A RETÓRICA QUE REVELA

“Ser exigente não é mera questão de opção: trata-se de externar uma característica dominante, que adquirimos pela formação educacional no meio familiar e corroborada na escola.”

Na década de oitenta, entre tantas boas oportunidades de ampliação de meu lastro cultural, participei, como representante do S. I. News – Jornal dos Empresários, da região de Santa Ifigênia, São Paulo, de um evento realizado no auditório do Gallery, denominado MEGATRENDS-2000. O casal de sociólogos norte-americanos John Nasbicht e Patrícia Aburdene eram os protagonistas do evento, que consistia em ANTECIPAR as MEGATENDÊNCIAS para o início do século XXI.

É importante frisar que a visão antecipada nem era oportunista e menos ainda adivinhatória. Tratava-se, como bem conceituam os lexicógrafos sobre sociologia, do estudo do conhecimento objetivo da realidade social. Entre as previsões fruto das megatendências, encontravam-se:

- A explosão econômica global;

- Renascimento nas artes;

- A emergência de um socialismo de livre-mercado;

- Estilo de vida global convivendo com o nacionalismo cultural;

- A privatização do ‘welfare state’;

- A ascensão da orla do Pacífico;

- A década das mulheres na liderança;

- A era da biologia (biotecnologia);

- Renascimento religioso;

- O triunfo do indivíduo.

Sabemos que nem tudo se concretizou. No entanto, no geral, muito do que foi preconizado acabou se cumprindo. Mas, a grande pergunta que o leitor deve estar fazendo é: o que tudo isso tem a ver com o futebol. E a resposta a essa pergunta é: com o jogo de futebol, nada; mas com a gestão do futebol, tem muito a ver.

Na verdade, se nossos dirigentes fossem alcançados ao menos por parte da revolução que vem ocorrendo no mundo ao longo das duas últimas décadas, nossos clubes já teriam mudado seus perfis para melhor a pelo menos uma década. E o pior é que em não mudando, eles influenciam negativamente o comportamento dos atletas, que continuam fazendo-os refém da mera possibilidade de bons resultados que eles representam.

Bem recentemente, o jogador Luiz Carlos, do Fortaleza, em tom reconhecidamente cínico, expressou, via discurso indireto, que havia (ou ainda há) uma capacidade de produção reprimida do elenco tricolor. E o pior é que as pessoas encaram tal situação com extrema naturalidade, como se fosse normal o boicote ao clube ou a negação da contraprestação do atleta ao clube que lhe paga.

A propósito, nada mais desmoralizante para os dirigentes tricolores nos últimos tempos que a contratação do jogador Luiz Carlos. São meses e meses acima do peso, além de um inesgotável repertório de problemas criados, dificultando a instauração de um clima harmônico e desrespeitando os próprios companheiros.

Se sairmos das entidades de prática desportiva e entrarmos no domínio da entidade-mor de administração do desporto (a nossa FCF), aí teremos uma amostragem das mais irrefutáveis de uma mentalidade atrasada, preconceituosa e anacrônica, o que não impede que se faça uma revolução a partir das mentes das pessoas. E, neste sentido, a bem da justiça, já se faz notar algumas atitudes que sinalizam a presença de certa vontade política.

Se não se pode mudar as pessoas, estimulemos a mudança nas pessoas, de preferência sem os extremos da deusificação e da demonização.

O triunfo do indivíduo preconizado pelo ‘Megatrends-2000’, embora se mostre até aqui inatingível, não deve jamais deixar de nos inspirar e animar, até mesmo como condição redentora da espécie humana.