LOS OLIMAREÑOS - RIO BRANCO - URUGUAI

Tem muita coisa que se passou nos vizinhos latino-americanos que não interessa ao povo brasileiro; seja por ignorância, seja por despeito. Costumamos dizer que as pessoas que nascem vizinhas do Brasil são nossos irmãos; em geral povos sofridos igualmente a nós, que ainda busca um pouco de conforto, seja na vida social, seja no comando de seus destinos.

Desde jovem que eu despertei para as causas populares, principalmente as políticas. Muitas vezes, lá no início de meus entendimentos, andei na contramão; mas isso a história se incumbiu de me alertar e apontar-me caminhos mais nítidos. Conheci muito jovem a Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Colômbia, Chile, dentre outros; e notei que estes povos sempre careceram de carinho político; muitos foram os que cantaram, escreveram e morreram pela liberdade política de seus países; alguns sobreviveram e não tiveram a sorte da fortuna, mas a fortuna da liberdade, mesmo que tardia; a liberdade de poder escrever, falar, cantar ou versar seus lamentos políticos.

Quando a guerrilha virou uma rotina desde o México até a Terra do Fogo, incluindo o Brasil, pessoas ficaram famosas, porque foram combatidas em seus próprios solos; proibidas de se expressarem; e algumas expulsas de suas próprias casas, seus países. Eu tive o privilégio de conhecer um punhado destas pessoas; algumas, quando regressaram de seus exílios e outras, muitos anos depois, quase em final de carreira; e quando eu cito “em final de carreira” é porquê hoje quase ninguém mais dá importância aos revolucionários das décadas de 60 e 70.

Assim foi a minha emoção de poder conhecer melhor a obra de “Los Olimareños”, um grupo uruguaio que é composto por Pepe Guerra e Lopez Braulio, com longa carreira popular em sua terra, na Argentina, Chile e extremo sul do Brasil.

O nome do grupo descende do grande Rio Olimar, que banha a cidade de Trinta e Três, onde surgiu a confraria entre dois velhos amigos. Eu estive num show de Los Olimareños em companhia de dois amigos queridos, o casal Neiva e Paganini, donos de um hotel no Rio Grande do Sul, mas que me franquearam convite para vê-los em Rio Branco, Uruguai. Um show simples onde a plateia se acomodou em cadeiras do tipo “praia” que eles próprios levaram e as puseram num gramado enfrente ao palco.

As letras cantadas por Pepe e Lopez refletem os sentimentos de pessoas comuns, como camponeses e outros trabalhadores; elas em geral falam de coisas da vida, das pessoas que influenciaram a carreira de ambos e do sofrimento dos uruguaios em épocas difíceis, como a ditadura.

Por conta destas emoções cantadas o grupo foi proibido pelo governo do país de cantar; uma de suas histórias mais interessantes foi quando eles viveram a experiência de serem intimados pela polícia através de um papel simples, datilografado, sem qualquer selo ou assinatura; coisas que somente a truculência militar retrógrada pode gerir.

Banidos de seu país os cantores viveram anos entre Espanha, Argentina e México, mas em 1984 eles retornaram a terra natal e cantaram para mais de 50 mil pessoas que estavam embaixo de forte chuva. Em 1990 eles se separaram e em 2009 voltaram a trabalhar juntos.

Hoje são amigos de Jose Mujica, o outro Pepe, Presidente do Uruguai e ex companheiro de lutas. Na posse de Mujica foram Los Olimareños que tocaram e cantaram durante a festa, uma homenagem jamais observada desde a formação do grupo.

Deixar este artigo em língua portuguesa é o mesmo que poder escrever um pouco da história de meu tempo, porque gente como Pepe e Lopez já não existem mais, muito menos pessoas jovens que ainda consigam entender a verdadeira essência destas canções maravilhosas que um dia alguém pretendeu mudar um país com cultura.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires é autor do Blog www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 25/01/2012
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