Somos donos conscientes de todos os nossos atos?



O universo é um vasto e quase infinito espaço-tempo. Nosso mundinho, maravilhoso mundo posto que só existimos graças a ele, nosso planeta mãe é, ao contrário do universo, um quase nada, uma partícula infinitesimalmente mensurada frente ao absoluto infinito existencial de nosso universo, um grão de poeira cósmico na imensidão deste nosso real tetra-dimensional espaço-tempo. Não me refiro sequer à possibilidade de existência de outros universos em um possível complexo existencial de multiverso, uma vez que não existem evidencias observáveis ou mensuráveis físicas de sua existência, apenas modelos matemáticos que o corroborariam, assim, como crença é pessoal, não entrarei por esta raia.
 
Neste lindo e encantador “planetinha”, pelo menos uma única vez, mesmo que de forma isolada e única, neste planeta, a química se fez biologia e a vida foi criada. O tempo e a evolução, pontuada por diversos cataclismos planetários, fez o resto, e aqui estamos.
 
Pessoalmente creio piamente na vida como algo espalhado pela vastidão imensurável de nossa existência, e não rastreavel em sua realidade de cada momento presente, em cada ponto distinto deste universo. Sinceramente não espero vida semelhante a nossa, mas a vida como aquele algo acima da já complexa química, creio, existe espalhada pelo universo.
 
O que vemos do mundo é passado, e mais passado será quanto mais distante de nós estiver. Vemos o sol a cerca de sete minutos atrás, quem sabe ele acabou de explodir, mas somente saberemos disto daqui a sete minutos. Vemos a estrela alfa (alfa centauri) a 4,2 anos passados. Vemos a galáxia de Andrômeda a aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás, e estes exemplos estão muito próximos a nós, estariam por assim dizer na soleira de nossa casa, quando pensamos na imensidão de nosso universo. Algumas estrelas, as observamos a mais de 10 bilhões de anos passados. Se pararmos para pensar, perceberemos que muitos dos corpos celestes que vemos em nosso universo já não mais existem, perceberemos assim o quanto somos pequenos frente a esta mesma imensidão. Isso não nos deve fazer fracos, e sim humildes de nossa existência.
 
É incrível como apesar de sermos frágeis, passageiros e sem maior importância para a existência de todo o universo, podemos ser tão vaidosos, pedantes e confiantes de que conhecemos toda a verdade, e que somos assim detentores fieis da própria verdade. É incrível como alguns de nós se acham detentores do conhecimento humano e social, e jamais abrem a possibilidade de estarem enganados, ou de que podemos, sendo mutáveis emocional, mental e socialmente, sermos hoje diferentes de ontem, e amanhã diferentes de hoje.
 
Sendo um amante da busca pela verdade, creio que jamais a encontrarei em toda a sua essência, posto que somos limitados mentalmente e principalmente desprovidos de mecanismos sensores com confiabilidade tal que possamos perceber a realidade em toda sua luz, e em toda a sua profundidade e complexidade.
 
Nossa interpretação do mundo é uma simplificação grosseira da verdade real, a própria física, que amo de paixão, é na verdade uma busca contínua pelo aprofundamento e pelo entendimento da complexidade da realidade imanente de nossa existência, mas mesmo ela é parcial, vemos nas teorias, por melhores e mais bem modeladas ou testadas que sejam estas teorias, apenas uma fatia da existência total, e mesmo assim com inúmeras simplificações.
 
Isso não diminui a beleza da física, isto pelo contrário aumenta sua beleza. A criatividade humana aliada a modelos, experimentos e observações profundas, a inteligência humana aliada a dados e a mensurações, buscando sempre e cada vez mais aprofundar nosso conhecimento sobre a existência material-energetica de nosso universo é encantadora, mas sempre aberta a recomeçar, a se ajustar e a modificar quando alguma teoria ou experimento seja refutado. É a refutação o filtro natural da física, só é ciência se pudermos prever formas de refutação, e tão logo consigamos refutar qualquer teoria, estaremos prontos para rever toda a teoria.
 
O que me choca um pouco é que mesmo assim, existem aqueles que se acham acima disto tudo e dominam a verdade, sabem-se conscientes de tudo, mas estes pobres coitados se esquecem que não somos nosso consciente, somos sim nosso inconsciente. É o inconsciente quem trabalha continua e silenciosamente. O consciente seria algo como uma interface de entrada e saída de informações para e do o inconsciente.
 
É o inconsciente o resultado do estado biológico, químico e físico de nosso cérebro. Em ultima análise o resultado do número de nossos neurônios, de sua distribuição espacial, do estado individual de cada uma das ligações quase infinitas de nossos dentritos e axônios, banhados pelos nossos neurotransmissores, e este estado está em constante modificação, estamos constantemente refazendo ligações, desfazendo existentes e criando novas, por isso somos dinâmicos e mutáveis mental e emocionalmente.
 
Somos, creio, parte o que nascemos, genética, e em parte, e ao longo do tempo uma enorme parte, o que nos transformamos, fenótipo, e esta peculiaridade estará em constante mudança enquanto vivos estivermos. Ainda no útero de nossa mãe começamos nossas ligações neuronais, e este mecanismo prossegue por toda a nossa existência, e como somos falhos e limitados, lemos o mundo de formas diferentes e muitas vezes nos ajustamos de forma aparentemente indevida, posto que nossa leitura do mundo é afetada pelo que nós somos inconscientemente, e nosso inconsciente é afetado pelo como observamos o mundo, um ciclo infinito enquanto existirmos que não para de se afetar mutuamente.
 
Não somos donos conscientes de todos os nossos atos, isto é ser humano, isto é ser biológico, isto é ser vivo. Por mais consciente que eu tente manter-me, existirão uma infinidade de atos que serão efetuados de forma inconsciente, ou porque não damos maior valor a ela, ou porque passa a ser repetitiva, ou porque devem ser tomadas de forma emergencial e sequer temos tempo de ativar nossa consciência.

Ser humilde não é ser fraco, é simplesmente perceber que apesar do “brilhantismo” da biologia e da complexidade do mental e do social, frente ao infinito de nossa existência espaço-temporal somos muito pouco.
 
Posso estar certo, posso estar errado, devo estar incompleto em minha análise, mas o que importa é que aberto a mudanças podemos expor nossas diferenças e, de forma racional e crítica, buscarmos encontrar algo mais perto da verdade real. Devemos sim ter o cuidado de não cairmos na falaciosa tentação de que podemos ser racionais ao extremo, em tudo. Para sermos 100% racionais precisaríamos ter o conhecimento completo, o que seria impossível, quanto mais nos aprofundarmos na análise, menos verdades conhecidas existirão, em algum momento deste salto teremos que abrir mão da racionalidade absoluta, por isto ai devemos ser críticos e nos utilizarmos ao máximo de evidências, mesmo que apenas conjecturais, para caminharmos em nossa racionalidade crítica. Mas o melhor é que mesmo assim você não precisa concordar comigo. Você tem todo o direito, e o dever, de rever este texto a luz de seu conhecimento e racionalmente discordar dele, ou mesmo no uso de seu poder de crítica simplesmente rejeitá-lo, você pode tentar por evidências me fazer ver diferente, o que você não deve é sem evidências me fazer crer em outra visão.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 19/01/2011
Reeditado em 19/01/2011
Código do texto: T2738872
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