AS TRANSFORMAÇÕES
Já no crepúsculo deste dia 5 de outubro do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e onze, minha mente dá uma revoada no tempo e no espaço, buscando algum tema para ocupá-la, e me veio a vontade de comentar as transformações que o decorrer dos muitos anos que Deus, por sua mercê, me há concedido viver, tenho testemunhado. Essa vontade se tornou irresistível quando abri uma mensagem recebida de minha filha Simone sobre a Paris de 1900, com a visão da Avenue Nicolas II, Boulevard de La Madeleine, Champs de Mars, Place de Bastille, Avenue Champs Elyssées e outros panoramas realmente muito bonitos, até com um certo aspecto de nostalgismo, tudo sob o fundo musical da bela canção “Hier Encore”, na maravilhosa interpretação de Charles Aznavour. Nunca a história da civilização experimentou anos de transformações sociais, de costumes, tecnológicas e científicas, inclusive na medicina, tão rápidas e surpreendentes como depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) até os tempos atuais - com indicações de que serão doravante ainda maiores.
Recordo bem a tarde em que meu irmão José Augusto Rodrigues, então cursando a Faculdade de Direito do Ceará, já reservista do Exército Nacional desde 1934 - através do Tiro de Guerra 42, obrigação que eu cumpriria em 1942; pois bem, José chegou em casa, numa tarde de setembro daquele ano (1939), com essa notícia: estourou a segunda guerra mundial, a Alemanha invadiu a Polônia. Meu pai ficou muito preocupado, preocupação que aumentaria depois que o Presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1942, declararia guerra à Alemanha, Itália e Japão. Em 20 de janeiro de 1943, o Presidente brasileiro teria um encontro histórico, em Natal, com o Presidente Roosevelt, dos EUA. De fato, à declaração do Pres. Vargas seguiu-se a convocação militar no nosso País e no nosso Estado. Muitos conhecidos nossos e vários amigos meus foram chamados, e seus embarques para Natal eram sempre festivos, como acontecimentos cívicos, com a presença de autoridades, banda de música municipal tocando marchas militares (Cisne Branco e outras) em frente à Amplificadora Municipal, na Praça Vigário Antônio Joaquim, com discursos saudando os novos “pracinhas” e, finalmente, hasteamento da Bandeira do Brasil ao som do Hino Nacional e muita gente chorando. Muitos convocados chegaram a lutar bravamente nos campos da Itália, outros foram apenas até o Rio, outros ficaram em serviços burocráticos em Natal, e outros mais guarnecendo a nossa costa.
Essa guerra durou até 1945. Findo o grande conflito, com a derrota dos Países do Eixo - Alemanha, Itália e Japão, que capitulou assim que teve duas de suas principais cidades – Hiroshima e Nagazaki - dizimadas por bombardeio atômico, a primeira na manhã de 6 de janeiro de 1945 e a segunda no dia 09, três dias depois. A Alemanha do caricato “Fuhrer” e a Itália, do burlesco “Duce”, foram derrotadas. Alguns anos depois do fim dessa catástrofe provocada pelo fanático ditador da Alemanha, calculou-se o total de mortos em 60 milhões, inclusive 6 milhões de judeus mortos nos campos de concentração da Alemanha nazista.
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Eu nasci no ano de 1924, numa cidade do Nordeste do Brasil, o “País de Mossoró”, como chamava o Prof. Vingt-um Rosado - de costumes muito tradicionais, de população muito apegada a rígidos preceitos. Ainda naquela década chegariam à cidade os primeiros automóveis, espantando muita gente. Anos mais tarde surgiu o rádio, quase inaudível, ainda na década de 50 apareceriam as primeiras TVs, em preto e branco, com péssimas imagens. Outras novidades foram surgindo: os teco-tecos, as primeiras linhas aéreas ligando Mossoró a algumas capitais, até as do Sul (Rio e São Paulo), facilitando a modernização dos costumes.
Essa modernização se acelerou depois que terminou a 2ª Grande Guerra. Aquilo que parecia impossível acontecia: o surgimento da “camisinha”, das pílulas anticoncepcionais, dos primeiros motéis, das escolas mistas noturnas, com as moças chegando em casa tarde da noite com seus namorados, até o que hoje se vê: as mini-saias, os biquínis, os monoquínis, as praias de nudismo e outras coisas inimagináveis décadas atrás. As festas nos salões residenciais e nos clubes sociais, com orquestras ao som de valsas, boleros, foxes, sambas e outros ritmos, acabaram-se, a maioria dos mais idosos se recolheu e a juventude criou os bailes fanks, a droga contaminou nossos jovens, a violência assombrou a população que cercou de grades de ferro as suas casas ou as trocou por apartamentos.
Substituindo as velhas máquinas de escrever, surgiram os primeiros computadores, na década de 1940, que foram sendo aperfeiçoados até aos modelos que conhecemos atualmente, com impressoras e internet, o que constituiu uma genial invenção. Dos telefones com bateria e acionados a veio, como conheci na agência de Mossoró, ligando-a, através de fios, aos principais clientes, vieram os telefones fixos urbanos controlados por uma central, mais tarde os interurbanos, até os que nos permitem hoje falar com alguém internacionalmente. Logo vieram os primeiros telefones celulares, que hoje se tornaram aparelhos populares, até os impressionantes iphones, modelos tão sofisticados como o novo 45, que informa até a previsão do tempo, que muita gente não sabe utilizar, inclusive eu. Hoje, com um aparelhozinho portátil se contata – vê e conversa - com alguém que esteja em qualquer país estrangeiro, faz-se todo tipo de cálculo, transação bancária e outras... É útil em qualquer tipo de profissão. Na medicina, o avanço científico tem tido incrível evolução.
Agora, talvez caiba a pergunta: a vida melhorou? Não sei responder. Para alguns, sim, porém a maioria das pessoas provavelmente responda não. Embora se vá, em vôo direto daqui a Nova York, a Roma ou outra distante cidade do mundo, se faça uma cirurgia difícil em pouco tempo, quase sem corte, ou uma grande transação bancária via Internet, se locomova em carros superluxuosos e fortes, vive-se apavorado com a violência, escondido em confortáveis gaiolas de ouro.
Vou parar por aqui porque, para discorrer sobre assunto tão amplo e complexo demanda falar muito tempo e muito espaço, sobretudo um mais vasto conhecimento, o que me falta, mesmo recorrendo a pesquisas.