A Formação do Aluno Leitor
Sirlane Santos¹
Este trabalho refere-se ao estudo de um caso identificado em uma escola de Ensino Fundamental no bairro do Líder da cidade de Jacobina no estado da Bahia, referente à formação do aluno leitor em uma turma de, 7ª e 8ª série do Ensino Fundamental.
As situações que descreveremos foram observadas durante as atividades do componente curricular de Prática Pedagógica III, que foram desenvolvidas em uma escola de Ensino Fundamental.
Neste rápido estudo de caso, almejamos despertar o lado crítico de cada indivíduo acerca de como está sendo trabalhada a formação do aluno leitor em sala de aula. Nesse sentido, é interessante relatar algumas experiências vivenciadas no período de observação frente à prática docente, que utiliza o texto com único objetivo de extrair informações do mesmo.
Percebemos que ao descartar as possibilidades que o texto fornece de fazermos outras leituras, estamos limitando o texto ao mero objeto de uso.
Diante das dificuldades dos alunos com escrita, leitura e interpretação de texto, vivenciados no cotidiano de grande parte dos estudantes de Ensino Fundamental, percebe-se a necessidade de observar com mais atenção, como está sendo trabalhada em sala de aula a formação do aluno leitor? Qual a visão do aluno frente à atividade de sala de aula desenvolvida pelo professor? Questões como essas é que nos move a observar a prática de leitura de textos diversificados na sala de aula. O importante é que o aluno adquira o gosto de ler pelo prazer de ler, não em razão de cobranças escolares.
A formação do aluno leitor muitas vezes, não é desenvolvida em sala de aula de forma sensata. O aluno tem que sentir o texto como um processo de descobertas que contribui para o melhor uso das regras ortográficas e ampliação do próprio vocabulário. Podendo ser trabalhada a linguagem voltada para o desenvolvimento individual e social do sujeito.
Nos dias atuais, na prática escolar, um dos fatores imprescindíveis para o desenvolvimento dos jovens estudantes, tem sido a leitura. Fator importante que oferece a condição de conhecer o mundo, desenvolver a sociabilidade, aprimorar o entendimento das coisas, e a exposição das idéias.
A leitura tem que ter funcionalidade. Para tanto, surge à necessidade de dar aos alunos a oportunidade de conhecer a diversidade textual, identificar nos textos as semelhanças e diferenças, reconhecer suas diversas estruturas, contribuindo assim, para o exercício da leitura, a obtenção de informações, a familiarização com o mundo letrado, e a melhoria no ato da interpretação e das produções textuais.
Segundo Freire (1997, p. 11) “a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”.
Daí, a importância de desenvolver um trabalho de leitura, levando em consideração a experiência pessoal do aluno para a construção do sentido do texto, e não apenas trabalhar informações prontas, às vezes sem sentido, pois pode fornecer ao aluno um conjunto de fragmentações que não contribui para o seu desenvolvimento crítico.
A leitura deve ser uma atividade que proporcione aos jovens estudantes a compreensão das variadas funções sociais da mesma, facilitando assim, a compreensão de tudo que se lê, pois ela coincide com a realidade que vivenciamos fora da escola. A leitura faz parte da vida, do contexto em que estamos inseridos.
Dessa maneira, formação do leitor, leitura e realidade estão interligadas, e são fatores que facilitam a compreensão de todas as coisas. Assim, o trabalho com leitura, deve estar pautado em textos diferenciados e posicionamentos críticos, resultando numa compreensão clara dos fatos ou informações, as quais os alunos têm acesso. Não se pode restringir a leitura a um simples processo de decodificação. Existe a necessidade de trabalhar o mesmo com base nos diferentes gêneros textuais, fazendo o aluno perceber que existem várias maneiras de ler um texto, que lemos com determinados fins, propiciando assim a condição de verdadeiros leitores e produtores de texto.
A formação do aluno leitor está ligada à necessidade de formar indivíduos críticos, reflexivos, capacitando os mesmos a se posicionarem diante do mundo através de suas habilidades de expressão de idéias, diminuindo a distância entre leitura e produção textual, elaborando situações que acionem as estratégias de compreensão e interpretação, possibilitando amadurecimento e autonomia para o leitor, não só de textos, mas leitor de um mundo melhor.
Assim, esse processo de trabalho com leitura e compreensão requer a aprendizagem e o uso competente das estratégias de leitura para aprender a partir de textos identificar o objetivo da leitura, integrando a nova informação com o conhecimento prévio, sabendo buscar, resumir, sintetizar e reorganizar as informações, lendo a partir de diferentes fontes. Tudo isso vinculada a uma ampla variedade de gêneros.
Falar sobre leitura é desafiador. Principalmente quando estamos diante uma sociedade, que ainda hoje, possui milhares de analfabetos, e a pergunta é: como sanar essa necessidade? Há algumas respostas que não vamos conseguir tão facilmente, pois envolve disponibilidade, força de vontade, condição, tempo, paciência, entre outros motivos que são razões particulares de cada ser humano que compõe essa sociedade tão mista na qual vivemos.
Para Eliana Yunes, “ler é um ato homólogo ao pensar, só que com uma exigência de maior complexidade, de forma crítica e desautomatizada. Quem não sabe pensar mal fala, nada escreve e pouco lê. Não seria, pois, o caso de inventar o processo de investigar como a formação do leitor pode fazer passar da mera alfabetização à condição efetiva de ‘pensador’?” (YUNES, 2002, p.16).
O sujeito tem que se familiarizar com as histórias que são contadas, para que, em sua condição de leitor o mesmo possa se descobrir e se identificar com a leitura. Essa é só uma motivação que pode ocorrer para que a partir das experiências o sujeito amplie sua visão de mundo.
Estamos envolvidos nesse universo com a leitura, temos que ter como objetivo a tarefa de aproximar da melhor forma o indivíduo desse espaço o qual ele faz parte. Assim, podemos despertar o senso crítico e avaliarmos com mais cautela, o juízo de valor que todo ser humano possui. E através da linguagem podemos diminuir essa distância.
Segundo Yunes (2002, p.30) “É a consciência de que a linguagem constitui o homem particularizado pela força das vivências pessoais que se entrecruzam com a de outros em diferentes agrupamentos sociais enquanto percebidas nas suas diferenças, que permitirá ao falante realizar um distanciamento crítico e peculiar, capaz de imprimir à sua voz uma pessoalidade singular.” De fato, a linguagem faz parte de um agrupamento social, que não deixa de ser complexo e particular algo especial, porém, cheios de indagações.
Sabemos que apesar da diversidade de livros existentes, das diversas formas de leituras, ainda assim, é difícil fazermos uma avaliação, para entendermos, como está sendo as práticas leitoras dos estudantes de Ensino Fundamental e Ensino Médio. Pouco está sendo a atenção dada aos livros, que geralmente, servem somente como enfeite para a estante de muitos. Em alguns casos, existem também, aqueles “falsos leitores”, que se preocupam somente em olhar no livro a quantidade de gravuras existentes, dando pouca atenção ou nenhuma para o restante do conteúdo que compõe o livro.
Quando nos comprometemos a fazermos uma leitura de um livro, para um bom leitor não está em pauta, à quantidade de páginas ou tão pouco se necessita da ajuda de um dicionário para auxiliar-lhe em algumas palavras. O leitor ler pelo prazer de ler.
Outrora, as pessoas se comprometiam mais com o ato de ler, no entanto, a quantidade de alfabetizados era pouca. Hoje, a realidade mudou, porém, as pessoas não se comprometem mais em ler, devido outros elementos mais “atrativos” que vem invadindo todo o espaço da vida humana.
A prática leitora provoca no ser humano, a tentativa de entender o mundo. Compreende-se a partir do momento que avançamos a cada dia, a vida é transformada, no processo lento, mais gratificante em vermos a nossa sociedade “abraçando” a leitura como parte integrante de sua vida.
Pensar em leitura e na formação do leitor é pensar em uma humanidade mais ativa e reflexiva em relação às problemáticas do cotidiano.
Segundo Marcel Proust “[...] a diferença essencial entre um livro e um amigo não é sua maior ou menor sabedoria, mas a maneira pela qual a gente se comunica com eles; a leitura, ao contrário da conversação, consistindo para cada um de nós em receber a comunicação de um outro pensamento, mas permanecendo sozinho, isto é, continuando a desfrutar do poder intelectual que se tem na solidão e que a conversação dissipa imediatamente, continuando a poder ser inspirado, a permanecer em pleno trabalho fecundo do espírito sobre se mesmo(PROUST,p.81. apud. Geraldi).”
Em muitos casos, a leitura está atribuída à destinação de notas e não é isso que deve acontecer. O leitor tem que ler o texto e sentir o mesmo como um diálogo com outro.
Para Marisa Lajolo (1982ab, p.59. apud. Geraldi) “Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ele, propondo outra não prevista.” O professor deve conduzir o aluno à leitura em condições de interpretar o que lê e perceber o modo de organização dos diferentes textos.
Com base nas observações realizadas, podemos perceber, que nas turmas de 7ª e 8ª série observadas, a orientadora do curso, ou melhor, a professora responsável pela turma não explorava as tipologias textuais existentes. Pouca atenção dava-se a interpretação e proximidade existente entre o texto e o aluno leitor.
Os textos trabalhados eram como um jogo de “caça-palavras”. A professora pedia para que os alunos fizessem a leitura e ela como orientadora do trabalho ia apresentando os significados das palavras que eram desconhecidas para os alunos. Toda aula foi ministrada dessa forma, e o texto para mais nada servia.
As produções textuais realizadas tinham como objetivo uma nota a ser recebida no final da unidade. Nesse sentido, é que se faz importante analisar a postura do professor frente a essa prática. A leitura está atribuída à destinação de notas e ponto final. Essa postura é que nos faz perceber o quanto há uma enorme distância entre o que estudamos e o que observamos na prática.
Referências
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 33ªed. São Paulo: Cortez, 1997.
YUNES, Eliana. Pensar a leitura: complexidade. 2ª Ed.- Ed. PUC- Rio; São Paulo: Loyola, 2002.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. (org.) Milton José de Almeida; Lígia Chiappini de Moraes Leite; Haquira Osakabe; Sírio Possenti; Lilian Lopes Martin da Silva; Maria Nilma Goes da Fonseca; Luiz Percival Leme Britto. Ed.ática. 3ªed. 5ª impressão, 2002.