Algumas concepções a respeito do nazismo alemão e do “nazismo da atualidade”
O nazismo foi um sistema totalitário imposto na Alemanha pelos integrantes e representantes da ideologia do Partido Nazista. Estes alegavam buscar uma raça geneticamente pura, que viesse favorecer o desenvolvimento progressivo da nação alemã.
O Partido Nazista encontra terreno fértil para o cultivo de suas ideologias no período pós-guerra (1ª Guerra Mundial) e principalmente com o estouro da grande depressão, quando os Estados Unidos retiram grande parte de seu capital investido na Alemanha, causando assim uma grande crise econômica, o que teve como resultados o desemprego e a instabilidade.
A partir daí o partido nazista inicia uma forte perseguição aos judeus, atribuindo-lhes toda a responsabilidade pelos problemas sociais até então evidentes, como a derrota na guerra e o endividamento de milhares de alemães. Assim, a propaganda nazista faz de Hitler o “salvador da pátria”. Ele estabeleceu relações políticas que fizeram com que fosse nomeado o novo chanceler da Alemanha em 1933. Sendo chanceler, Hitler tinha todas as armas para torna-se ditador. Hitler como tinha a maioria no parlamento, exigiu que se votasse uma lei que estabelecesse ao chanceler o poder absoluto do Estado. Este o foi conferido com 441 votos contra 91. Assim Hitler arroga-se do poder, monopoliza-o e inicia a aplicabilidade do seu projeto, buscando o encontro da raça pura denominada ariana.
Muitas são as responsabilidades conferidas ao ditador nazista pelo horror que este causou a todos aqueles que não se enquadravam ao padrão de raça pura, perseguindo-os, maltratando-os e agindo em total desrespeito com seus direitos fundamentais. Mas será que ele tinha plena consciência do que estava fazendo, ou estava simplesmente impregnado por uma forte ideologia conferida pelo seu partido?
Hannah Arendt faz um profundo estudo filosófico a respeito dos regimes totalitários, voltando-se principalmente ao regime nazista alemão, do qual foi vítima. Em “Algumas questões de filosofia moral”, Hannah inicia o seu comentário respaldando-se na afirmação de Churchill, onde ele afirma que nada do que ele acreditava ser eterno o foi e tudo aquilo que tinha certeza que seria impossível de acontecer, aconteceu.
Assim Arendt considera que no período nazista nós vemos um colapso da ordem moral até então vigente. Uma vez que o nazismo dissemina através de suas ideologias uma nova ordem de moralidade, que foi aceita pelos alemães em um momento de fragilidade, quando buscavam soluções rápidas e práticas para os seus problemas, encontrando-as nas concepções dos nazistas.
Hannah afirma que até então, a Alemanha tinha uma concepção moral baseada em preceitos “segundo os quais os homens costumavam distinguir o certo do errado, e que eram invocados para julgar ou justificar os outros e a si mesmos, e cuja validade suponha-se ser evidente para toda pessoa mentalmente sã como parte da lei divina” (ARENDT, Hannah – pag. 113)
Contudo, em um período de fragilidade “tudo isso desmoronou quase da noite para o dia” (ARENDT, Hannah – pag. 113), onde se iniciou a aplicação do novo conceito de moralidade idealizado pelos nazistas.
A partir de então as pessoas passam a aceitar esta nova concepção moral, e as que não a aceitam se calam. Por isso para Arendt todos são culpados diante dos acontecimentos nazistas, haja vista que quando os que não concordam com o sistema se calam, compactuam com suas respectivas ideologias. Dentro desse contexto até a própria moral religiosa calou-se.
Considerando que nesse novo sistema todos estavam impregnados pelo novo acordo moral, onde a sociedade alemã ensinava aos seus descendentes a perseguirem brutalmente todos aqueles que não se enquadrassem aos padrões arianos, podemos nos questionar. Será realmente que os que executavam as ideologias nazistas tinham consciência de que o que estavam fazendo ia de encontro com os princípios morais e principalmente com o direito fundamental de todos que é a vida? Para Hannah, não. Pois eles seguiam os preceitos morais que estavam vigentes na Alemanha, preceitos esses que barravam inclusive a faculdade de pensar e considerar que aquelas ações não deveriam ser praticadas.
Trazendo todas essas concepções a respeito do sistema nazista na Alemanha, para a nossa atual realidade social, onde existe uma grande segregação econômica e racial. Podemos nos perguntar: o sistema nazista realmente acabou?
Ainda encontramos realidades nazistas dentro do nosso sistema social, onde existe vários campos de concentração de pobreza, misérias, fome, violências, etc. campos estes que muitas vezes caracterizam-se como sendo os bairros marginais das grandes cidades que se dizem civilizadas. Quantas pessoas não morrem diariamente vítimas da miséria e da violência provenientes desses campos de concentrações? Isso é mesmo civilização?
E para agravar a situação podemos afirmar que muitos de nós concordamos com essa realidade, uma vez que calamo-nos diante de tal situação. Pois como bem afirma Arendt quem não apóia o sistema, mas cala-se diante dele, está compactuando com todas as suas ideologias. Então fica o questionamento: o que cada um de nós faz para melhorar a situação do nazismo da atualidade?