À ESPERA DE UM MILAGRE
Nos colégios , estamos entrando no último bimestre do ano letivo .
A garotada , mais agitada que nunca , com conceitos ou notas faltando para fechar o ano , tentando a maioria , a todo custo , encerrar o ano sem a necessidade de um período de recuperação .
Nessas horas , quem nunca procurou saber da vida escolar dos filhos , aparece : e aparece , em geral, com pedras, foices , martelos , língua afiada , acusações sem fundamento , e uma enorme sensação de culpa , de dever não cumprido de pai , que se transforma em uma torrente de agressividade e intolerância na direção daqueles que , o ano inteiro ,. Trabalharam em busca do burilamento das pedras brutas que , em geral , são as crianças e os adolescentes frutos de famílias do século XXI que pouco tempo dispõem para educação chamada “de berço” .
Já sem muitos argumentos , gastos todos em longas conversas recheadas ora de carinho, ora de ternura , ora de palavras firmes , ora de desafios , ora de indignação , os professores partem para medidas mais radicais : a colocação para fora de aula dos alunos que não permitem , com sua falta de respeito para com os colegas , que eles recebam os ensinamentos necessários e merecidos .
E quando a punição implica em suspensão , então a coisa ferve : a maioria dos pais se revolta porque não querem seus filhos em casa , nem um dia sequer .
Alguns poucos pais , aqueles que confiam nos responsáveis pelo colégio e que aproveitam a suspensão para terem uma conversa séria , exigindo dos seus filhos uma conduta condizente com o ambiente escolar , esses não terão mais problemas até o final do ano .
Mas aqueles que , por motivos inconfessáveis , se revoltam contra as medidas disciplinares adotadas , esses terão que voltar muitas e muitas vezes à presença de autoridades que estarão buscando dar aos seus filhos aquilo que eles deveriam trazer de casa : respeito pelo outro , seja o outro colega de sala , professor , diretor , funcionário , orientador ou mantenedor .
Ouvir a cada dia , argumentações em defesa do jovens estudantes que não querem estudar — que não participam das atividades do colégio , que não param de conversar na sala de aula , que não cumprem as mínimas normas disciplinares e que em geral têm comportamentos decorrentes da instabilidade de lares desestruturados pelo mundo em que vivemos — levam-me , no final do dia , a me sentir como o personagem milagroso e misterioso , John Coffey , do filme “À espera de um milagre” , após a utilização de seus dons mágicos de cura : quero soltar toda a carga emocional boca-a-fora , como se fora um enxame de abelhas, e depois , deitar-me de lado, exausto , pedindo um tempo ao mundo , para descansar .
Os pais , ao final de um ano letivo , parecem estar à espera de um milagre — talvez mal acostumados com a tão criticada promoção automática — pois, só um milagre pode permitir a um jovem aprender alguma coisa sem o esforço e a dedicação exigidos para tal .