Jovens de Cristo, Como vive a galera católica e evangélica de Goianésia: fé, lazer, ideologia, esporte, namoro e liberdade
Foi-se o tempo em que os jovens evangélicos eram conhecidos por seu figurino mais conservador e não conectado com as tendências da moda. Também não faz mais parte da cartilha dos protestantes, pelo menos, a maioria deles, a ausência de lazer, atividades esportivas e culturais. Ser jovem evangélico e católico hoje não é sinônimo de ser carola ou careta.
Essa tendência nacional não tem sido diferente em Goianésia, cidade que reúne aproximadamente 30% dos jovens filiados e frequentadores assíduos de alguma igreja, seja ela católica ou evangélica. Programas como ir a baladas, promover bebedeiras ou ir ao motel com a namorada estão fora de cogitação para essa galera que abraçou a fé na sua caminhada. “Muita gente acha que não nos divertimos, que somos pessoas infelizes por não fazermos o que a maioria faz, mas isso não é verdade, sabemos como nos divertir”, testemunha a jovem Yara Cristina, da Igreja Missão Cristo Vive.
A agenda de atividades que os jovens participam é bastante extensa e não tem nada de chata nem pode ser tachada como programa de gente idosa. “Vamos a acampamentos, que mesclam orações e louvores com futebol, churrasco, brincadeiras e muita animação”, afirma Murilo Bastos, coordenador de música da Igreja Manancial.
Para quem imagina que toda essa abstinência ao álcool, ao sexo antes do casamento, aos programas tidos como mundanos, como o carnaval, seja um fardo difícil de carregar, esses jovens têm a resposta. “É uma questão de liberdade, é saber escolher o que é bom, fazemos essa opção por termos a plena convicção de que escolhemos o melhor não por sermos melhores mas apenas para demonstrar a todos um amor que o mundo faz questão de ridicularizar”, esta é a opinião da jovem Andreia Sousa, fiel da Paróquia Sagrado Coração de Jesus.
“A verdadeira liberdade não é ir para a balada, livre é aquele jovem que opta por não ir para a balada, não beber álcool, não fazer sexo antes do casamento, e mesmo assim ser feliz”, diz o Pastor presbiteriano Alexandre Antunes, presidente do COMEG (Conselho de Ministros do Evangelho de Goianésia).
O meio termo encontrado pelos pastores e padres para manter os jovens dentro dos templos e fora de “armadilhas” como carnaval, baladas e ofertas consideradas mundanas é oferecer uma opção alternativa. No período do carnaval, por exemplo, as igrejas se dividem entre as que realizam acampamentos em chácaras e beiras de rio e as que promovem congressos de jovens dentro da cidade.
ESPORTE
Há algum tempo futebol, voleibol ou até mesma a inocente queimada eram atividades tidas como “mundanas” e inapropriadas para os jovens evangélicos. Com o crescimento das denominações neopentecostais, o esporte passou a não mais ser interpretado como uma obra pecaminosa e se tornou até alvo de incentivo entre os fiéis. Jogadores como Kaká, por sua afirmação de fé, caráter e sucesso, são referência para a geração de boleiros evangélicos.
“Esporte é saúde física e mental, é bem estar, o diferencial do cristão é ser leal, não xingar, ofender, ser correto”, opina o Pastor Adriano Novaes, da Igreja Manancial. Mas, em 1995, por exemplo, o esporte era quase um tabu para os evangélicos. Foi neste ano que os radialistas cristãos Elienai Ferreira, Emérson Júnior e o saudoso Jamil Rabelo, realizaram a primeira edição do Campeonato Gospel de Futsal. Na época apenas quatro equipes participaram. “Havia muita resistência quanto ao futebol, tido como pecado pela maioria dos pastores”, lembra Elienai Ferreira, que de lá para cá organizou 16 torneios. No último houve a participação inclusive de uma equipe da Igreja Católica, quebrando mais um tabu.
CULTURA
Atividades culturais como dança, música e teatro, por exemplo, sempre foram vistas com certa desconfiança dentro das igrejas. Dança era apenas o fazer gestos comedidos; música somente os hinos da harpa e teatro era sinônimo de jogral. Hoje, tanto nas paróquias do Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora D´Abadia quanto nas igrejas protestantes, o público jovem, vive sem medo de ser feliz a sua fé.
O que se vê hoje nos cultos evangélicos são jovens cantando, pulando e dançando ao som de músicas mais animadas. Os jovens católicos também aderiram à força da canção e apostam cada vez mais em ritmos mais plugados aos jovens. Rock, pop, rap e até música eletrônica, todas falando de Jesus, claro, embalam os eventos religiosos. O teatro também ganhou cenário, dramatizações mais verossímeis e grupos que arrebanham fãs em toda a cidade, como o Sanctos, da Igreja Presbiteriana Renovada, que mescla teatro com dança.
Um filão que tem crescido e atraído os jovens em massa é a realização de grandes shows voltado para esse público. A demanda é tanta que a 38ª da Exposição Agropecuária de Goianésia trará os shows de Eyshila para os evangélicos, no dia 20 de junho e Adriana voltada para os católicos, no dia 25 de junho. Eventos em outras cidades também sempre movimentam o pessoal da cidade, que organizam caravanas e participam.
Os jovens católicos de Goianésia hoje contam com muitas opções de lazer como de dois a três acampamentos por ano, principalmente o de época de carnaval, a Jornada Paroquial da Juventude e festas como Tecno Cristo, com música eletrônica e muita animação. Além disso, eventos como o Passeio Ciclístico, que foi realizado de Goianésia a Rialma, movimentam os jovens católicos. “Hoje presenciamos um retorno de rapazes e moças à Igreja, que querem viver com Cristo, isso é muito positivo”, garante Padre Cléber Alves Matos, pároco da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
NAMORO
As igrejas Católica e Evangélica são contra a prática de sexo antes do casamento. Mas isso não acaba sendo um problema para a maioria dos jovens fiéis, que abraça a castidade como uma questão de fé e obediência e não apenas como o cumprimento de uma regra da Igreja. “Não concordamos com o 'ficar', para nós o namoro é um momento de conhecimento e respeito, sempre visando um passo mais sério que é o casamento”, afirma o Pastor Alexandre Antunes.
Para o Padre Cléber, o que é proposto é “um namoro santo”. “Os jovens aprendem, por opção, a respeitar os limites e abraçam a santidade, infelizmente não podemos afirmar que todos façam isso, mas uma grande maioria já vive desta forma”, diz o padre.
Antes tidos como anti-sociais, exilados culturais, caretas, alienados, hoje os jovens católicos e evangélicos vão ao cinema, teatro, festas como Pecuária, clubes, estádios de futebol, jogam vídeo-games e têm páginas no Orkut. O diferencial, segundo eles é a forma como estabelecem limites e vivem a sua ideologia, sua crença. Vão ao Scarpas, por exemplo, mas enquanto os jovens seculares pedem uma cerveja, os religiosos sentam com os amigos e namorado ou namorada e pedem uma Coca-Cola com carne na chapa. Fazem programas bacanas durante o namoro, como passeios, fazem carinhos mas se resguardam dos excessos. “Quando se tem Jesus no coração nada disso é pesado, tudo fica natural e espontâneo, não conseguiria viver de outra forma”, afirma o jovem Paulo Carvalho, da Igreja Assembleia de Deus. Em nome dele falam os milhares de jovens goianesienses que abraçam a Cristo como regra de vida.