Em busca da realidade
As primeiras linhas da história do fidalgo de La Mancha, mais conhecido como Dom Quixote, são fascinantes, pois já começam com o surto do fidalgo. Surto esse causado pelo seu relacionamento com os livros de cavalaria. De tanto lê-los passou a imaginar sua vida a maneira retratada nos livros. Diante disso Dom Quixote cria para si um mundo regido por suas utopias.
E quem pode dizer que nunca em algum momento da vida não teve um surto quixoteano? Quem nunca viajou até o mundo da lua como o Lucas Silva e Silva? A verdade é que sobrevivemos ao mundo real por causa do mundo irreal que criamos. Diante disso a grande questão que surge é: queremos tornar realidade aquilo que imaginamos ou querermos apenas continuar no refúgio utópico?
É bem verdade que estamos diante de muitas de nossas utopias como o Coringa e parecemos um cachorro perseguindo um carro, mas que não sabe o que fazer caso consiga pegá-lo. Passamos tanto tempo imaginando, sonhando, desejando e quase tempo nenhum vivendo, obtendo, tudo porque resolvemos perseguir carros ao invés de algo mais concreto, realmente palpável como um pedaço de osso por exemplo.
Sim, nossas utopias nos ajudam a viver. Os sonhos são a razão de acordarmos na segunda-feira. Mas não se pode deixar de viver, afinal, utopia é algo na imaginação, já a vida é algo real. Corremos o perigo a exemplo do Dom Quixote de viver uma vida de ilusão, onde nada é o que realmente é. Hora ou outra será preciso desconectar o cabo e sair da matrix, fechar os livros e abrir os olhos.
Todo Dom Quixote precisa acordar de seu devaneio e ver que moinhos são apenas moinhos e não gigantes. Enxergar que sua amada Dulcinéia só existe em sua própria mente. O acordar pela manhã existe justamente para nos dar oportunidade de tornar realidade àquilo que foi sonhado durante a noite. A beleza da vida está justamente em podermos vive-la e não somente imaginá-la.
Dizem que sonhos não envelhecem, concordo, mas homens sim. Nenhum dos homens que realizaram grandes feitos, ficaram presos a suas utopias, antes, foram a luta em busca de uma realidade, ainda que não a semelhança daquilo que se era sonhado, mas antes uma realidade do que realidade nenhuma. A busca pela realidade será marcada também pela tomada de consciência de que muitos de nossos sonhos não passam de devaneios nossos. Não tome esses pensamentos desconexos com pessimistas (talvez eles realmente o sejam), tome-os como um desafio de se romper a barreira da ilusão e partir para o campo da concretização. De nada vale ler e assistir romances se não se tem a oportunidade de vivê-los. E muitas vezes para que isso aconteça é necessário fechar os livros, desligar a TV, desconectar-se do mundo ilusório e abrir-se para o que a vida tem para nós.
Creio estar ouvindo da vida um grande ACORDE! Pois sonhar é bom, mas viver é melhor.