O MENSAGEIRO: PROVÉRBIOS E PENSAMENTOS E MÁXIMAS

O Prof. Júlio Nogueira, no seu livro (7ª edição 1947) – A Linguagem Usual e a Composição, trata com bastante desenvolvimento e comentários de uma série de provérbios e máximas, que sugerem que sejam transcritos nesta coluna para enriquecimento de nossa cultura, em março de 1991.

Qualquer que seja o provérbio que tenhamos de interpretar, começaremos fazendo as considerações sobre os provérbios em geral. Diremos que ninguém sabe como nasceram quem os disse pela primeira vez, que são a ciência ou o bom senso do povo anônimo e fazem parte do gênero a quem em literatura se dá o nome de folk-lore (saber do povo). Diremos também que há provérbios para tudo e que há os contraditórios, de forma que se pode justificar atos ou deliberações contrárias, valendo-se cada indivíduo de uma afeição dos seus interesses. O sôfrego, o impaciente dirá a todo propósito: “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”; ou ainda “nem por muito madrugar amanhece mais cedo”. Isso prova que os provérbios vão nascendo segundo as circunstâncias ou convivência de cada um. Todos eles, porém, são sempre animados de um espírito de moral pura. A própria Bíblia contém uma parte consagrada provérbios, na maioria atribuída a Salomão.

Um recurso que nos pode valer é a narração de fatos conhecidos, a citação de provérbios com remate de um caso verdadeiro ou nossa fantasia pode facilmente imaginar. Suponhamos que o provérbio dado seja “Quem não quer ser lobo não veste a pele”. Arranjaremos um caso que se adapte a essa lição de moral. Por exemplo: um repórter, para conhecer melhor a casa de jogo e poder clamar contra esse flagelo social, começa frequentá-las e a jogar também a fim de não despertar suspeitas. Um dia, a polícia faz uma diligência na casa em que ele está prende todos os jogadores presentes, inclusive o repórter, este protesta, declina a sua qualidade de homem de imprensa, afirma que ali está no exercício de sua profissão, mas nada lhe vale e tem de ir ao distrito com os demais, sujeitando-se ao mesmo vexame. A narração deste caso nos dará muitas linhas.

Se por exemplo, o provérbio é: Quem tudo quer tudo perde, imaginemos um indivíduo que fez boa colheita de um produto qualquer, algodão, borracha, cacau, café etc. As cotações aumentaram e ele terá vendendo-o, o duplo do que esperava. Mas a ambição aconselha-lhe que espera ainda, que poderá ganhar mais. O homem não se decide e um dia o preço da venda começa a baixar. O produtor supõe que será uma queda passageira de cotações e espera ainda. Os preços continuam a baixar vertiginosamente e afinal o produto, não resistindo aos rigores da estação, começa a deteriorar-se. Ele não encontra comprador e, finalmente passa pelo desgosto de perder tudo.

E assim temos sempre um caso, uma explicação para a moral deste ou daquele provérbio. Servirá também, por vezes uma fábula. Se o provérbio combate a mentira, contaremos a do pastorzinho. Este se divertiu por duas vezes a fingir que seu rebanho estava sendo atacado por um lobo e gritava, pedindo socorro. De ambas às vezes sacudiram várias pessoas para auxiliá-los, mas fora recebido com gargalhadas do rapaz, que se mostrava satisfeito de lhes ter pregado uma peça. No dia seguinte, vem realmente um lobo, o pastorzinho entra a gritar, mas ninguém abalou do lugar em que estavam certos todos que era uma graçola do rapaz. O lobo matou várias ovelhas e ele foi castigado.

A esses provérbios adiantaremos ligeiras explicações, comentários e notas, para abrir caminhos à imaginação.

“Longe do amigo que come o seu só e o meu amigo”. A este propósito cabem considerações gerais sobre várias classes de amigos até chegar à do falso amigo, e, mais restritamente ao egoísta que tira vantagens da nossa amizade, utilizando o que é nosso, mas não compensa os favores que de nós recebe.

Vários outros adágios neste sentido: “Quem sai aos seus não degenera”, “Filho de peixe sabe nadar”, “Nunca de má árvore bom fruto”, “Nunca de bom mouro, bom cristão”. Camões termina a estrofe com este verso: “Que de tal pai tal filho se esperava”.

Continua na próxima edição...

Pedro Prudêncio de Morais
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 05/11/2010
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