O lado negativo do consumo

O LADO NEGATIVO DO CONSUMO

Com a aproximação das festas de fim-de-ano, uma doença conhecida e pertinaz volta a nos assombrar: a febre do consumo. É preciso que haja consumo para que a cadeia mercantil se movimente, fazendo circular as riquezas e incentivando a geração de empregos e o recolhimento de impostos. Sob esse aspecto o consumo é salutar.

No entanto, o consumo se torna um mal quando ele assume contornos de uma patologia epidêmica, em que as pessoas se atiram às compras sem medir consequências, endividando-se e – como diziam os antigos – dando o passo maior que as pernas. Com a aproximação do Natal, ocorre uma exacerbação da propaganda, seja na tevê, nos jornais, nas revistas, nos folhetos e em todos os meios capazes de atingir a massa consumidora.

Enquanto a oferta de produtos, serviços e crédito cresce, de outro lado a propaganda excita o desejo de consumir, transformando o cidadão, de consumidor normal em consumista, que nada mais é que uma patologia social, como um vício de comprar o supérfluo, de gastar além das posses. Nessa conjuntura a pessoa não consome mais por necessidade, mas passa a comprar por impulso. É este o grande objetivo do marketing: gerar uma febre de consumo irracional.

Há dias um amigo me mandou um e-mail que falava de um produto novo, uma coqueluche endereçada ao público infantil: o laptop da Xuxa. Segundo o artigo, a mercadoria concentrou sua força-motriz num nicho de mercado que busca atingir crianças, das classes “a” e “b”, numa faixa etária que vai dos três aos seis anos. E não se trata de um produto de alta tecnologia, como um HP ou um Vaio, mas um produto mais simples, e nem por isso menos caro, em cores chamativas, como o rosa, o lilás, o amarelo-limão, mas todos eles personalizados com a marca da “rainha loura”.

Dizia o amigo, que suas netas não sabem nem pronunciar direito a palavra “laptop”, mas já sabem apontar para o objeto de seu desejo. Isso evidencia que o vício de mercado, ao qual chamamos de consumismo, se tornou invasivo em camadas cada vez mais jovens da população. Esse desejo de consumir vai se tornar algo cada vez mais difícil de ser erradicado.

Enquanto a família e a escola tentam educar para a vida, as campanhas de marketing “educam o olhar”, não para o valores morais, mas para o deslumbramento das vitrines. Escutei um pai afirmar, em uma entrevista, que a filha de quatro anos, nem sabe o que é, mas pelo que viu no anúncio, pediu um laptop. O pai disse que vai fazer um sacrifício, pois entende que a felicidade da menina, neste Natal, depende do tal laptop.

Apenas quatro anos de idade e a marca do desejo já foi inscrita em sua subjetividade. O grande mal moderno é a relação que se faz do ter com o ser feliz.

Filósofo, escritor e doutor em Teologia Moral