Continuando a Reforma

No 31 de Outubro, a população brasileira elegeu Dilma Rousseff como a primeira mulher a ser presidente do país. Um fato histórico. Nesse contexto eleitoral, na expectativa da apuração, outra importante data foi esquecida. O Dia da Reforma Protestante acabou sendo coadjuvante em inúmeras igrejas brasileiras.

É bem verdade que o Dia da Reforma não é muito difundido. Isso porque vivemos num país de raízes católicas, e os adeptos do catolicismo ainda são a maioria da população. Porém, denominações evangélicas de origem reformada, tais como Batistas, Presbiterianas e Epíscopais, anualmente celebram essa data, mesmo que de forma restrita em suas congregações.

O dia escolhido para a comemoração, remete ao dia em que Martinho Lutero fixou as suas 95 teses na porta da catedral em Wittenberg, na Alemanha em 1517. Mas a insatizfação com a corrupção do clero é muito anterior. Cerca de dois séculos antes, homens como John Wicliff, já denunciavam a imoralidade clerical e defendiam uma séria mudança doutrinária e litúrgica.

Logicamente, muitas dessas “vozes proféticas” (nesse sentido o profeta é aquele que denuncia o pecado) foram perseguidas e silenciadas. Caso do inglês John Huss, queimado como herege no dia 6 de Julho de 1415. Seu crime foi zelar pela pureza da cristandade, e criticar os abusos cometidos pela casta sacerdotal de seu tempo.

Não foram poucos os homens que mesmo fazendo parte do clero, criticavam a postura dos seus colegas de classe, um deles foi Erasmo de Roterdã em sua obra “Elogio da Loucura”. Porém Lutero foi o que levou a sua indignação até as últimas conseqüências e rompeu com o papado. Com isso as suas idéias se espalharam por toda a Europa, que ficou dividida e confusa. O que se viu depois foi um derramamento de sangue desenfreado, resultado até de vários equívocos cometidos pelos seguidores do luteranismo.

É fato que muitos aderiram ao movimento protestante por motivações econômicas. Como também é verdade que essa “nova ala” da Igreja cometeu atrocidades ao longo da História que macularam o Evangelho. Existem muitos líderes protestantes que “beatificam” os reformadores, esquecendo, até propositalmente, as suas falhas. De certa forma, esses homens merecem ser louvados por sua coragem e ousadia em meio a uma represália cruel. A Reforma Protestante foi uma revolução, pois transformou a sociedade, não se restringindo a esfera religiosa. Já se passaram quase 500 anos, e muito do que foi repudiado, agora se faz presente no âmbito evangélico. Será preciso uma nova Reforma?

Há um ponto que gostaria de destacar, pois acredito ser a origem de todos os outros males que permeiam as igrejas evangélicas: A exaltação do líder. Pastores, bispos, apóstolos, independente da nomenclatura são supervalorizados pelos fiéis, e muitas vezes se intitulam como sendo os únicos que possuem comunicação direta com Deus. É exatamente essa postura que desencadeia os demais abusos. Foi assim com o papado e esta sendo com esses sacerdotes midiáticos. E de quebra, acabam desacreditados também aqueles que não compactuam com essa deturpação da Palavra e vivem na contramão desse sujo esquema.

Isso precisa mudar. Mas como? Não existe um órgão que fale em nome de todos os evangélicos. Cada denominação é administrada de forma independente, e isso dificulta uma Reforma homogenia. Só que isso não impede uma militância individual. Para todo aquele que é contrário a esses escândalos cometidos em nome de Deus, é um dever reunir pessoas e testemunhar o Evangelho como ele é. A luz da Bíblia Sagrada. Nada além da mensagem de Cristo e da doutrina dos apóstolos devem ser usados para respaldar seja qual for o ensinamento. Até mesmo práticas veterotestamentárias devem ter o respaldo do Novo Testamento para, a partir de então, serem observadas como mandamentos.

Muitos já estão militando nessa causa nobre. Muitas denominações, ou até congregações independentes focam no modelo de Igreja presente em Atos 2, onde os apóstolos viviam em plena comunhão, partindo o pão e orando uns pelos outros, transmitindo a mensagem de Jesus Cristo, ao invés de inventarem modismos que estão destoando da Verdade e banalizando a fé. Essa minoria é que mantém viva a essência do Cristianismo, cultivando o amor ao próximo e não alimentando o materialismo desenfreado que visa à barganha financeira com Deus. Graças a essas poucas pessoas o lema da Reforma continua a ecoar: Sola fide, sola gratia, sola scriptura.

T S Oliveira
Enviado por T S Oliveira em 02/11/2010
Reeditado em 02/11/2010
Código do texto: T2593223
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