Livre Exame
Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006)
Sábado 09 Abril de 2005 às 15:48:50
Prezados leitores,
Diz um católico, em meio a uma discussão com um pregador protestante: “Mudarei de religião se o senhor (pastor) provar que a sua interpretação da Bíblia é, INFALIVELMENTE, a correta e não a da Igreja Católica”. E mal o pastor começou a dizer: ‘Pois eu vou provar...’, o católico redargüiu: “Mas o sr não acabou de dizer que nenhum homem é infalível, criticou até a existência do papa católico! Ora, se nenhum homem é infalível, sua interpretação, ou de qualquer outro pastor, pode estar errada; tanto ou até mais do que a de um papa católico (que o senhor afirma ser falível, porque é homem como o senhor)”. E completou: “E não me venha dizer que é a Bíblia que está ensinado essa ou aquela doutrina de sua “igreja”, pois, na verdade, esta é a ‘sua’ interpretação do que está contido na Palavra de Deus”... “Para um luterano, a Bíblia pode dizer uma coisa; já para os batistas, ela estaria dizendo outra. E só para exemplificar, vejamos o caso do batismo de criança, interpretada diferentemente por esses dois grupos do protestantismo: um aceita-o; o outro, rejeita-o. Ambos, entretanto, alegam estarem fundamentados na única e mesma Escritura Sagrada. No fundo, portanto, não é a Bíblia quem fala, mas os diferentes intérpretes que estão a falar a partir dela (e por ela).”
E continuou dizendo ao pregador protestante: “E ambos afirmam que é a Bíblia que ensina a rejeitar o batismo de crianças, no caso dos batistas; e a praticá-lo, no dizeres dos luteranos. Vê se pode uma coisa dessas! Então, dentro do protestantismo é ensinado o ‘sim’ e o ‘não’, concomitantemente e malignamente, contrariando a vontade do Senhor Jesus; ou estou enganado?”
E mais ainda: “Se nenhum protestante (ou grupo do protestantismo) pode se arrogar ter a faculdade da infalibilidade; como poderia condenar qualquer doutrina católica? Explique-me!” “Nós (católicos) pelo menos temos a coerência de confessarmos a infalibilidade no nosso meio e, por isso, podemos contestar ensinamentos divergentes dos nossos. Mas vocês, que se confessam falíveis, [ou não confessam (pelo menos da boca para fora)?] como quererão corrigir quem quer que seja?” “Que autoridade vocês têm para tanto?”
b) Prossigamos no vislumbre de mais incoerências do protestantismo... Se os da rebelião protestante defendem que cada um tem o direito de livremente examinar a Bíblia, dando cada qual sua particular interpretação; por que, ora bolas, contestam a interpretação dos católicos romanos? Ou será que o “livre” exame das Escrituras é válido, desde que as interpretações sejam “obrigatoriamente” do jeito que eles pensam? (Se for assim, que maravilha de LIVRE exame é esse que eles inventaram! Brilhante! Coisa de gênio!)... Só restaria, agora, saber qual das infindas interpretações sectárias é a correta? (Já que há mais de 30 mil denominações protestantes, e cada dia aumenta mais.)
c) Bem lembra o Prof. Felipe Aquino, citando uma obra de John O’Brein, que: “Lutero começou declarando que a Bíblia podia ser interpretada por qualquer um ‘até mesmo pela humilde criada do moleiro; antes, até uma criança de nove anos”. Mais tarde, no entanto, quando os Anabatistas, Zwinglianos e outros contrariaram as suas vistas, a Bíblia tornou-se para ele “um livro de heresias”, muito obscuro e difícil de entender”[AQUINO, Felipe Rinaldo Queiro de, A minha Igreja, Editora Cleofas, Lorena-SP, 1997, p. 138].... Bela descoberta fez o “doutozinho” do Lutero que achava que cada um, simplesmente, com a Escritura nas mãos, estaria assegurado o seguimento da perfeita doutrina de Deus?
O fato é que São Pedro já havia, peremptoriamente, afirmado nas próprias Escrituras Santas: Nelas “se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição” (2 Ped 3,16).
Mas, desse modo, a Bíblia poderia ser tida com um livro perigoso (já que uma interpretação errada conduziria a muitos para condenação eterna)?... Nas mãos não habilitadas, com certeza! Como costumo dizer: ‘Do mesmo jeito que um bisturi (que nas mãos do médico é um instrumento utilizado para salvar vidas) nas mãos de uma criancinha pode ser terrível; assim é a Bíblia nas mãos de pessoas despreparadas para o manuseio da Escritura Sagrada’. Ademais, o mesmo remédio que cura, se mal usado, pode até matar.
Agora, ponhamos a cachola para funcionar: Você acha que Deus havia instituído uma Escritura Sagrada para que cada um, a seu bel prazer, livremente interpretasse o significado de sua mensagem (correndo sério risco, inclusive, de ir para os Quintos dos Infernos) e produzindo as mais disparatadas conclusões ou, conjuntamente à Bíblia, teria estabelecido um Magistério interpretativo infalível (para que fosse conservada e garantida a unidade doutrinal salvadora)? [Afinal, qual segurança se teria com uma Bíblia infalível, se não existesse nenhuma autoridade que a interprete infalivelmente?]
Porém algum desafeto do Catolicismo poderá ainda dizer: ‘Mas por que tem que ser o magistério católico? Por que não um magistério protestante?’... Porque, para ser o Magistério da Igreja de Cristo, primeiramente, tem que ter dois milênios e, como é mais do que sabido, a grande maioria das seitas protestantes não tem sequer 200 anos. Em segundo lugar, qual magistério protestante: o dos luteranos, ou dos batistas, ou dos adventistas, etc?’ Em terceiro lugar, para existir um magistério infalível tem que se assumir, publicamente, que pelo menos um ser humano detém o carisma de infalibilidade; mas vocês afirmam, de pé juntos, que nenhum homem é infalível (negando a infalibilidade)?... Ademais, afirmar que existe um Magistério é negar o princípio da Sola Scriptura: um dos dogmas capitais do protestantismo.
De todo jeito: o fato é que a Bíblia somente não basta! (Noutras palavras: a ‘Sola Scriptura’ é completamente furada.) É preciso haver um Magistério infalível que assegure a sua legítima e inerrante interpretação. [Além do mais, a própria Escritura Sagrada fala que se deve guardar as tradições (apostólicas), não só as escritas, mas também as orais: “Guardais as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito” (2 Ts 2,15); pois temos ciência de que nem tudo está registrado nas Escrituras: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam” (Jo 21,25).]
d) O próprio Martinho Lutero, diante de tantas seitas que já surgiam em sua época, disse: “Há tantas seitas e crenças quantas as cabeças. Um não terá nada a fazer com o Batismo; outro nega o Sacramento; um terceiro acredita que há outro mundo entre este e o último dia. Alguns ensinam que Cristo não é Deus; uns dizem isto, outros dizem aquilo. Não há rústico, por mais rude que seja, que, se sonhar ou fantasiar alguma coisa não deva ser o sussurro do Espírito Santo, e ele próprio um profeta (“Marinho Lutero” John A O’Brein, Ed. Vozes, 1979, p. 32)” [AQUINO, Filipe Rinaldo Queiroz de, A minha Igreja, Editora Cleofas, Lorena-SP, 1997, p.137].
Entretanto, mesmo imergido no lamaçal de sua heresia, Lutero soube reconhecer (escrevendo a Zwinglio) : “É terrível ter que constatar que no passado tudo estava calmo e tranqüilo, a paz reinava em toda parte e agora surgem em todos os países seitas facciosas em abominação que causa pena. Devo confessar que as minhas doutrinas provocam muitos escândalos. Não posso negar. Muitas vezes me assusto, especialmente quando a minha consciência me recorda que destruí a situação vigente, na Igreja, calma e tranqüila” [http://www.grandeleao.hpg.ig.ijcom.br/fran.htm].
E mais: ““Se o mundo durar mais tempo, será necessário receber de novo os decretos de concílios (católicos) a fim de conservar a unidade da fé contra as diversas interpretações da Escritura que por aí correm” (Carta de Lutero a Zwinglio, Le Christianisme temps present, Tomo IV (7), p. 289).”[http://www.geocitesyahoo.com.br/jf_m2001/52.htm].
De fato, o protestantismo é constituído de múltiplas cabeças (que são as várias denominações que o compõem). Ele é policéfalo como o seu ‘pai’ maior: “Um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças... o chamado Diabo ou Satanás” (Ap 12,3). Em suma: tal pai, tal filho!
e) Mas, a maior esdruxularia é ouvir a afirmação de que: o Espírito Santo é quem ilumina as suas respectivas comunidades protestantes no entendimento da Palavra de Deus. [Como o Espírito de Deus pode: ensinar que é preciso guardar o Sábado numa e, ao mesmo tempo, noutra, que não é; ensinar que as almas dos mortos estão inconscientes, e ao mesmo tempo, noutra denominação, que elas estão bem conscientes; que a Eucaristia é um sacramento (para os luteranos) e, ao mesmo tempo, em outras, que é um mero símbolo; e assim por diante?]
Como pode o Espírito de Verdade ser amante do ‘sim’ e do ‘não’ simultaneamente, que é gerador de confusão, divergência e contradição; causando, com isso, divisões e subdivisões no seio do Cristianismo? Não! Não! De forma alguma! É uma ignorância profunda acreditar nisso... O Espírito de Deus não é confusão – pois, como diz a Bíblia, Deus não é um Deus de confusão. Será, então, que é apenas uma tremenda ignorância desses tais? Tomara! Ou seria, propriamente, uma terrível blasfêmia contra o Espírito de Deus crer que Ele sustente todo esse império bestialmente conflitante, que é o protestantismo? Espero que não; pois se for, retumbam em minha mente as veementes palavras de nosso Senhor que diz que ‘todo pecado contra o Filho do Homem será perdoado, mas contra o Espírito Santo, nem neste século, nem no outro, será perdoado’. [O que o Espírito Santo faz no que concerne à ‘divisão’ é no sentido de separação, isto é, separando a única verdade dos múltiplos erros.]
PS.: Tudo que escrevi aqui, ou em qualquer outro escrito meu, está, e sempre estará, sujeito à Santa Madre Igreja Católica. Ela que tem o poder de corrigir, refutar, completar e tudo o mais que for necessário para a conservação da integridade do Depósito da Fé.
Desculpem a pressa em enviar vários escritos seguidos: é porque, provavelmente, a partir de março ficarei um bom tempo fora da internet. Por conseguinte, nesta pressa (‘que é inimiga da perfeição’, como diz o ditado popular), mais sujeito, a erros e equívocos, está o que escrevi... De qualquer forma, retenham o que for aproveitável e descartem o que não prestar.