Imagens e Padrões de Beleza: O mito sobre o belo
Aldenia Silva¹
Sirlane Silva²
RESUMO
O presente trabalho é uma mostra de uma atividade desenvolvida no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, em Jacobina, ministradas pelas bolsistas de iniciação a docência do subprojeto Educação pela Imagem: Formação Cultural, Leitura e Escrita, vinculada ao PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência). O artigo desenvolvido apresenta um relato de vivência de uma intervenção realizada nas turmas de primeiro ano do ensino médio, no turno matutino, com a duração de dois meses, no referido Colégio, que teve como temática a discussão acerca do mito criado em relação à beleza na atualidade. A ideia do trabalho surgiu a partir de observações das aulas da disciplina Saúde e Bem Estar Social, de conversas com os alunos e com a professora da disciplina em questão. Percebemos que a maioria das pessoas busca uma beleza que maltrata, sufoca e destrói. Entendemos que o culto ao corpo e a perfeição já não é mais um privilégio apenas para os que possuem um maior poder aquisitivo, como outrora. Infelizmente, a sociedade passa por um processo de busca incessante ao corpo ideal, não respeitando, raça, crença ou classe social dos indivíduos. Muitas empresas apoiam-se em discursos que ora defendem a questão estética ora defendem a manutenção da saúde. Mas, o que se sabe, é que muitos indivíduos são induzidos a alcançar as exigências que são feitas para estar dentro do padrão de beleza aceitável na sociedade. De fato, podemos afirmar que a televisão foi um dos propulsores para que tal padrão de beleza fosse difundido pelo mundo. Através da divulgação de imagens de corpos perfeitos, estilo de vida diferenciado e glamoroso, a massa populacional teve acesso às novas tendências, que na maioria das vezes, não condiz com a realidade de todos. Mesmo assim, boa parte das pessoas incute a ideia de que, o apresentado na mídia, é o padrão que devemos seguir. Especialmente os adolescentes que se encontram numa fase de mudanças conflitantes e que por isso estão mais vulneráveis a esses valores.
ABSTRACT
The present work is a sign of an activity at the College Modelo Luís Eduardo Magalhães, in Jacobina, taught by teaching fellows initiation of subproject by Education Image: Culture, Reading and Writing, linked to PIBID (Institutional Bursary Start teaching). The article has developed an account of experience of an intervention performed in groups of first year of high school in the morning shift, which lasts for two months, in that College, which had as its theme the discussion about the myth created in relation to beauty at present. The idea of the work came from observations of classroom discipline Health and Welfare, from conversations with the students and the teacher of the discipline in question. We realize that most people seeking a beauty mishandling, smothers and destroys. We believe that the cult of the body and perfection is no longer a privilege only for those with a higher purchasing power, as before. Unfortunately, society is going through a process of incessant search for the ideal body, not respecting, race, creed or class of individuals. Many companies rely on speeches that sometimes advocate the aesthetic question now advocate the maintenance of health. But what is known is that many individuals are induced to meet the demands that are made to be within the acceptable standard of beauty in society. In fact, we can say that television was one of the drivers for such a standard of beauty was spread throughout the world. Through the dissemination of images of perfect bodies, distinctive lifestyle and glamorous, the mass population had access to new trends, which in most cases does not reflect the reality of all. Even so, most people that instills the idea, presented in the media, is the standard we should follow. Especially teenagers who are in a phase of conflicting changes and therefore are more vulnerable to these values.
PALAVRAS- CHAVES:
BELEZA, PERSUASÃO, SAÚDE.
1 O CULTO A BELEZA
“Não há dúvida que ela é uma pessoa física.
E adianto um fato: trata-se de moça que nunca se viu nua porque tinha vergonha.
Vergonha por pudor ou por ser feia?”(LISPECTOR, 1988, p.22).
Sabemos que os publicitários sempre buscam focar em um público alvo, e atualmente a bola da vez são os adolescentes. Estes são vistos como influenciáveis e bons consumidores. As fabricas estão sempre criando e lançando novos modelos de roupas e acessórios, e estes sempre seguidos por algum estereotipo, as farmácias lucram com inibidores de apetite, as indústrias de cosméticos com fórmulas milagrosas capazes de disfarçar e até sumir com marcas indesejáveis. A difusão e massificação do culto a beleza por meios das mídias aconteceu a partir dos anos 60, quando houve uma explosão na venda de cosméticos, pessoas fazendo dietas para ir de encontro ao corpo perfeito.
A busca por estar bela sempre foi algo presente na vida das pessoas, independente de sexo, idade ou nível social. Porém, a visão que se criou em torno desse novo padrão de beleza estipulado pela mídia só cresceu a partir da década de 60. Nos anos 40 e 50. As mulheres tidas como musas mundiais eram as atrizes tai como, Marilyn Monroe e Elisabeth Taylor. Elas chamavam à atenção por apresentar corpos robustos, com curvas e cintura fina. Esse padrão só veio mudar nos anos 60 com a modelo Twiggym ¹.
Para o filósofo francês Gilles Lipovetsky, a magreza foi uma forma de libertação para as mulheres, isso por que as formas robustas serviam como um símbolo de fertilidade e maternidade. Vale ressaltar, que no período do renascimento, as mulheres possuidoras de curvas e quadris mais “cheinhos” eram vistas como sensuais. A ideologia impregnada naquela época era que essas mulheres eram ideais para serem mães. Segundo Wolf (1992)
A "beleza" é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. Como qualquer, sistema, ele é determinado pela política e, na era moderna no mundo ocidental, consiste no último e melhor conjunto de crenças a manter intacto o domínio masculino. Ao atribuir valor às mulheres numa hierarquia vertical, de acordo com um padrão físico imposto culturalmente, ele expressa relações de poder segundo as quais as mulheres precisam competir de forma antinatural por recursos dos quais os homens se apropriaram. (WOLF, Naome, 1992. p.15).
Devido a essa ideia que elas aderiram tão rapidamente esse padrão de magreza excessiva. Porém o que era uma forma de “liberdade” passou a ser uma obsessão, sem controle.
No Brasil, um país conhecido por ter mulheres bonitas e de corpos avantajados também passa por esse processo de mudança de padrão. No inicio dos anos 90 tentou - se copiar ao máximo as tendências européias de ter na passarela modelos esqueléticas, à moda francesa.
O que ocorria de fato com as modelos brasileiras no exterior era a pouca valorização devido ao biótipo físico. Ter um bumbum naturalmente avolumado era para elas sinal de desemprego ou no mínimo teria o cachê reduzido.
No entanto, a brasileira Gisele Bunchen conseguiu chamar à atenção de uma das revistas de moda mais respeitada a nível mundial, a “Vogue Americana”, que a colocou no topo do mundo da moda, como sendo a padrão a ser seguido. Ela, que possui características que podem se encaixar no mundo real, e não somente nos status que até então era pleiteado pela indústria da moda. De fato, Gisele Bunchen conseguiu realizar uma verdadeira revolução no padrão estético do mundo da moda e até fora dele.
Mesmo tendo conseguido esse grande feito, ainda restava outro desafio a ser vencido, os transtornos alimentares. Como já sabemos essa ainda é a doença da vez. A anorexia e a bulimia estão constantemente presentes na vida dessas meninas, isso acaba influenciando também no mundo fora das passarelas.
O que a mundo feshion, esquece de divulgar que a anorexia e a bulimia são doenças graves e podem matar, pois 10 % dos casos referentes à internação acabam por resultar em morte. No Brasil e no exterior já existem projetos que visam vetar modelos que estejam muito magras de cruzar as passarelas, participar de eventos e até de campanhas publicitárias.
No entanto, ainda não se sabe como agir. Se é termos uma auto-aceitação do fato de estar “fora desse padrão” ou passar toda a vida fazendo dietas e ingerindo remédios em busca do corpo ideal? Na verdade, não interessa. Pois o ser humano deve buscar ser melhor do que a mídia quer promover. Invista na sua qualidade de vida, e não em um padrão ridículo.
Hoje a busca desenfreada chegou aos consultórios médicos dos cirurgiões plásticos. Muitos destes médicos demonstram estar preocupados com a busca desmedida pelo corpo perfeito. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, estimasse que aproximadamente 130 mil crianças e adolescentes no ano de 2009 já se submeteram a algum tipo de operações plásticas.
E é para atingir a “perfeição corporal” que muitos jovens, homens e mulheres são atraídos por métodos descabidos e até promessas irreais de emagrecimento sem sacrifícios.
Muitos deles são aconselhados provocar o próprio vômito, ingerir algodão e até deixar de alimentar-se para chegar ao padrão dito ideal pela mídia televisiva.
Este trabalho refere-se às aulas de intervenção realizada no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, nas turmas da 1ª Série de Ensino Médio, no bairro Tamarindo, na cidade de Jacobina no interior do estado da Bahia. O presente estudo desenvolveu-se a partir de observações feitas acerca dos jovens/ adolescentes, estudantes na referida escola. Observamos que grande parte dos estudantes (boa parte mulheres), não larga o espelho, seja em sala de aula ou nos corredores da unidade de ensino. As situações que descrevemos nas linhas acima, encaixam- se boa parte, nas experiências observadas a partir das jovens adolescentes do colégio em questão. As aulas foram observadas durante as atividades do componente curricular Saúde e Bem Estar Social, na qual desenvolvemos um plano de atividade, no intuito de tentar analisar e romper com estereótipos de beleza estabelecidos.
Neste rápido estudo de caso, almejamos despertar o lado crítico de cada indivíduo acerca de como está sendo trabalhada a formação do aluno em relação ao padrão de beleza que é tão discutida e almejada. Nesse sentido, é interessante relatar algumas experiências vivenciadas no período de observação frente à prática docente.
Percebemos que não podemos descartar as discussões sobre as imagens e os padrões de beleza, uma vez que estamos trabalhando com um público jovem e extremamente vaidoso. Os conteúdos que exploramos nas intervenções, partiram desde conceito sobre beleza em diferentes épocas, ao trabalho com músicas, que se referem a mulheres como meros objetos. Tendo como exemplo a música Vaza Canhão do grupo de pagode Black Style, desenvolvemos um trabalho com os alunos de representação da mulher através de um desenho. Ou seja, os alunos deveriam apresentar uma imagem acerca do perfil de mulher apresentada na música.
A priori, poderíamos nos questionar em que aspecto a música tem ligação com os padrões de beleza ditados pela sociedade, porém, uma aluna respondeu bem ao mencionar que:
- “a música não tem haver com os padrões de beleza, porém a letra da música fala o que a mulher é se não conseguir alcançar o padrão de beleza exigido” (Dali*).
É interessante e ao mesmo tempo lastimável analisar como o processo de discriminação é tão forte e maquiado ao ver que um grupo faz uma letra de música tão degradante e alienante.
O que vemos de mais “gritante” é constatar que a discriminação na sociedade está tão imbricado que várias pessoas vêm cantando a música como se fosse uma sinfonia que engrandecesse o intelecto do indivíduo, sem dar-se conta de que a letra da música está difamando e depredando todas àquelas mulheres que não seguem o padrão de beleza exigido e apresentado pela mídia. Observemos uma pequena parte da letra da música trabalhada com os alunos:
Eu conheci uma menina na Internet
Ela me disse que era um verdadeiro avião
Eu marquei um encontro com ela na avenida sete
E quando eu vi a menina pirei o cabeção
Ela tem cara de jaca
Nariz de xulapo
Estria nas pernas
Bunda de peteca
Perna de alicate
Cabelo de asolã
Ela é caolha
Tem unha encravada
Boca de desdentada
Barriga dobrada
Tirando a camisa o peito batia no chão
Ela é corcunda,
Desengonçada
Cintura de ovo
Com a cara manchada [...]
Os alunos fizeram um retrato da mulher apresentado na música e observaram quantas ofensas que havia em relação à beleza feminina. A linguagem empregada na canção era desprezada, uma vez que os próprios alunos afirmaram que o que importava era somente o gingado, o suingue, o toque.
Pensando no subprojeto Educação pela Imagem, e o foco do mesmo que é o trabalho com o texto imagético, objetivamos com a atividade supracitada desenvolver as habilidades dos alunos recorrendo à memória para transportar para o papel a maior quantidade possível de detalhes sobre a letra da música apresentada.
As imagens abaixo é uma pequena demonstração do que foi apresentado e discutido com os alunos das turmas da 1ª Série do Ensino Médio:( Imagem não disponível nesse site)
Diante do que foi apresentado pelos estudantes, verificamos que as discussões foram bastante pertinentes, pois, em determinados grupos observamos que havia jovens que sofriam preconceito, descriminação por não se enquadrar no padrão de beleza que muitos se encontravam. As imagens chocaram os estudantes uma vez que muitos não paravam pra refletir o quanto a obsessão pelo corpo perfeito poderia afetar a saúde.
Juntamente com as imagens, apresentamos vídeos que mostravam uma beleza totalmente “manipulada”, fotografias que apresentavam a degradação do corpo e a beleza “fabricada” a partir da utilização de programas de computadores que modificam partes do corpo de muitos artistas, modelos, etc. O que é apresentado pela mídia na maioria das vezes, é somente “casca”, levantamos questões para os alunos a respeito do vídeo, tais como: até que ponto o que vemos nas revistas, propagandas, televisão é verdadeiro?
As imagens acima estão relacionadas à anorexia, uma doença causada devido à busca incessante pelo “corpo perfeito”. O que desenvolvemos nas aulas da disciplina de Saúde e Bem Estar Social ajudou aos alunos a realizarem pesquisas em relação a outras doenças e também a refletirem sobre o quanto é ariscado o uso de medicamentos e dietas sem orientação de um profissional responsável.
1.1 A NECESSIDADE DE CONSUMO
“O consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção”. (Adam Smith)
Discutir o conceito de beleza é uma necessidade para os jovens da contemporaneidade. Vivemos em um mundo de tendências, a cada ano ou estação, um determinado grupo, lança uma nova coleção e apresenta à sociedade o que é “certo” vestir. A maneira como é apresentada é tão marcante que acabam incutindo nas pessoas o que elas devem ou não usar. O discurso que ouvimos nas ruas, casas ou escolas é padrão: “é moda? Se é moda, temos que usar!”. A partir daí, começa o consumo desenfreado por tudo que é apresentado nas vitrines. Vale ressaltar, que esse consumo não se limita apenas em roupas e calçados, ele perpassa por outros espaços, incluindo a estética, que em muitos casos, acabam por afetar a saúde devido ao consumo exagerado de remédios emagrecedores ou cirurgias desnecessárias. Mal sabem as consequências que a ingestão desses remédios pode causar a saúde.
O conceito sobre beleza é subjetivo. O que é belo para uns, para outros pode ser assombrador. Mesmo assim, as pessoas tentam ao máximo se adequar ao que está exposto nas capas de revistas. Adotar um padrão de beleza midiático é de certa forma, se eximir de características que são próprias de cada um. As imagens sobre padrão de beleza torna-se um mito sobre o que é belo devido à maneira que a mídia apresenta tais imagens. As imagens que são popularizadas atormentam as pessoas fazendo com que as mesmas percam o prazer de viver. Isso acontece, devido à busca incessante por um “modelo” apresentado que está distante da realidade de muitos.
A partir de mostra de imagens acerca da boneca Barbie, objetivamos discutir com os alunos de maneira crítica as formas de divulgação de padrões de beleza feminina e como cultura e consumo se confundem nos dias atuais.
Imagem 1 Imagem 2
A boneca Barbie foi colocada como padrão feminino. Por muito tempo, foi um dos brinquedos mais “populares” desde sua criação, a boneca transformou-se no símbolo cultural, isso devido ao desejo de consumo de muitas meninas e adolescentes nas mais diversificadas culturas.
A discussão sobre a mostra da imagem teve como ponto de partida algumas questões:
- Será que somos escravos do consumo, repetindo o que a mídia e a moda ditam?
- Quem já teve a boneca? Gostavam dela por quê?
A finalidade era chamar a atenção da turma para confirmar ou não se a boneca era um modelo de estética e beleza a ser seguido. Sem contar que a boneca ganhou versões negras, porém, essas, nunca tiveram o mesmo sucesso que a boneca na versão loira.
A frustração por não poder consumir/possuir determinado produto provoca no indivíduo, a sensação de menosprezo, desgosto, inferioridade. É isso que acontece com aqueles que fazem de tudo pela busca do corpo perfeito. Homens, mulheres, jovens e adultos, todos, estão inclusos na “corrida” a procura da imagem ideal. Sem dúvida, as mulheres e adolescentes são as que mais “sofrem” com a pressão que é colocada acerca da beleza. Segundo Augusto Cury (2005)
Cerca de 600 milhões de mulheres sentem-se escravas dessa masmorra psíquica. É a maior tirania de todos os tempos e uma das mais devastadoras da saúde psíquica. O padrão inatingível de beleza amplamente difundido na TV, nas revistas, no cinema, nos desfiles, nos comerciais, penetrou no inconsciente coletivo das pessoas e as aprisionou no único lugar em que não é admissível ser prisioneiro: dentro de si mesmas (CURY, 2005, p.06).
Várias pessoas se apegam tanto ao que “supostamente” é colocado como o belo, perfeito, que acabam se privando até mesmo de sair nas ruas por se sentirem excluídas devido à estrutura de seu corpo.
Enquanto os sujeitos da sociedade entram em pânico na tentativa de conseguir a imagem padrão da beleza, as indústrias trabalham com vigor, em busca de formar uma sociedade puramente consumista. As jovens dos dias atuais, já estão inseridas nesse processo de produção e consumo, pois, o que percebemos a cada dia, é a redução da idade estabelecida para o uso de alguns produtos embelezadores.
Como menciona a escritora Naomi Wolf (1992), a beleza é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. O mesmo é determinado pela política, e complementa a sua opinião afirmando que
“as indústrias da dieta e dos cosméticos passaram a ser os novos censores culturais do espaço intelectual das mulheres. Em conseqüência das suas pressões, a modelo jovem esquelética tomou o lugar da feliz dona- de - casa como parâmetro da feminilidade bem- sucedida. A revolução sexual propiciou a descoberta da sexualidade. A pornografia da beleza – que pela primeira vez na história da mulher liga uma beleza produzida de forma indireta e explícita à sexualidade – está em toda parte, minando o sentido recém- adquirido e vulnerável do amor- próprio sexual. [...] As mulheres insistiram em dar um caráter político à saúde. Novas tecnologias de cirurgias estéticas potencialmente fatais foram desenvolvidas com o objetivo de voltar a exercer sobre as mulheres antigas formas de controle médico” (WOLF, 1992, p. 13) (sic).
Percebemos, no entanto, que apesar das conquistas alcançadas pelas mulheres com o passar dos tempos, as mesmas vivem em uma luta constante sobre o mito do belo. Os depoimentos que ouvimos dos estudantes que trabalhamos é surpreendente (estamos falando de adolescentes de 15 a 17 anos) que já possuem uma preocupação com a estética/ beleza. As frases abaixo são alguns depoimentos que recordamos no momento das discussões:
- “tenho medo de ficar como minha mãe” (Paula²)
- “Claro, quem quer ficar olhando pra uma gorda? Só se for pra dar risada” (Filipe*)
- “Já fiquei sem comer para perder peso” (Roberta*)
- “Quando eu fico nervosa é o momento que mais como” (Cris*)
Frases como essas é que levam muitos ao consumo de remédios, a regimes sem orientação médica. O mais agravante de tudo isso, é que não estando satisfeita com o corpo, as jovens e tantos outros, partem para o consumo de tudo que lhes indicam que é “bom para perder peso” é “bom para tirar manchas” etc...
A visão que Cury (2005, p. 7) mostra a respeito do consumismo e a busca pelo “padrão de beleza” é que os empresários trabalham e formam “uma sociedade de consumo inumana, que usa o corpo da mulher e não a inteligência, para divulgar seus produtos e serviços, gerando um consumo erótico. Esse sistema não tem por objetivo produzir pessoas resolvidas, saudáveis e felizes; a eles interessam as insatisfeitas consigo mesmas, pois quanto mais ansiosas, mais consumistas se tornam”. A questão é, pois, se analisarmos mais detalhadamente o capitalismo é o sistema que rege a nossa sociedade.
A necessidade excessiva pelo consumo leva muitas pessoas a caírem em “armadilhas” e sem perceberem acabam sendo prisioneiras para sempre. Esse é um dos motivos que levam tantos a estarem inseridos no grupo dominados pelas imagens que são apresentadas por modelos esqueléticas em passarelas. As mesmas ficam doentes por causa de alguns transtornos alimentares tipo: anorexia e bulimia. Esses transtornos se não tratados inicialmente levam a consequências fatais.
Como já mencionamos inicialmente, a aparência ou até mesmo o culto ao corpo não era tão almejado por indivíduos que experimentam hoje uma crescente preocupação com a imagem e a estética. O culto ao corpo representa uma grande preocupação às classes sociais e faixas etárias. Transformações, sacrifícios, costumes, modismo e a influência da mídia sobre o corpo na sociedade de consumo apoiada em um discurso sobre a questão da estética e da preocupação com a saúde, marcada pela distinção social, que coloca o consumo alimentar, cultural e forma de apresentação como os mais importantes modos de distinguir os indivíduos.
NOTAS
¹ Twiggy - O ícone dos anos 60 marcou o mundo com sua imagem andrógina, corpo muito magro e pequeno(o nome vem de “Twig”, graveto em inglês), cabelos loiros e muito curtos, olhos enormes e sempre realçados com forte rímel, além de cílios postiços.
² * Nome fictício inventado para exemplificar a fala de algumas alunas e alunos do colégio onde ocorreram as intervenções.
REFERÊNCIAS
CURY, Augusto Jorge. A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres. - Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. 1ª Ed, Rocco. –Rio de Janeiro, 1998.
SMITH, Adam. Riqueza das Nações. Lisboa: Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 1981 e 1983. 2 vols. Disponível em: www.wikipedia.org. Acesso em: 20/10/11.
WOLF, Naomi, O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Tradução: Wanderléia Barcellos. – Rio de Janeiro: Rocco, 1992.