Diario de um carioca bem intencionado
Era pouco mais de seis horas da manhã e eu fazia minha habitual corridinha pela areia da praia do Flamengo. De chinelos nas mãos, não me preocupava com qualquer tipo de performance, exceto estar atento ao meu limite máximo de freqüência cardíaca que aparecia no medidor tipo relógio que usava no pulso esquerdo. Em torno do meu tórax, ficava a fita elástica com o sensor que transmitia os sinais vitais. Com certeza, eu estava vivo! Não conseguia abstrair da minha mente a beleza paradisíaca que me cercava. À direita, começava a aparecer o Sol, obediente ao comando das leis naturais que regem o Universo, sem pedir licença, imponente como ele só!
Pelos modestos conhecimentos que possuo de Astronomia, dada a minha formação de Engenheiro Cartógrafo, percebi com facilidade que estava me deslocando em direção ao Norte. Para mim, é de elementar saber que o Sol nasce a Leste e se põe a Oeste, exceto nas regiões polares. Explicar o por quê desse fenômeno demandaria muita teoria que levaria para fora do contexto o propósito dessa narrativa.
A posição que eu ocupava em relação à paisagem que eu via naquele dado instante dava-me a aparente impressão de que o sol distava mais ou menos um palmo à esquerda do Pão de Açúcar. Em torno, um cenário que inundou minha alma de prazer. Era, sem dúvida, um sugestivo cartão postal ali na minha frente, tão real como o Sol que, silenciosamente, fazia seu rotineiro e conhecido trajeto.
Esse percurso eu fazia quase que diariamente, que consistia em sair do começo da praia, tendo como referência a Av. Osvaldo Cruz, em direção ao Aeroporto Santos Dumont, até o final da praia, retornando à origem, o que me tomava mais ou menos 36 minutos do meu precioso e bem empregado tempo. O suor que minava do meu corpo, como que um orgasmo relaxante, dava-me prazer.
Ao longo do caminho, pensamentos diversos brotavam na minha mente. Entre um e outro, ao ver o sol, que a essa altura já se encontrava a um palmo do horizonte, agora à minha esquerda no retorno, dediquei minha imaginação ao sentido prático que era ter algum conhecimento de Astronomia. Isso foi preponderante na escolha de um apartamento comprado na planta, quando fiz questão de me assegurar de que apenas o sol da manhã iria incidir sobre o imóvel.
O que muita gente não sabe, agora resolvi ir um pouco além, a título meramente ilustrativo, extrapolando um pouco o meu propósito inicial.
A Terra possui basicamente dois movimentos: O de rotação e o de translação. O primeiro é responsável pelos dias e as noites. A Terra gira em torno de seu eixo e o ciclo se completa a cada 24 horas. Do segundo movimento, originam-se as estações do ano. Nesse caso, ela gira em torno do Sol cobrindo o percurso em 365 dias e seis horas. No meu caso, que moro no Rio de janeiro, o Sol passa mais tempo ao Norte do que ao Sul. Considerando que a latitude do Equador é de 0 (zero) grau (medida angular) e a Latitude do Rio de Janeiro é de aproximadamente 22º 43’, sabendo-se que o Sol, com o seu movimento aparente, desce até a latitude 23º 27’ (trópico de Capricórnio), conclui-se que, apenas uma pequena parte do ano, o Sol se estabelece ao Sul do Rio de Janeiro.
Para usar-se adequadamente os referidos elementos, precisamos saber como localizar Norte. Para tanto, considerando o sol nascente, basta posicioná-lo à sua direita e o Norte estará à sua frente, o Sul à retaguarda e o Oeste à esquerda. É lógico que não é uma indicação precisa, uma vez que não estamos exatamente em cima da linha do Equador. É portanto uma indicação grosseira. Com um pouco de raciocínio, verificamos se a maquete mostrada pelos corretores está corretamente posicionada em relação ao Sol. Vale lembrar que uma simples bússola também atende para a determinação do Norte Magnético que para a finalidade basta. É bom lembrar que se a maquete não estiver corretamente alinhada poderá induzir uma pessoa a comprar um apartamento voltado para o Sol da Tarde pensando que terá o Sol pela manhã. É sempre bom levar alguém que entenda do assunto para saber exatamente o que está comprando.
Fato curioso que merece a atenção dos leigos é que, quem reside abaixo do trópico de Capricórnio, que para se ter idéia corresponde às proximidades de Florianópolis e cidades que tenham a mesma Latitude, jamais verão o Sol ao Sul das suas cidades, tais como, em Latitudes superiores a 23º 27”, ou seja, mais próximas do Pólo Sul.
Bem, lá se foi a minha literatura, mas quedei-me ao desejo de trazer alguma informação realmente útil, especialmente para aqueles que sabem o que é pegar o sol da tarde em um apartamento o tempo todo.
É difícil o ar condicionado dar conta do recado nos dias quentes, principalmente para nós, cariocas, que, com freqüência, enfrentamos temperaturas acima de 40º Celsius!
Abraços,