Artigo: Que tal dá uma espiadinha!

Autor: Alexsandro Rosa Soares – Graduando em Letras pelas Faculdades Integradas Padre Humberto, Graduado em Normal Superior pelo Instituto Superior de Educação de Itaperuna, Especialista em Cerimonial e Protocolo.

Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar proposta discutível dos valores e princípios deixados de lado no mundo globalizado em que vivemos envolvendo a mídia como grande influenciadora no comportamento do aluno de ensino fundamental.

Palavras-chave: Mídia, educação, valores.

Que tal dá uma espiadinha? Essa é a frase que movimenta mais de 1 milhão de pessoas a sentirem o desejo de passar algumas horas de sua vida observando a vida de outros. Diante do grande índice de audiência que é atingido todos os dias pelos reality shows disponíveis das mais diversas formas na mídia e da mais nova propaganda para inscrição de uma nova etapa para um outro programa, é questão a se pensar, o que faz com que vários seres humanos disponibilizem um tempo precioso de suas vidas para se dedicarem a isso? 

Fama, sucesso, dinheiro, ambição, esses são alguns dos inúmeros motivos para que esses tipos de programação consigam prender milhões de telespectadores em frente a televisão. Esses são os motivos que nos levam a refletir sobre que programação meu filho, meu aluno está vendo? São esses os motivos básicos para que ele viva em harmonia? Para que ele seja feliz? Conhecemos e reconhecemos a influência que a mídia exerce na vida das pessoas, principalmente das crianças que são indivíduos ainda em formação e que assimilam o que lhes é apresentado. 

A construção da identidade é social e acontece durante toda, ou grande parte, da vida dos indivíduos. Desde o seu nascimento o homem inicia uma longa e perene interação com o meio em que está inserido, a partir da qual construirá não só a sua identidade, como a sua inteligência, suas emoções, seus medos, sua personalidade... a construção da identidade é um desses fatores relacionados ao desenvolvimento que tem íntima, senão total, dependência da cultura e da sociedade onde o indivíduo está inserido.(LEPRE, 2003, p. 12) 

A mídia que se diz defensora dos ideais populares, das causas justas e humanitárias, favorável à liberdade de expressão é a mesma mídia que apresenta aos telespectadores programas que não acrescentam em nada no desenvolvimento pessoal e humanístico de quem assiste. Que omite informações que podem acrescentar e desvendar aos telespectadores uma ponta de criticidade em analisar, discutir e opinar sobre o que lhe é apresentado. A mesma mídia que tem o poder de engrandecer o conhecimento de nossas crianças unindo criatividade e educação, prioriza programas que são totalmente anti-culturais e que visam somente a cultura do entretenimento fútil e banal. 

O desenvolvimento da cultura da imagem, do ícone, do ídolo, a mídia de certa forma, colabora para a desumanização e a mecanização do ser humano. É inegável que a mídia é uma grandiosa aliada em campanhas sociais, que visam a melhoria da qualidade de vida da humanidade, também é inegável que através dela, empresas, associações e órgãos de classe têm a sua disposição um espaço de arrecadar fundos para classes sociais menos favorecidas. Contudo, também é inegável que esta mesma mídia prioriza a busca pela fama a qualquer preço, a busca obsessiva pelo sucesso, por ter bens materiais, pela beleza, enfim pela distorção de valores e princípios que muitos julgam serem ultrapassados, mas que fazem parte da educação para um ser humano de respeito que prioriza não o material, mas o humano, no bem estar do outro e de si próprio. 

É objeto de preocupação que nossas crianças estejam tendo como possibilidade de crescimento, opção de lazer e diversão, esse tipo de programação, pois se sabemos da importância da influência social na vida de cada ser, e principalmente da mídia que entra em todos os lares, devemos como educadores, pais e seres humanos que somos, incitar um olhar crítico de nossos alunos e filhos afim de que os mesmos sejam seres críticos e conscientes, capazes de discernirem as informações positivas e negativas que lhes são apresentadas pela mídia. 

Piaget considera que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como a aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais), ora se o desenvolvimento é resultado de um processo social somos então responsáveis por essa imposição explícita de que o ter é mais importante do que o ser. De que a quantidade é mais importante que a qualidade. De que a fama e o dinheiro valem mais que a vida e a privacidade de um ser humano. 

Recentemente em um desses reality shows, um apresentador perguntou à um de seus participantes o que valia(no jogo) por 1 milhão de reais, o participante respondeu enfaticamente que só não valia matar ou roubar. Ora, então podemos por 1 milhão de reais ultrapassar por cima das pessoas e de seus sentimentos, podemos magoá-las, fingir ser o que não somos e deixar de lado os princípios morais que proporcionam um ser humano sociável? Podemos lutar com unhas e dentes pela ambição de ser famoso e rico, sem se importar com o próximo ou com o que ele sente? 

É inegável que a mídia tem grande influência na reconstrução de um ser totalmente passivo que crê naquilo que lhe é apresentado sem analisar e discutir. Os meios de comunicação (principalmente a TV) com seus sonhos “prontos”, mesquinhos, grotescos, ora aterrorizantes, ora excessivamente românticos ou eróticos, seduzem as pessoas. A grande mídia parece preocupada em fabricar e impor os seus próprios sonhos (em novelas, filmes, “um sonho de princesa”, até a guerra hoje é oferecida em forma de “sonho americano” de liberdade, de democracia, etc.). A grande mídia trabalha, ora para realçando coisas, ora omitindo outras coisas ou fatos, ambos, no fundo visam a dominação ideológica. Padronizando uma única linguagem, a mídia termina rejeitando o potencial criativo e diversificado das pessoas sonharem por si próprias. 

Vygostsky diz que o desenvolvimento do individuo é o resultado de um processo histórico e da sua participação no mesmo seja como protagonista ou como mero expectador, ou seja, somos resultado de nossa participação na sociedade, podemos tornar-nos seres totalmente passivos ou completamente ativos e capazes de protagonizar nossa história de vida social. Os educadores, com seu papel de educar para a vida, devem desenvolver trabalhos e meios que focalizam a concepção ambientalista, proporcionando a criança uma participação ativa no meio em que vive.
 
Mas é preciso mais do que educadores para cuidarmos desse mal, também é preciso da ajuda dos pais que são tão responsáveis quanto . E se consideramos verdadeiramente que nossas crianças são o futuro da nossa nação, temos que agir logo!