Copa 2010: conquista ou vergonha?
Diante de inúmeros noticiários vistos por intermédio da TV, dos jornais, de revistas e da internet a respeito da Copa do Mundo, não pude deixar de observar o quanto é impressionante o fato de pessoas deixarem de lado suas tarefas diárias, como trabalhar ou estudar, para acompanharem as partidas de futebol ou outro programa relacionado à Copa e que são considerados por muitos relevantes para suas vidas. E mais chocante ainda, é quando, por exemplo, o chefe da empresa não concede licença ao trabalhador honesto e dedicado para resolver assuntos pessoais de urgência, mas permite a interrupção das atividades laborais para assistir aos eventos referentes à Copa.
Para a maioria dos amantes do futebol, o campeonato mundial é um grandioso acontecimento que propicia às seleções altos benefícios não apenas de natureza pecuniária, mas também, profissional, pessoal e cultural.
Existem aqueles que mencionam que os investimentos postos para a realização desse evento produzirão resultados satisfatórios para a coletividade, posto que haverá oportunidades de empregos, melhorias no acesso às vias públicas, crescimento do turismo, enfim, uma série de vantagens que sempre são aludidas por aqueles interessados em ganhos pessoais, a fim de evitar quaisquer controvérsias advindas da sociedade sobre tais fatos.
Ademais, é imprescindível destacar uma realidade em que muitos se consideram merecedores de tantas formas de entretenimento que não enxergam (ou fingem não enxergar) as agruras exorbitantes que estão por trás de inolvidáveis celebrações, como é o caso, das alegrias e euforias em virtude da Copa de 2010 vivenciadas à face de um retrato que transmite calamidades na vida de milhares de indivíduos.
Destarte, é tão fácil aludir que a Copa na África do Sul irá proporcionar grandes transformações culturais e econômicas para o país. De fato, é provável que ocasione esses impactos. Mas, e porque não usufruir os recursos financeiros ofertados pelo Estado para combater a extrema pobreza que flagela as vidas existentes na região africana? Ah! Esqueci! Esqueci que as pessoas estão mais preocupadas em se divertirem acompanhando as disputas acirradas dos jogos da Copa, rodeadas de amigos, festejando, com “aquela cervejinha”, as vitórias das seleções prediletas do que olhar para o inocente semblante da criança que passou a viver com dignidade.
É necessário, pois, compreender se, deveras, o país dos marginalizados é digno de acolher um evento desportivo mundial se, diante das alegrias estampadas nas nossas faces a cada conquista, estarão pessoas suplicando por, apenas, meio quilo de alimento para serem felizes.