DES(MATAR) IMPUNEMENTE.


"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro".
                              Provérbio Indígena


Assistimos hoje a intensa onda de assassinatos de ambientalistas e de defensores da legalidade no CAMPO
                     
                             Chico Mendes
Vamos voltar no tempo, em 22 de dezembro de 1988, quando Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta na porta dos fundos de sua casa, ao sair para tomar banho (na Amazônia é normal que o banheiro seja na parte externa da casa). Chico anunciou que seria morto em função de sua intensa luta pela preservação da Amazônia e buscou proteção, mas as autoridades não lhe deram a atenção devida.

Esta semana vi a notícia da volta do CORRENTÃO, principalmente depois da aprovação do Código Florestal pela Câmara dos Deputados e sua possível aprovação pelo Senado com poucas modificações. Durante cinco anos morei e trabalhei no interior do Amazonas e viajei muito por lá, quem assiste o CORRENTÃO em ação, nunca mais esquece. Esta prática consiste em uma corrente muito grossa amarrada a dois tratores potentes que vão arrastando tudo na floresta, árvores de séculos são arrancadas inclusive com sua raiz, pois na Amazônia as raízes são superficiais devidos ao solo.
 
         

Este terreno logo depois é queimado para uso como pasto ou plantação, principalmente de soja. Mas na realidade só serve para delimitar o terreno a ser legalizado pelos especuladores.

A aprovação do Código Florestal pela Câmara, tudo indica foi interpretada em algumas localidades como licença para desmatar e MATAR. Só nos últimos dias houve quatro assassinatos na Amazônia Legal. No Pará, terra de extermínio de árvores e pessoas, o crime foi contra um casal de ambientalistas que eram ameaçados desde 2008, quando começaram a denunciar a retirada de madeira para produção de carvão.

O casal assassinado (José Claudio e Maria do Espírito Santo) participava ativamente do Conselho Nacional das Produções Extrativistas, fundado por Chico Mendes. Foram barbaramente mortos na terça- feira (dia 24 de maio) e no sábado (dia 28) foi encontrado o corpo do agricultor Eremilton Pereira dos Santos, provavelmente testemunha do crime.

Três dias depois foi assassinado o ambientalista Adelino Ramos, que já vinha recebendo ameaças de madeireiros e era sobrevivente do MASSACRE DE CORUMBIARA (1995). Como no caso de Chico Mendes em 1988 e da Freira Dorothy Stang em 2005, as mortes foram intensamente anunciadas.

Hoje, dia 1 de junho, a Ministra Maria do Rosário anunciou que existem 165 pessoas ameaçadas de morte, mas o governo só pode proteger no máximo 30 pessoas. Isto é lançar 135 ambientalistas em cova rasa. Ao encerrar a Reunião, a Ministra afirmou: "Não é bom viver permanentemente em um programa desses. Viver sob escolta permanentemente é uma violação dos direitos humanos. É uma violação da privacidade”. Lembro, no entanto, que a morte ronda estas pessoas.

Em Mato Grosso a discussão do Código teve um efeito devastador, pois os fazendeiros e especuladores de terra passaram a derrubar florestas para serem beneficiados pela anistia aos produtores, pois o governador sancionou lei concedendo anistia até abril.

A operação anunciada agora pelo governo contra o desmatamento e a violência no campo, vai precisar provar que a previsão de CHICO MENDES estava errada e que a luta por ele desenvolvida e sua morte não foram em vão.

Lembro que nos últimos 5 anos,
mais de 600 pessoas (povo da floresta)
foram mortas, por questões fundiárias e seus assassinos estão impunes. Só agora o governo  acorda e verifica a total  incapacidade da Força Nacional e o Exército desloca 20.000 homens  para a região em carater urgente e definitivo. 

Vamos encerrar com uma frase da ex- Ministra Marina Silva companheira de lutas  de Chico Mendes:

“A natureza tem uma estrutura feminina: não sabe se defender, mas sabe se vingar como ninguém”.

                     
           
                
 
Ruy Silva Barbosa
Enviado por Ruy Silva Barbosa em 28/06/2011
Reeditado em 28/06/2011
Código do texto: T3061635
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