NOSSO SUNDERBAS
“No fundo, sabemos que o outro lado de todo o medo é a liberdade”
Marilyn Ferguson
Estou com medo de abrir os jornais e revistas.
Apesar de os nossos governantes nos tratarem como Guido trata seu filho Giosué , no filme “A vida é bela” , a mídia não permite que venhamos a acreditar que estamos participando de uma grande brincadeira.
Somos ameaçados pela resolução 168 do Contran — os milhões de motoristas de todo o Brasil — de termos que voltar às salas de aula das auto-escolas para, em 15 horas e R$ 60,00 a menos no bolso , aprendermos sobre direção defensiva e primeiros socorros. O mesmo Contran ameaça-nos, também, com a resolução 157, tentando obrigar-nos à substituição de extintores veiculares, hoje o AB, por outros que , por coincidência , são mais caros que os atuais, e com discutível eficiência: os novos extintores , ABC, são de pó químico importado e nocivo à saúde (e ao bolso) e agressivo ao meio ambiente.
O governo Lula acena-nos com um reajuste da tabela de imposto de renda — em princípio era de 10%: uma miséria — que, na realidade, não vai passar dos 7% , e para vigorar somente para 2006.
A dívida do nosso município, Ribeirão Preto, que era de sete milhões de reais ao final de 2004, passou, com a troca de governo, a mais de 300 milhões uma semana depois . Nem a Nazaré — da novela “Senhora do destino” — nos tempos de prostituição, usou tanta maquiagem.
Durante as férias escolares , o pavor de deixar a residência durante uma semana, torna quase uma operação de guerra as medidas a serem tomadas para não sermos furtados.
As enchentes então, já estão produzindo, semanalmente, novos Noés que constroem barcos, levantam muros, suspendem paliçadas, e fazem balsas de tudo que possa flutuar, ao som de um simples trovoar anunciando chuva que deveria ser , simplesmente, uma qualquer de verão.
Enfim, somos constantemente ameaçados por inimigos invisíveis que nos atacam traiçoeiramente
Chego a sentir inveja dos homens do Sunderbas.
Esses homens vivem na Índia, numa região de Bangladesh, que é a maior reserva de proteção aos tigres.
Partindo do princípio de que os tigres só atacam as pessoas pela frente, eles usam máscaras coloridas na parte detrás da cabeça, para espantar os felinos.
Como já disse, chego a sentir inveja porque a única preocupação deles é realizar um ritual religioso e partir, depois, em busca do mel, nos mangues de uma floresta quase impenetrável, correndo um único risco: serem devorados pelos tigres.