho, as pessoas bebem cachaça unicamente por causa do efeito que ela produz ou desperta nelas.”

Assim, por ser uma bebida de alto teor alcoólico, os seus apreciadores se embriagam mais rapidamente. E gastando pouco dinheiro, porquanto se trata de uma bebida popular e barata. Era, com efeito, a bebida preferida dos chamados homens pobres, quer dizer, os trabalhadores da roça ou assemelhados.

A propósito, quando eu era ainda criança, o meu pai tinha uma bodega, onde era comercializada, dentre outras coisas, a famosa cachaça. Lembro-me muito bem que a maioria das pessoas preferia a aguardente. E depois de tomar umas e outras, elas passavam a cuspir ao chão, o que tornava o ambiente um tanto quanto imundo e malcheiroso. É bom lembrar que esse tipo de comportamento não acontecia apenas na bodega do meu pai; era regra geral por parte dos trabalhadores da zona rural que frequentavam as bodegas da região.

Deixando a zona rural, devo dizer que eu, já adolescente e estudando em Bananeiras, na Paraíba, costumava, nos dias de folga, juntamente com alguns colegas, ir aos bares beber cachaça, pois a grana era curta, e, assim, não havia outra alternativa senão saborear a branquinha, como também é cognominada a aguardente. É importante destacar que a cachaça do Brejo paraibano é uma das mais famosas de toda a Paraíba, sem falar que também tem um teor alcoólico dos mais elevados.

Pelo exposto, fica claro que a cachaça não era consumida apenas pelos trabalhadores rurais. Era, também, apreciada pelos estudantes. Mas não fica por aí. Com o passar dos tempos, cheguei à conclusão que a branquinha é apreciada por diversas classes sociais. Destarte, há muito que ela deixou de ser bebida exclusiva dos pobres. Com efeito, é sabido que existe cachaça tipo exportação, que, evidentemente, é consumida em diversos países e por pessoas de um bom poder aquisitivo.

Apesar de não ser um adepto da bebida em questão, confesso que quando era professor, muito embora a cerveja fosse a minha bebida preferida, muitas vezes, eu, juntamente com alguns colegas de magistério, após as aulas, íamos ter aos bares com o fito de tirar a “poeira do giz” bebendo, inicialmente, umas três ou quatro dozes de aguardente, para depois “lavar” o estômago com cerveja. Essa mistura, confesso, não raras vezes, era danosa para mim, pois não tendo o costume de beber cachaça, quando chegava à minha casa, antes de dormir, vomitava em profusão. Sendo assim, depois de um certo tempo, preferi não mais fazer esse tipo de mistura.

Em se tratando apenas de cachaça, é sabido que em termos de Brasil muitas pessoas VIPS preferem a branquinha, aí incluindo artistas, políticos, jornalistas, cantores e outros que tais. Por sinal, dizem que até alguns ex-presidentes apreciam a cachacinha, e, pior, sem moderação!

Morando no Sertão pernambucano, há mais de 33 anos, constatei uma cultura existente nesta região que pra mim é inédita: É que aqui as pessoas costumam beber aguardente diluída com refrigerante, exatamente para torná-la mais saborosa. Eu, quando bebia, preferia bebê-la pura, desde que acompanhada de um caldinho de feijão ou de peixe.

Por fim, está provado, por A+B, que a famosa a aguardente da cana-de-açúcar não é e nunca foi bebida apenas consumida pelo povão. Muito pelo contrário, há quem diga que muita gente boa prefere cachaça a outros tipos de bebidas mais sofisticadas.

É isso aí.

Aderson Machado
Enviado por Aderson Machado em 22/03/2012
Código do texto: T3570293
Classificação de conteúdo: seguro