UMA MULHER DE 111 ANOS DE IDADE
** Matéria publicada em fevereiro/2012 no Diário do Norte.
Na edição passada do DN foi divulgado que, com 110 anos, Antônio Manoel de Brito, o Vôzinho, morador de Porangatu, pode ser a pessoa mais velha do Estado e, talvez, do País. A incrível longevidade de Vôzinho, no entanto, é desbancada por Lourença Maria de Jesus, com incríveis 111 anos. Ela mora em um modestíssimo barracão no fundo do lote do filho Derci José Cardoso, 66 anos, no bairro Dona Fiíca, em Goianésia.
Lúcida, falante, Lourença é um exemplo de vitalidade. Até alguns meses atrás ela ia todos os dias pela manhã à igreja Assembleia de Deus, localizada no bairro vizinho. Ela percorria, sozinha, aproximadamente 1 km. Com o auxílio de uma bengala, ela aproveitava também para visitar os muitos amigos. Quase sempre, levada um “agrado” aos visitados. Devido à dor nas pernas, Lourença tem abdicado de seu prazer diário. “A coisa que mais gosto na vida é ir à igreja”, conta.
Sua morada é simples. Não há qualquer glamour no banheiro sem portas. Coberto apenas com uma cortina com mensagem publicitária. A porta do barraco é estreita. Com seu corpo magro, ela passa com dificuldade, da área de serviço, sem lâmpada, para o quarto. Com uma cozinha improvisada, ela preparava a própria comida em um fogão simples. Atualmente, a refeição lhe é servida pelo filho Derci.
Nascida no dia 27 de dezembro de 1900, em uma fazenda do município de Monte Azul (MG), Lourença teve uma vida difícil. Forjada no trabalho do campo, fez de tudo. Limpou arroz, capinou, fez farinha e rapadura, plantou milho. Viveu um casamento traumático. “Meu marido não era nada bom para mim, eu apanhava dele todos os dias, tentou me matar de machado”, conta. Mãe de quatro filhos, Lourença experimentou a dor de sepultar três. Três filhas. Viúva há aproximadamente quarenta anos, ela é uma mulher forte. Não se curva diante das dificuldades da vida. O tempo parece não derrubá-la.
Em meados do século 20, a bordo de um trem de ferro, aportou em Goiás. De Monte Azul a Anápolis. Seguiu caminho, em um carro velho, para uma fazenda onde, hoje, é o município de Santa Rita do Novo Destino. No final da década de 1970 mudou-se para Goianésia, onde vive até hoje. Para ela, o segredo de viver tanto tempo é a vontade de Deus. “Ele que me sustenta, que me deu este presente, sou uma pessoa muito feliz”, fiz a mulher, que atravessou todo um século, vivendo na pele muitas agruras, mas sempre demonstrando a força que apenas os seres iluminados demonstram ter.