A Ilha da Fantasia
A Carta ao Leitor da Revista Veja essa semana está muito boa. Ela faz um exercício de imaginação que os cidadãos Brasileiros em grande parte também fazem, mas com uma grande chance de atingir ao alvo. Certamente nada mudará, mas provavelmente alguém sentirá nem que seja uma pontinha de vergonha e há de pensar que o povo não é tão bobo assim como parece.
A carta pega um gancho de uma capa da Revista de setembro de 2003, quando a chamada era Brasiilha da Fantasia e enumera uma série de situações vergonhosas , tal como o fato de Renan Calheiros ter sido indicado para o Conselho de Ética do Senado após ter perdido o cargo de Presidente desse mesmo Senado quando foi descoberto que as despesas de manutenção de uma de suas amantes e da filha gerada por esse caso corriam por conta de uma empreiteira. Alude também ao fato inimaginável em um país sério como Roberto Requião, também Senador, ter arrancado das mãos de um jornalista que lhe fizera uma pergunta incômoda, o gravador, tendo inclusive recebido apoio de outro político de peso – José Sarney: “O Senador Requião é um cavalheiro. Deve ter havido um mal entendido.” Lembrou ainda que nessa Ilha da Fantasia, um dos Deputados Federais que é semianalfabeto, faz parte da Comissão de Educação e Cultura da Casa a que pertence. E por aí vai, convidando o leitor a imaginar que o Partido Político que detém o Poder acaba de perdoar o protagonista do maior escândalo de corrupção que envolveu o país no último governo. Aliás, esse cidadão, esclarece ainda a revista, em seu estado de origem é professor de Ética Política.E Marta diz que ele merece voltar porque agüentou tudo calado. E para encerrar essa listagem de horror ainda fico sabendo que a nova chefe da Polícia Rodoviária teve sua carteira de habilitação apreendida por excesso de multas.
Eu sei que muitas pessoas, inclusive amigos meus e que eu respeito, nutrem um grande desprezo pela Revista Veja alegando que ela serve a interesses não sei de quem. Mas todos esses fatos citados, é claro, em tom de deboche e ironia, estão servindo aos interesses nossos, pessoas comuns com um conceito claro do que seja ético. Para quem, como eu e, quero acreditar, a maioria das pessoas, leva a vida com honestidade e dignidade, todos os fatos citados são uma afronta. Como esperar que o Brasil se transforme em um país sério se aqueles que nos representam dão exemplos péssimos? Quem trabalha com Educação sabe que o maior Mestre é o exemplo. É pelo exemplo que se deve educar, em qualquer âmbito, seja na Família ou na Escola. As palavras bonitas devem ser deixadas para nós, os escritores, trabalharmos com elas.
Embora a Revista Veja tenha limitado o seu exercício de imaginação na esfera Federal, infelizmente não é muito diferente a situação nas outras esferas. O que me faz lembrar o poema de Carlos Drummond de Andrade:
‘O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz. “
Aqui não é preciso nenhum exercício de imaginação: basta trocar a palavra poeta por outra que começa com a mesma sílaba. E eu nunca vi antes versos tão adequados.
A Carta ao Leitor da Revista Veja essa semana está muito boa. Ela faz um exercício de imaginação que os cidadãos Brasileiros em grande parte também fazem, mas com uma grande chance de atingir ao alvo. Certamente nada mudará, mas provavelmente alguém sentirá nem que seja uma pontinha de vergonha e há de pensar que o povo não é tão bobo assim como parece.
A carta pega um gancho de uma capa da Revista de setembro de 2003, quando a chamada era Brasiilha da Fantasia e enumera uma série de situações vergonhosas , tal como o fato de Renan Calheiros ter sido indicado para o Conselho de Ética do Senado após ter perdido o cargo de Presidente desse mesmo Senado quando foi descoberto que as despesas de manutenção de uma de suas amantes e da filha gerada por esse caso corriam por conta de uma empreiteira. Alude também ao fato inimaginável em um país sério como Roberto Requião, também Senador, ter arrancado das mãos de um jornalista que lhe fizera uma pergunta incômoda, o gravador, tendo inclusive recebido apoio de outro político de peso – José Sarney: “O Senador Requião é um cavalheiro. Deve ter havido um mal entendido.” Lembrou ainda que nessa Ilha da Fantasia, um dos Deputados Federais que é semianalfabeto, faz parte da Comissão de Educação e Cultura da Casa a que pertence. E por aí vai, convidando o leitor a imaginar que o Partido Político que detém o Poder acaba de perdoar o protagonista do maior escândalo de corrupção que envolveu o país no último governo. Aliás, esse cidadão, esclarece ainda a revista, em seu estado de origem é professor de Ética Política.E Marta diz que ele merece voltar porque agüentou tudo calado. E para encerrar essa listagem de horror ainda fico sabendo que a nova chefe da Polícia Rodoviária teve sua carteira de habilitação apreendida por excesso de multas.
Eu sei que muitas pessoas, inclusive amigos meus e que eu respeito, nutrem um grande desprezo pela Revista Veja alegando que ela serve a interesses não sei de quem. Mas todos esses fatos citados, é claro, em tom de deboche e ironia, estão servindo aos interesses nossos, pessoas comuns com um conceito claro do que seja ético. Para quem, como eu e, quero acreditar, a maioria das pessoas, leva a vida com honestidade e dignidade, todos os fatos citados são uma afronta. Como esperar que o Brasil se transforme em um país sério se aqueles que nos representam dão exemplos péssimos? Quem trabalha com Educação sabe que o maior Mestre é o exemplo. É pelo exemplo que se deve educar, em qualquer âmbito, seja na Família ou na Escola. As palavras bonitas devem ser deixadas para nós, os escritores, trabalharmos com elas.
Embora a Revista Veja tenha limitado o seu exercício de imaginação na esfera Federal, infelizmente não é muito diferente a situação nas outras esferas. O que me faz lembrar o poema de Carlos Drummond de Andrade:
‘O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz. “
Aqui não é preciso nenhum exercício de imaginação: basta trocar a palavra poeta por outra que começa com a mesma sílaba. E eu nunca vi antes versos tão adequados.