RELATIVIDADE
“A teoria da relatividade afirma que uma pessoa, dentro de um veículo fechado, não pode determinar, por meio de nenhum experimento imaginável, se está em repouso ou em movimento uniforme”.
Einstein
Neste final de ano passei a ter mais um motivo para ficar estressado : o controle da minha velocidade.
Nunca fui multado, em meus trinta e quatro anos de carteira nacional de habilitação , sempre obedeci à sinalização de trânsito, sempre fui um legalista : lei não se discute , cumpre-se.
Mas descer a avenida Leão XII, entre a Praça Assis Chateaubriand e a avenida Francisco Junqueira, com o pé no freio, em plenas sete horas da manhã, sem ninguém pela frente, e não poder ir a setenta por hora , é, simplesmente, um absurdo e incompatível com o momento em que vivemos.
Em qualquer avenida de Ribeirão Preto, a velocidade máxima deveria ser setenta quilômetros por hora, sem choro de dez por cento.
É assim na avenida Francisco Junqueira, no trecho que percorro entre a Rua Chile e a Plínio de Castro Prado: é impossível e irresponsável não defender a existência de radares inibidores dentro desse limite de velocidade.
Mas sessenta por hora, insisto, é um absurdo: cumpro a lei, mas não concordo com ela.
E, nesse cumprir a lei, não podemos nem mais conversar em algumas avenidas enquanto dirigimos, tendo em vista que, a qualquer descuido, passamos dos sessenta.
Aproveitei, então, num desses dias de ida ao trabalho, enquanto dirigia, para refletir sobre a velocidade que rege nosso cotidiano.
Por exemplo , fiquei pensando em como conseguíamos viver sem a internet, os e-mails, os sites de relacionamento. Calculei quanto tempo eu demoraria, há uns 20 anos, para enviar e receber o número de correspondências que, hoje, mantenho com centenas de pessoas, em questão de minutos.
Parei para dar passagem a uma carroça, e pensei em como as pessoas conseguiam viver sem um automóvel .
Fui, mentalmente, até os aeroportos brasileiros e imaginei o mundo sem os aviões : e são somente cem anos que nos separam de uma realidade plantada no chão.
Já na Francisco Junqueira, olhei pelo retrovisor e não vi ninguém buzinando ou piscando os faróis para eu andar mais depressa ou para sair da frente : e eu estava a setenta por hora.
Então, percebi que, quando ninguém pode andar mais depressa do que você , porque existe um limite estabelecido por lei ou pelo próprio desenvolvimento científico, todos passam a andar no mesmo ritmo: e, como Deus, após criar o mundo, vi que isso era bom e que tudo era relativo.
Isso era bom porque eu andava com mais segurança, isso era bom porque se algum louco , na cidade , a cem por hora, forçasse a passagem por mim, eu, simplesmente e dentro da lei, continuaria no mesmo ritmo, sem sentir que estava atrapalhando alguém: mas isso, vamos deixar bem claro, a setenta quilômetros por hora.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
EX-PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO