FUNDAMENTALISMO MIDIÁTICO
“ A imprensa é anã”
Mino Carta
Numa de suas palestras o jornalista Mino Carta, editor-chefe da revista Carta Capital e um dos fundadores das revistas Veja e Isto É — das quais saiu devido à mudança da linha editorial delas — disse que “ no Brasil, os fatos são mostrados como melhor convém àqueles que estão divulgando a notícia. Hoje em dia parece valer mais um gordo contrato publicitário do que a verdade dita sem censura, sem meandros , doa a quem doer. Por que não se diz a verdade ? “ .
Para Mino Carta , os donos da mídia parecem acreditar naquilo que eles mesmos mandaram seus repórteres escrever.
“ Nunca entendi porque grande imprensa. Eu a considero anã” , declarou ele, conseguindo traduzir em poucas palavras a subserviência da mídia nacional ao poder.
É terrivelmente preocupante quando, por motivos pessoais, o proprietário de um determinado jornal de Ribeirão Preto resolve cortar meu nome de todos os releases que lhe são enviados.
Fico a pensar : quantos outros nomes e fatos não estarão sendo cortados pelos mesmos motivos particulares ? Quantos outros tantos fatos não estarão sendo noticiados simplesmente porque o autor do texto ou o promotor do evento é amigo do dono, ou amiga da mulher do dono, ou , enfim , é alguma coisa de quem manda no jornal ?
É muito preocupante quando alguém que nem jornalista é, mas que por algum motivo chegou ao comando de um jornal, afirma que nos textos enviados ao seu jornal a menção a nomes de empresas foge totalmente ao fim dos textos que devem ser publicados e que esses são cortados, vez que essas menções atrapalham a sua área comercial ?
Qual será o fim de um texto sob o enfoque de um diretor industrial de um jornal ? Um texto perderia a sua finalidade caso seu conteúdo trouxesse para a comunidade uma informação sobre o papel cultural e cidadão de uma determinada empresa? E se a empresa em questão fosse uma grande anunciante do seu jornal ? Poderia ? O mesmo texto passaria a ter um fim ?
Graças às exceções na mídia ribeirãopretana, ainda consigo dar vazão à minha indignação e continuo acreditando na liberdade de imprensa, assegurada no parágrafo IV do artigo 5º. Da Constituição que garante a todos o acesso à informação .
O artigo 220 complementa o direito à liberdade de imprensa : “ A manifestação de pensamento, a criação , a expressão e a informação , sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição “ .
Será que o artigo 220 da nossa Constituição não pegou, como se costuma dizer, para alguns jornais de Ribeirão Preto que insistem em afirmar, da boca para fora — mas negando nas suas páginas — que a comunicação é a essência da liberdade e da democracia com a qual comungam e defendem ?
Palavras, palavras, vãs palavras. Mino Carta tem toda a razão.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
PRESIDENTE DA ARL-ACADEMIA RIBBEIRÃOPRETANA DE LETRAS