O ESPIRITISMO SEGUNDO RUI BARBOSA
O ESPIRITISMO
SEGUNDO
RUI
BARBOSA
“Quantas outras, não somos nós os que vamos chamar esses leais companheiros de além-túmulo, e com eles renovar a prática interrompida, ou instar com eles por alvitre, em vão buscando, uma palavra, um movimento do rosto, um gesto, uma réstia de luz, em traço do que lá se sabe, e aqui se ignora”. Rui Barbosa
Muito antes de receber o honroso encargo de prefaciar a primeira edição da excelente obra do Sr. Sérgio Valle – “Silva Mello e os Seus Mistérios” – em um de nossos encontros, então quase diários, nas oficinas da Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, na qual deixamos trinta anos de trabalhos e de recordações amigas, onde oi composto, revisto e impresso o mencionado livro, fôramos interrogado pelo saudoso Autor sobre a precisão e a autenticidade da “celebre carta” do Professor Charles Richet remetida, confidencialmente, ao seu colega e opositor amigo Professor Ernesto Bozzano, traduzida e publicada em um de nossos trabalhos, impresso em 1947.
O Professor Ataliba Nogueira, na brilhante conferência intitulada “Ruy Barbosa em Campinas”, publicada no “Jornal do Comércio”, de 8 de novembro de 1949, extraímos o seguinte fato:
“Ainda na aprazível estância hidromineral, ocorreu fato curioso recordado pelos íntimos com acento de graça. Estava em voga, àquele tempo, uma espécie de distração, à noite, de modo algum consoante com as leis religiosas, porém que as Senhoras praticavam como se fosse inocente jogo de damas.
Consistia em colocar sobre uma mesinha de três pés um grande circulo de papelão com as letras do alfabeto escritas, uma a uma, em recorte dentado. Lalá, Úrsula, Carlota, Baby, Ruy Barbosa e a filha dum relator do “Jornal do Comércio”, do Rio, sentavam-se em redor da mesa e colocavam a ponta dos dedos sobre um cálice que, por ação misteriosa – segundo diziam – parava ante esta e aquela lêtra. Alguém ia anotando as letras num papel. Formavam-se, assim, palavras e frases, avidamente lidas pelos circunstantes.
Resta lembrar que tudo correspondia às perguntas formuladas por alguma das moças presentes, quase todas versando sobre qual delas se casaria primeiro, as iniciais do noivo, seus traços fisionômicos, se era louro ou moreno, se era solteiro ou viúvo, fazendeiro ou não. No geral as respostas provocavam mais que risos, gargalhadas e comentários alegres.
Certa noite, porém, Batista Pereira, que assistia a “sessão”, de pé, disse que o cálice estava denotando alguma inquietação, manifestando com isto ter que revelar algum segredo. Sentou-se à mesa e também colocou a ponta do dedo sobre o cálice de cristal, o qual, de maneira rápida, começou a percorrer o alfabeto, com algo de nervosismo por parte das moças e senhoras que participavam da operação. Ao lado, outra moça apontava letra por letra, dizendo nada entender, porém várias vezes havia o nome de Ruy, no apanhado gráfico.
O conselheiro já se havia recolhido muito cedo, feita a leitura dos jornais de São Paulo, que chegavam após o jantar.
Terminado o escrito, verificou-se que era uma mensagem em inglês, dirigida por algum “espírito” ao ilustre hospede. Ficaram todos estarrecidos e, diante da indecisão geral, Batista Pereira opinou que deviam leva-la incontinenti a Ruy.
Batem à porta, o Conselheiro de pijama recebe o papel e fica emocionado:
-“É o estilo dele, o estilo perfeito. E o assunto! O mesmo que conversamos em nossa despedida em Haia. Mas, é possível ... trata-se de William Stead – explica Ruy – o meu amigo é grande jornalista inglês, cuja morte os periódicos noticiam, hoje, no afundamento do navio “Titanic”. E ele acreditava nestas histórias de Espiritismo!”
Os Simples e Os Sábios
Pedro Granja