MEDO OU RESPEITO?
Sou um educador/disciplinador por acreditar que não existe possibilidade alguma de aprendizagem num ambiente em que não exista disciplina e respeito. É preciso manter-se um meio-termo entre o respeito à autoridade do professor e a liberdade concedida aos alunos, e não se permitir a subversão do senso de hierarquia, seja ele com relação ao juiz de futebol, ao policial militar ou a quem quer que esteja numa situação de manter as mínimas condições para que uma atividade seja desenvolvida com segurança, eficácia e eficiência.
Escola não é comércio, e educação não é mercadoria: não pode valer a lógica que diz que o freguês sempre tem razão porque nossos “fregueses” são crianças e adolescentes em fase de formação e precisam, e muito, de limites e regras para serem bem aceitos na sociedade onde deverão ser cidadãos inseridos e não marginais.
O colégio que procurar manter o aluno a qualquer custo, abrindo mão do seu direito de exigir dos pais colaboração para que seus filhos sejam alunos devidamente adaptados às mínimas normas sociais de relacionamento, com princípios morais e éticos básicos, abre mão também das condições essenciais que permitirão aos seus professores desempenhar o papel que realmente lhes cabe: ser um elemento motivador da busca de conhecimento e transmissor das experiências adquiridas pela humanidade no decorrer de sua história.
Infelizmente ainda existem pais que não percebem que passam para os filhos, com suas atitudes na relação com o colégio, péssimos exemplos: discutem, na frente dos filhos, as normas estabelecidas pelo regimento interno com as quais ele concordou no início de cada ano letivo; deixam o filho na escola com atraso ou vão buscá-lo mais cedo a qualquer tipo de pretexto, como se o horário de estudo, ou seja, a escola, não tivesse a menor importância; não querem nem ouvir os motivos que levaram à punição de seus filhos e, de antemão, já as consideram exageradas e despropositais; justificam sempre as atitudes deselegantes e desrespeitosas de seus filhos para com funcionários, professores e colegas de sala como sendo “coisas de adolescentes”; querem discutir critérios, sem conhecimento de causa, aplicados nas avaliações feitas pelos professores com relação à vida escolar de seus filhos, sempre achando que todo mundo tem tempo para ficar perseguindo seu doce e pequeno educando, sempre sedento de saber.
Recentemente um pai de uma jovem de 17 anos ameaçou processar um cantor por ele jogar objetos de seu uso pessoal para a platéia, uma prática antiga de artistas durante shows. Sua filha sofreu um acidente ao tentar pegar a toalha usada pelo cantor durante o espetáculo. O pai alega que o cantor é culpado porque não deve “ficar jogando coisas para o público”!
Pasmem. Em nenhum momento o pai sequer pensou que sua filha não é mais uma criança e que foi de seu livre arbítrio disputar no tapa a camisa do referido cantor. Em nenhum momento passou pela sua cabeça que é uma característica desse tipo de show esse tipo de ocorrência: Elvis jogava lenços, Roberto Carlos, rosas: e o zeloso pai quer que o mundo adapte-se à sua querida filhinha que não pode ver uma toalha famosa que perde a noção de risco e perigo.
Quando me perguntam se o que meus alunos sentem por mim é medo ou respeito, sinceramente não tenho uma resposta, mas posso garantir que não tenho e nem terei fobia escolar (distúrbio psicológico provocado pela indisciplina na sala de aula e se alastra, atualmente, entre professores) e que, quando já ex-alunos, adultos e maduros, na maioria das vezes reconhecem a importância de alguém que, como eu, um dia soube dizer não a qualquer tipo de comportamento que não levasse em conta o direito do outro, de também ter seus direitos respeitados.