Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador?

DIA DO TRABALHO?

“A história do Primeiro de Maio mostra, portanto, que se trata de um dia de luto e de luta, mas não só pela redução da jornada de trabalho, mas também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade”. (Perceu Abramo)

Em 1889 ocorreu um Congresso Socialista na cidade de Paris, e foi neste congresso que o Primeiro de Maio foi escolhido como data comemorativa do Dia Mundial do Trabalho. A data foi escolhida em homenagem à greve geral ocorrida nesse dia, em que milhares de trabalhadores de Chicago resolveram sair às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos. Os operários exigiam a redução da jornada de 13 horas de trabalho para 8 horas diárias. Foram organizadas várias manifestações com piquetes e discursos que movimentaram toda a cidade de Chicago. Vários trabalhadores morreram por conta da repressão policial. Mas por que Dia do Trabalho, e não Dia do Trabalhador? Será que vale a pena comemorar Dia do Trabalho? Será que não existe por trás dessa inversão de valores uma ideologia que induz-nos a acreditar que realmente é o Dia do Trabalho que devemos comemorar ao invés do nosso dia? No livro Ideologia do Trabalho vemos como o trabalhador sempre é induzido a acreditar no trabalho de tal forma que nem se dá conta de que está sendo explorada, é como que uma lavagem cerebral. “Trabalhar é uma atividade tão natural que a grande maioria das pessoas nem se dá conta de quanto esse conceito está carregado de influências ideológicas”. (Paulo Sérgio do Carmo). Vale apena ler esse livro. È tão forte a ideologia do trabalho na cabeça do trabalhador que o trabalho passa a fazer parte da vida dele, torna-se um culto ao trabalho, o trabalhador perde a sua identidade e passa a identificar-se com a empresa onde trabalha e há relatos de trabalhador japonês que já nem se apresenta mais como uma pessoa e chegam a apresentar-se assim: “Oi, eu sou Mitsubishi” ou, “Eu sou Hitachi”. Essa é a mais completa alienação do trabalhador para a qual Marx chamou a nossa atenção. Uma das maneiras de inculcar essa ideologia na cabeça do trabalhador é transformar o Dia Primeiro de Maio de Dia de Luta em Dia do Trabalho, de Dia de Protesto em dia de festa. Hoje os patrões comemoram esse dia comendo churrasco com os trabalhadores dentro das fábricas, promovendo desfiles de modelos entre funcionárias, bailes e premiações com relógios banhados a ouro oferecidos ao funcionário padrão do ano, quantas vezes assití pessoalmente esse episódio dentro da ENGESA em Jandira. Trabalhei nessa empresa até a falência em 1990, depois disso, virei professor. Mas na Grécia houve protestos contra o aumento do tempo da aposentadoria do trabalhador. No país berço da democracia o pau quebrou e os DEMOS (grupos organizados e populares) foram pras ruas, como na antiga Atenas. Aqui parece ter sido meio tímida a reação dos trabalhadores, aliás, acho que nem há mais reação alguma, pois o neoliberalismo consegui “quebrar o espinhaço dos sindicatos” como prometeu Fernando Henrique antes de ganhar.

Entre 1930 a 1940, o trabalhador ganhou três coisas de Getúlio Vargas: a carteira de trabalho, a Justiça do Trabalho (1939), o salário mínimo e uma legislação trabalhista de presente conhecida por CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e entre os direitos trabalhistas estão a semana de 48 horas e as férias remuneradas do trabalhador. Pra completar a façanha, em 1954 Vargas elevou a 100% o valor do salário mínimo, um aumento que a elite empresarial considerou abusivo. É ai que começou a história das “forças ocultas” - que não eram ocultas coisíssima nenhuma- que levariam Getúlio ao suposto “suicídio”. “Saio da vida para entrar pra história”, disse Vargas em sua carta-testamento escrita minutos antes da sua morte. Com todos esses direitos, o trabalhador sentiu-se realizado, só que o trabalhador que fez de Getulio um herói, não sabia que Getúlio, ascendia uma vela pra Deus e outra para o diabo. De praxe, deu-lhe Getúlio ainda, um “Sindicato” atrelado aos patrões e ao Ministério do Trabalho que foi criado em 1930 conhecido como O Ministério da Revolução. Em 1937 Vargas criou a estabilidade do emprego, coisa que os trabalhadores praticamente está perdendo com a proposta neoliberal imposta ao país no governo de Collor e Fernando Henrique Cardoso, entre 1990 a 2002, processo perverso, que não foi rompido no governo Lula (2002 a 2010) e que continua colocando em cheque os direitos trabalhistas. Para limitar os filhos dos trabalhadores, Vargas deu um jeitinho de criar o SENAI, oferecendo cursos técnicos aos jovens que não passaria daí para uma faculdade. O estudo universitário continuou sendo coisa para filhinhos de papai. O SENAI criado em 1942 preparava os filhos dos proletários para apertar botão de máquinas e seguirem a carreira dos pais trabalhadores e os filhos dos patrões eram preparados para continuarem sendo patrões no futuro. Em 1945 foi criada a CGTB- Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil. Se há alguma semelhança com a CGT de hoje, não é mera coincidência, pois o “peleguismo” vem de longe.