O ABAJUR

“Não é hora de acirrarmos o conflito,

mas de buscar formas de conciliação”

Eduardo Cruz – Físico e teólogo da PUC

Num domingo, depois do Fantástico, peguei jornais e revistas do dia para colocar-me a par dos últimos acontecimentos.

Chamou-me a atenção, em especial, a capa de Época : A ciência vai matar Deus ?

Aberta a revista na matéria “A igreja dos novos ateus – Por que um grupo de cientistas partiu para uma cruzada contra a fé no mundo “ , de Alexandre Mansur e Luciana Vicária , gastei uns quinze minutos lendo sobre origem da fé , existência ou não de Deus, como seria o mundo sem religião e o provincianismo neo-ateu.

Terminada a leitura, larguei a revista sobre o criado-mudo, na lateral de minha cama, e aconcheguei-me para dormir.

Mas minha atenção ficou presa ao meu abajur, um abajur de fibras ópticas, um feixe de fibras muito brancas, de cuja base, vértice de um cone truncado, sai um facho de luz, que dá um colorido, ora vermelho, ora verde, ora amarelo, ora azul, às extremidades finíssimas de cada um dos fios que compõem o feixe.

À primeira vista, a impressão que temos é a de que estamos vendo certa massa de pequenos pontos luminosos, centenas deles distribuídos sobre a superfície de certa massa de gel muito transparente , e que forma uma esfera em torno da base do feixe.

E então se fez, para mim, materializada, a analogia de nossa relação com Deus.

A Luz Branca ( Deus) , na base do feixe, a variedade de cores na superfície, sempre mutável, formando um céu multicolorido de estrelas ( nós, os seres humanos), e a ligação quase invisível entre Uma e outras. Naquele momento, senti, claramente, como Deus é parte inseparável de nós, e como, apesar de não percebermos, somos feitos da mesma Luz Divina. Senti o quanto, mesmo divergindo em cores , em lugares no espaço, somos tão semelhantes, tão complementares, tão partes do Grande Arquiteto do Universo.

Ali, numa geringonça simples, construída por mãos humanas de um operário, Deus estava representado, assim como o está em cada flor, em cada amanhecer, em cada som musical, em cada olhar, em cada relação de amizade, em cada inseto, em cada célula e em cada estrela, em cada galáxia.

E, então, achei mais ridícula, ainda, a tentativa de se opor ciência a religião ou vice-versa.

Reforçando a opinião de Marcelo Cavallari, registrada na mesma matéria da Época, peço aos homens da ciência e da religião que não permitam, como já ocorreu com o espírito cientificista que nasceu no século XX , que milhares de pessoas morram em atrocidades e massacres nazistas, comunistas ou de outras ideologias, que foram engendrados em sistemas de engenharia social destinados a reorganizar a sociedade segundo critérios científicos : não era a religião que movia Hitler, Stálin, Mão Tsé-tung, Pol Pot.

Sou contrário a qualquer tipo de fundamentalismo, de radicalismo, mas quero, religiosamente, continuar acreditando — apesar de não poder vê-los e nem provar a existência material deles — no amor, na amizade, no espírito do Natal, em Deus.

Aliás, Feliz Natal e um 2007 repleto de realizações a todos os leitores.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 09/01/2007
Código do texto: T340925