Uma coisa levando a outra*

Não costume abrir todas as mensagens que recebo pelo meu endereço eletrônico, principalmente as que chegam com arquivo e são muito longas. Seleciono. Mesmo as enviadas por pessoas queridas. A razão é simples. Se fosse ler tudo o que recebo não faria outra coisa na vida. Mas tenho sorte. Quando abro, acerto. É sempre algo bom que se acrescenta a minha vida.
 
Nessas mensagens tenho percebido que atribuem certos textos a pessoas que eu fico inclinada a pensar que não foram escritas por elas. Sei de autores famosos que levam o maior susto quando encontram algo atribuído a eles e que nunca nem leram. Imaginem então as personalidades já falecidas. Usam e abusam de seus nomes. Por isso meu escrúpulo quando tenho que atribuir a alguém, algo que duvido seja dele. Mas como não é meu também, não tenho outra solução.
 
Ontem mesmo recebi um PPS lindo que se encerra com uma frase atribuída a Einstein. Não vou repeti-la tal qual a li, mas dar-lhe o sentido que atribui. Diz que, entre ser um sucesso ou um homem de valor, devemos sempre escolher ser um homem (ou mulher, é claro) de valor, porque o sucesso será consequência. Essa frase ficou pipocando em minha cabeça o dia todo. Até que eu, consultando um calendário de datas comemorativas, vi que hoje 27 de abril, é Dia do Sacerdote. Então, a frase começou a puxar uma linha que acabou indo de fio a pavio.
 

Não sou mais uma pessoa religiosa, apesar de ter sido criada dentro de uma religião. Por isso posso dizer que convivi com muitos sacerdotes e conheci alguns de muito valor. Foi o que escolheram para suas vidas – valores religiosos que de forma nenhuma podem prescindir dos valores morais. Com um deles, o Padre João Batista Prost, aprendi muito. Uma das coisas que aprendi foi que, o nosso caminho somos nós que o escolhemos. E se o escolhemos temos que seguí-lo de acordo com as regras, não por que sejam regras, mas porque fazem parte desse caminho. Então, se escolhi ser um Religioso e essa escolha só pode ter sido baseada na Fé, tenho que fazer o máximo para respeitar os valores dessa Fé.

A Igreja Católica tem como um de seus valores o Celibato dos sacerdotes. A Igreja Católica acredita que a única função do sexo é a procriação. A Igreja Católica afirma alto e em bom tom que sexo fora do casamento é pecado. Não sou eu que afirmo. Nem Deus. É a Igreja. Então penso que, aqueles que se dispõem a serem Sacerdotes dessa Igreja, no mínimo têm é que respeitar esses valores. Um sacerdote não sobe em um púlpito para dizer: Façam o que eu falo, mas nunca o que eu faço. Um bom número deles sobe é para nos ameaçar com o Fogo do Inferno, enquanto se esbaldam em sua vida privada, sem nenhum medo desse fogo.
 
Como eu abri mão de seguir uma religião, procuro também não criticar quem segue, fiel ou sacerdote. Mas há uma coisa de que não abro mão. De execrar todos os pedófilos . Qualquer pedófilo. Sexo entre adultos para mim é problema só dos adultos e nenhuma Igreja deveria se meter. Mas pedófilo é um ser abjeto e mais abjeto fica ainda quando se esconde por trás das portas de uma Igreja.

O mundo todo está perplexo com as revelações de pedofilia praticada pelos mais altos mandatários da Igreja. Os escândalos estouram por aqui também. E ainda temos que ler declarações de certo indivíduo nas Alagoas, um homem velho e que portanto deveria ser mais sábio, principalmente face a função que exerce e ao título honorífico que recebeu, comparar-se com Jesus Cristo – “Fui condenado e apedrejado, assim como aconteceu com Jesus”. Pobre Jesus, homem que pautou sua vida por valores e por eles morreu, razão porque sua vida não foi inútil, transformando-se, isso sim, por seu exemplo, em um dos maiores sucessos da humanidade. E agora vem esse Monsenhor, que deveria estar não em prisão domiciliar, mas isolado em uma cela de segurança máxima, choramingando como um hipócrita.

Pessoas como ele e outros semelhantes, que arrotam valores que realmente não vivem são uma vergonha para a raça humana. E o pior é que tem gente que os defende. Fico tão indignada quando uma coisa dessas acontece que perco a Fé nos homens e cada vez mais me afasto de qualquer religião criada por eles. O bom na minha vida é que eles não conseguem é me afastar da certeza de que existe um Ser superior, mas realmente superior, muito além das mesquinharias dessa vida e ao qual um dia nos integraremos.
 

*parece que é assim que escrevo, começo aqui e acabo ali.