UMA DECLARAÇÃO DE AMOR

“É impossível ver o reflexo da Lua em águas turbulentas”

Pensamento zen

Dez horas da noite .

No meu quarto , ao lado de minha esposa , acompanho já, meio sonolento, os últimos lances de um jogo de futebol.

Nesse fim de um longo dia de um Orientador Educacional , permeadas suas horas por encontros e desencontros com alunos , professores , pais de alunos , eu já me preparava para o processo diário de levantamento de tudo que ocorreu no dia : uma auto-avaliação antes da meditação noturna.

Tocou o telefone , e, do outro lado linha, minha filha , recém casada , com uma voz doce e cheia de emoção, disse que nos amava , a mim e à sua mãe.

A declaração inesperada , sem algo de concreto que a justificasse naquele momento , só me permitiu responder que também nós a amávamos muito.

Meu primeiro ímpeto foi o de ligar novamente para ela e perguntar o motivo daquela demonstração de amor tão incomum, hoje em dia, entre pais e filhos , apesar de que eu nunca perdi a oportunidade de dizer a ela que a amava : resisti à tentação porque poderia parecer indelicado.

Passada, porém, a sensação agradável de sentir reconhecido nosso amor de pais , que levou a tão forte relação entre minha filha e nós , pensei em como, nas minhas orações, eu estava complicando minhas conversas com meu Pai.

E resolvi , na manhã seguinte , acrescentar às minhas orações à Virgem Maria e a Deus , a frase de minha filha que não saía de meus ouvidos : eu amo Vocês.

Nada pode ser mais agradável, nada mais sublime , nada mais tocante do que essa manifestação de uma filha , aos ouvidos de quem conseguiu manter , durante toda a sua vida de casado , um lar tranqüilo, sem agressões mútuas, sem inseguranças de relacionamentos fora do lar , sem a interferência das drogas e com a presença constante de uma crença religiosa.

E não pensem alguns que não fui rigoroso.

Tive momentos em que não transigi como pai , e , quando crianças , meus filhos levaram algumas boas palmadas quando as palavras não eram suficientes para fazê-los entender que eu os preparava para enfrentar um mundo que não seria sempre condescendente com seus defeitos e falhas pessoais.

Mas também sempre estive presente em todos os momentos deles : um porto seguro a qualquer hora do dia ou da noite. Muitas foram as vezes em que parei meu trabalho ou interrompi meu programa preferido na TV para conversar sobre dificuldades no colégio, dúvidas amorosas , sexo , droga , bons modos , regras de boa convivência , direitos e deveres, papéis de cidadão , civismo , cultura e educação.

Acredito que tenha valido a pena.

Meus filhos , eu também amo muito vocês.

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 12/07/2005
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