Uma dose de TV para tranqulizar o povo
O padrão “globo” de qualidade todos nós já conhecemos. A emissora do “plim-plim” é uma gigante mundial e seu êxito, se deve e muito, ao regime militar que se instalou no país em 1964 e durou longos 21 anos. Essa é a parte da “história globoal” que a grande maioria da população desconhece. Mas também existem aqueles que estão por dentro mas se fazem de desentendidos.
Desde que o Ato Institucional Nº 5 (AI-5) entrou em vigor, no ano de 1968, a censura no Brasil era total. Os veículos de comunicação só deveriam noticiar aquilo que os censores permitissem. Estava proibido divulgar qualquer fato que maculasse o slogam desenvolvimentista do governo (Pra frente Brasil!).
Eis que surge no dia 1º de Setembro de 1969 o Jornal Nacional (JN) exibido pela Rede Glogo de Televisão. Ele foi anunciado como um sistema de notícias que integrava um “Brasil novo”. O JN logo se torna supremo, principalmente, porque no fim daquele mesmo ano, o Repórter Esso sai do ar, após décadas informando a população sobre os mais importantes acontecimentos nacionais e internacionais.
Os telespectadores já familiarizados com o “Boa noite!” dos apresentadores Cid Moreira e Sérgio Chapelin, não viam, no JN, a agitação política peculiar daquele período e promovida pela oposição ao regime. A postura de apenas noticiar as “boas novas” fazia do JN o porta-voz eletrônico da ditadura. Ele era a nítida tradução do projeto de “integração nacional” idealizado pelos generais.
Além do noticiário, as telenovelas globais eram outro trunfo dos militares. Nos anos de 1970, as novelas paravam o país inteiro. “Irmãos Coragem”, “Selva de Pedra”, “Saramandaia” e “O Astro”, consagraram atores como Tarcísio Meira, Glória Meneses, Francisco Cuoco e Regina Duarte. Além disso, ditavam moda, caso de “Dancin Days” que espalhou a febre pelas discotecas.
Somando o Jornal Nacional com as novelas e o futebol (a seleção canarinha conquistou o inédito tricampeonato mundial em 1970), tudo parecia ótimo. Uma felicidade só. É tanto que o presidente Médici, em março de 1973, comentou: "Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão. (...) É como se eu tomasse um tranqüilizante após um dia de trabalho." Pois é, o povo estava sendo dopado e nem se dava conta.