O que é melhor, perder uma padaria ou ficar protegendo um único pedaço de pão que se tem às mãos, e o que é melhor, continuar semeando o campo, correndo o risco de perder toda a lavoura ou, matar primeiro as saúvas? O que você escolheria...?
O ABANDONO DA EDUCAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO
São 16 anos de abandono do bem mais precioso de uma nação: a educação. Tem gente que por ignorância, outro por estar numa situação mais confortável e querendo manter seu status e outros por sues argumentos reacionários fazem críticas à greve dos professores.
As desculpas mais esfarrapadas são feitas neste momento, por pessoas que talvez se achem beneficiadas ao longo desses 16 anos de sucateamento da educação, talvez alguns mais alienados não consigam enxergar a manipulação do governo que dividiu a categoria em “castas” e letras, das quais a categoria Ó não tem quase nenhum direito: 2 abonadas por ano; perder o vínculo e ficar 200 dias sem aulas no ano posterior etc. Em geral, todos estão sendo prejudicados com as medidas do governo tomadas a partir das leis 1093 e 1094 de 2009. Aqueles que criticam os professores e usam sempre os mesmos argumentos dentro e fora da escola. Até quem não enxerga o desrespeito do governo aos direitos desses profissionais conseguem em seus discursos apelarem pelo DIREITO dos alunos. Direito? Direito de ter uma escola sucateada? Direito de se espremerem numa sala de aula com 55 alunos? Direito à violência lá fora, quando nem ronda escolar existe? Direito a não ter um benheiro decente? Direito a não ter uma biblioteca decente, sala de informática, laboratório e sala de vídeo? Ainda tem gente dando uma de defensor do direito de estudante, quando não sabe nem como funciona uma escola da periferia? Direito existiria sim, se o governador não deixasse de investir 9 milhões na educação como fez nos últimos anos. Direito existiria se esse governo não tivesse queimado dinheiro público deixando chegar às escolas livros com palavrões, cadernos de atividades errados, inclusive com mapas da América do Sul com o Paraguai aparecendo três vezes e o Uruguai excluído do mapa: isso é direito? Quando se gastou para recolher todos os livros com erros? Quem diz que os mais prejudicados são os estudantes não sabem que os estudantes já estão sendo prejudicados pela própria política do governo há 16 anos.
Não é de agora que o descaso com a educação tem sido objeto de crítica, descontentamento e protestos dos professores, isso vem rolando desde Covas e só tem aumentado. Falar de direito para quem não vive a educação por dentro é fácil, o difícil é falar de direito lá dentro, quando esse mesmo direito é desrespeitado no dia-dia do professor que precisa até fazer teatrinho para chamar a atenção da classe superlotada e com mais de 1800 alunos para cuidar, alunos especiais, cada um com um nível diferente em sua deficiência, casos mais diversos, e um professor com 50 alunos na sala. Assim é fácil falar de professor quando este profissional resolve protestar. Viver na pele de um professor, isso não! Ver o que um professor e uma professora passa numa escola precária, isso não!
Se for pra falar em direito, que tal falar das crianças dos faróis? Que tal falarmos do direito à isonomia, isso os pobres vem perdendo no Estado Neoliberal tão consagrado pelo artigo 5º da Constituição, mas tão profanado pela política neoliberal adotada e consolidada por Fernando Henrique Cardoso e pela tal da Globalização Mundial onde os mais ricos sobrepujam os mais pobres fazendo aguçar a miséria e as desigualdades? Que tal falar de direito para aqueles que não tem mais nem o direito ao Habeas Corpus que se consolida no direito de cada cidadão poder se locomover com segurança, indo ao serviço e voltando são e salvo para sua família? Não existe habeas corpus para pobres trabalhadores que se encontram reféns do crime, sem habeas corpus não há lazer, porque se tem medo até de sair pra se divertir. São tantos direito que não temos, então não sejamos hipócritas. Deixe esse discurso vazio pra lá e ajude os professores a conquistar pelo menos o direito de negociar com o governador. Vários pedidos de audiência já foram protocolados pela APEOESP junto à ALESP e o governador não atendeu nenhum pedido. Agora, quarta-feira, se Deus quiser ele há de atender. Todos querem o fim da greve, só o governador que fecha os olhos para a problemática da educação. Não são só professores que se encontram insatisfeitos. Estão juntos nessa luta vários sindicatos, inclusive dos Diretores (UDEMO), Supervisores (AFUSE), funcionários (APASE) e aposentados do magistério (AMPESP). Todos estão nessa luta unificada. Como um governo não recebe essas instituições representativas para um diálogo aberto? Cadê a democracia? Não existe, quando um governo viola os direitos de uma categoria. Não existe democracia se essa categoria não puder se defender contra os abusos que sofre. Não existe democracia se a tirania está instalada há 16 anos no Estado de São Paulo. Vivemos numa MONARQUIA disfarçada, a monarquia dos tucanos, e agora estamos na dinastia Serra que logo irá cair. Não existe democracia com um governo que violou a Constituição Federal, a LDB e o Plano de Carreira dos professores. Democracia na escola? Não existe, por que nem professor e nem estudante é consultado para saber se um determinado Plano de Currículo é o mais adequado para aquela comunidade onde a escola está inserida. Democracia é uma mão dupla: eu te respeito, mas você deve fazer o mesmo, e não é isso que está acontecendo. Não existe democracia sólida com aumento de violência nas escolas. A democracia só irá existir se forem respeitados alguns princípios: direito de ensinar-aprender, liberdade de cátedra do professor, autonomia cidadã nas escolas, isonomia para todos, habeas corpus para todos os cidadão poderem transitar dentro de sua comunidade sem ser ameaçada de morte ou coagida, enfim, respeitar a Lei Federal e não rasgá-la na cara de toda a nação brasileira como o governador tem feito agora com os professores da rede estadual de educação de São Paulo. Ainda quer falar de direitos?
Quais são os discursos dos professores e diretores durante os comandos de greve?
Durante os primeiros 15 dias da greve dos professores, os velhos e ultrapassados discursos vieram à tona. Desculpas esfarrapadas e as mesmas justificativas de cerca de vinte ou trinta anos atrás, alguns são mesmo tão ruins, que nem o discurso mudou. Quando digo ruins, não é no sentido de serem incompetentes, a maioria até sabe reproduzir bem o caderninho que a Secretaria da Educação, o governo Serra, seu secretário e sua equipe de especialistas tecnocratas prepararam, e enviaram para as escolas estaduais. Apesar dos erros graves, tem professor adorando e até elogiando o caderninho. Claro, é mais cômodo para enrolar o aluno, e para quem já se encontra com a mente e seu senso crítico deteriorado, e quem tem a mente cauterizada, nem percebe a ideologia do governo tucano, há uma mensagem subliminar implícita no desenho do mapa de São Paulo que se encontra impresso na capa. Não percebeu? Olhe direito!
O desenho do mapa de São Paulo mais parece um tucano, do que o mapa do Estado de São Paulo propriamente dito. Veja a figura do tucano em forma de mapa no blog... blog:http://paulinhistory.blogspot.com/http://paulinhistory.blogspot.com/
A IDEOLOGIA DA REPRESSÃO
Bombardeados por uma ideologia repressiva, reacionária e fascista, alguns professores parece ter perdido o senso de cidadania, matéria, aliás, que muitos não se pode ensinar, se a prática do mestre não condiz com o que ensina, e o “faz o que eu mando, mas não faça o que eu faço” não vale para quem se julga formador de opinião. Não se ensina cidadania sem ser cidadão, quem não reconhece os seus direitos não tem condições para dar uma palestra sobre direitos, do mesmo modo que quem não cumpre com os deveres não pode cobrar seus direitos. Direito e dever é uma mão dupla. Cidadania se faz na prática, nas ruas, nos embates políticos, nas discussões em grupos, no senso de união coletiva, no importar-se com os colegas, no ser solidário, no na competência de analisar criticamente e saber reconhecer quando uma medida é desfavorável a uma categoria, é fazer-se presente na hora certa, é respeitar a opinião de uma maioria tomada em assembléia mesmo não tendo participado dela. Discutir com colegas professores a respeito dos seus direitos tornou-se constrangedor e, é mais fácil falar do BBB 10, que rendeu milhões a Rede Globo, Pedro Bial, e Dourado (vencedor do BBB 10), que convencer alguns professores de Jandira, Grande São Paulo, a participarem da greve decretada no último dia 5 de março de 2010. Nos primeiros 15 dias percorri várias escolas neste município. Em uma escola, o comando de greve nem ousou freqüentar, sozinho e inutilmente procurei falar do assunto numa reunião de HTPC, mas foi em vão, os professores e professoras pareciam anestesiados. Uma até me disse: “Espere em Deus e tenha paciência”. Só faltou citar um versículo da Bíblia para mim. Impregnados por uma visão medievalesca e retrógrada, nem mesmo os mais ilustres dos filósofos iluministas poderiam iluminas tais mentes obscuras pela religiosidade, comodismo e adaptada às vontades do sistema opressor que hora esmaga os educadores das escolas públicas paulista. A escola “D”, melhor chamar assim para evitar algum desagravo, é composta por um grupo completamente inerte ao que está acontecendo. Eles parecem não sentir a situação! Por outras escolas percorridas nos primeiros 15 dias, os discursos e a retórica eram os mesmos. A mesma ladainha da greve de 1993, a maior que participei, as mesmas desculpas das greves da época de Maluf e Quércia. Até quando vão continuar inventando desculpas? Irritado cheguei a dizer: “troca o disco professor! Troca o disco professora, já está arranhado de tanto dizer as mesmas desculpas! Jandira não parou! Ou melhor: parou sim, mas no tempo. Muito desse município que não aderiram e nem pararam pelo menos, nos primeiros 15 dias da greve, forçaram outros a voltar, coisa que ocorreu numa determinada escola conhecida. O curioso é que os professores menos críticos à atual situação vexatória em que nos submete o governo nem passaram na prova de meritocracia e alguns efetivos que não fizeram por terem perdido a data da incrição ao reclamar em uma dessas escolas, ouviu de um colega bem conceituado formado pela USP, SP e que por sinal estava na luta nos primeiros 15 dias da greve o seguinte: “Pois é professora, quando estávamos tentando convencê-la de que era necessário lutar a senhora não esteve junto com a gente na greve”. Disse mais o colega: “Agora é tarde, não adianta chorar o leite derramado”, completou. Parabéns professor “G” por dar esta resposta.
Alguns professores que tiveram medo de sair para a rua, e que tiveram medo de deixar os alunos para aderir a greve mais alguns, e não todos os diretores, usaram o mesmo discurso de sempre: “Já lutei muito no passado”. Para dramatizar, alguns faziam questão de lembrarem momentos de greve e com um discursinho fajuta, retrógrado e conservador desmobilizavam sutilmente o movimento com as seguintes palavras:”Até da tropa de choque já apanhei. Na minha época o pau quebrava, lembra?” Pior é que quase ninguém se lembra, pois quem muitas vezes fala, nem estava lá, mas faz o discurso de quem está “desanimado”, como alguém que deixou de lutar e agora fica jogando a culpa na APEOESP. Até da Bebel falaram. É mais fácil tais pessoas falarem bem da CPP- Centro do Professorado Paulista cuja luta só se traduz em lazer do que da APEOESP que sempre encabeçou a luta dos professores pela educação. A UDEMO, APASE, AFUSE e AMPESP estão juntos na luta dos professores. Mesmo com a UDEMO- Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério muitos diretores tem feito um discurso contrário à greve dos professores. Claro, como é esse discurso? Assim: “Olha professores, como diretor eu não posso impedir ninguém de entrar para dar a sua aula, mas também não posso impedir nenhum professor de aderir à greve, mas só que... Quem não quiser parar, vá à minha sala e fale comigo. Nenhuma falta pode ser justificada, eu injustificarei todas as faltas...”. Claro, esse é um discurso que nem deveria ser feito e se tem algum borra botas medroso, o medo aflora no instante do discurso. Lembro-me de um episódio em que um grupo de professores decidiram parar na greve de 2008 e num momento infeliz um professor falou do Período Probatório e que a greve iria prejudicar quem estivesse nessa situação. O que aconteceu? Dez minutos depois um por um procurou a sala da diretora e a lista que tinha sido assinada para parar naquela greve logo ficou vazia. Todos voltaram correndo! Claro, o que o professor levantou naquele instante, foi sutilmente endossado por muitos diretores em muitas escolas naquele ano. Como não bastasse, nos primeiros dias que percorri algumas escolas, algumas falas de professores foram as seguintes:
- “Não adianta lutar, a educação está falida!”
- “Na greve de tal ano os professores queriam a greve, mas a APEOESP recuou, por isso não entro mais em greve!”
Uma professora teve a pachorra de dizer:
- “O professor “C” quase morreu numa dessas greves, lembra? Covas foi atingido e o professor foi preso, depois disso jurei, que nunca mais entraria numa greve!”. Para azar dessa professora, a esposa do professor “C” estava bem atrás dela, ajudando o comando de greve. Virando para aquela professora veementemente disse: “Eu sou a esposa dele, tenha mais respeito, e pra seu governo, esse professor que você disse ter quase morrido, está vivo, vivo e na luta, e eu, estou aqui também”, completou. A professora que queria usar aquela desculpa esfarrapada não sabia aonde enfiar a cara, pediu mil desculpas à professora. Foi hilária aquela situação. Vejam, essas são apenas algumas das respostas daqueles que não queriam fazer nada além de dar suas aulas.
Uma metáfora para quem não sabe lutar: não comerei pão hoje para ter a padaria amanhã e não semearei a terra para ter salvo toda a lavoura amanhã.
Muitos professores quando chamados à luta diziam: e o meu pagamento, como ficaá? E as minhas contas, quem irá pagar? E a prestação do carro? E a conta de água e de luz? Todos tinham sempre as mesmas justificativas. Há até quem dissesse: “Tenho um compromisso familiar e não poderei comparecer”. Só faltou alguém dizer: “Meu pai faleceu ontem e terei que enterrá-lo, portanto, aceite minhas escusas”. Outro dizia: “Comprei uma junta de gado e tenho que ir vistoriá-lo, portanto, não poderei ir”. Claro, estas são apenas algumas paráfrases da parábola do “Grande Banquete” que Jesus contou. Veja um trecho da parábola na integra:
“Jesus, porém, lhe disse: Certo homem dava uma grande ceia, e convidou a muitos.
E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: vinde, porque tudo já está preparado.
Mas todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e preciso ir vê-lo; rogo-te que me dês por escusado.
Outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me dês por escusado.
Ainda outro disse: Casei-me e portanto não posso ir.
Voltou o servo e contou tudo isto a seu senhor: Então o dono da casa, indignado, disse a seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos”.
(Evangelho de Lucas 14:16 a21)
O Mestre quis falar da falta de compromisso das pessoas para com o Reino de Deus, então contou essa parábola. As pessoas continuam com as mesmas justificativas para não participar de uma atividade que interessaria a todos e que beneficiaria a todos. Cada um grudou no seu próprio mísero pedaço de pão e não quer soltá-lo com medo de perdê-lo, e se puder, ainda arranca a força, o pedaço de pão que o outro leva consigo. Isso é claro, me refiro às atribuições de aulas onde um quer passar por cima dos outros. Porém, tenha certeza de uma coisa... É melhor abrir mão do pedaço de pão que se tem hoje, e ir à luta, que perder toda a padaria amanhã. Se for preciso, não semeie hoje o seu campo, pois as “saúvas” vão invadi-lo e devorar as suas plantações. Junte uma turma e vá descobrir o ninho das formigas, acabe com elas primeiro e amanhã terá salvo todo o teu roçado. Um dia sem semear pode representar a salvação da lavoura, mas tua ganância e egoísmo não o deixa enxergar.
Claro, essa é apenas mais uma das minhas metáforas. As saúvas estão no poder, representam os incentivadores da política neoliberal que querem acabar com os direitos duramente conquistados ao longo de nossas lutas, querem acabar com as nossas garantias tirando de nós até o direito à cidadania, querem acabar com a lavoura que é a educação, as “saúvas” só pensam em cortar gastos públicos dos setores mais importantes da sociedade: Educação, Saúde e Segurança. Acabando com esses três pilares, as “saúvas” acabam com a sociedade, então temos que descobrir o ninho das “saúvas”, matar a “a rainha das saúvas” e acabar com o formigueiro. Pegando a “rainha” o formigueiro se extinguirá sozinho. Mas por cautela, é melhor comprar um litro de gasolina e incendiar o formigueiro, matando todas as “saúvas” e salvando o nosso roçado. As mudas desse roçado são os nossos alunos, a lavoura é a escola. Na metáfora do “Pão e da Padaria”, o pão representa o salário, as nossas contas, o sustento da casa etc, e a padaria representa a perda do emprego no futuro, a perda dos nossos direitos e o fim da escola pública. Não podemos deixar que a política neoliberal entregue tudo nas mãos do setor privado, nem para as ONGs e cooperativas suspeitas, precisamos preservar a escola pública laica e democrática como reza a nossa Constituição. “Educação é direito de todos”. Ao invés de políticas repressivas precisamos é de mais escolas e de professores bem remunerados. Ao invés de provas, precisamos é de governos mais sérios e comprometidos com a causa da educação. Que adiantará ao governo aplicar provas aos professores, se o que está ferrando o ensino é a super lotação das escolas? Por que não se adota uma política para valorização profissional, não por mérito, mas com aumentos reais para toda a categoria? Por que ao invés de enrigidecer as regras, não se adota uma política de resgate da auto estima desse profissional da educação, tão desassistido em suas condições psíquica, moral e econômica? Mas ao que parece é que o governo não gosta mesmo de professor, pois as regras para o professor estão se tornando cada vez mais duras. Assistimos calados o recrudescimento das políticas do governo voltadas para o setor da educação, ao mesmo tempo, muitos não entendem o jogo político para fazer em sala de aula uma bela discussão com os alunos a respeito dos disparates do neoliberalismo que recrudesce cada vez mais as suas táticas para cercear o direito à liberdade dos grupos sociais e movimentos sindicais em suas manifestações. É por isso que tinha até um PM a paisana infiltrado entre os professores no ônibus de Osasco, o mesmo que carregava uma policial ferida na repressão dos próprios policiais aos professores no Morumbi em 21 de Março de 2010. Leia a denúncia que saiu nos jornais:
"PM embarcou em Osasco no ônibus dos professores; é um P2″
por Conceição Lemes
Izabel Azevedo Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) recebeu nesta segunda-feira, logo cedo, uma ligação de um colega da subsede de Osasco: “Aquele rapaz que socorreu a policial é um professor daqui da cidade. Nós vamos encontrá-lo, para esclarecer tudo isso”.
Diretores de subsede da Apeoesp de Osasco passaram a manhã e a tarde investigando. Lembravam-se de tê-lo visto em Osasco em meio aos professores. Conferiram listas dos que vieram para a assembleia da sexta-feira, 26 de março, no Palácio dos Bandeirantes. Conversaram com muitos colegas.
No começo desta noite descobriram que o suposto professor é um policial militar do serviço reservado (ou secreto) da Polícia Militar paulista. É um P2, como são chamados.
A caráter para não levantar suspeitas (garotão barbado, jeans, mochila nas costas), o jovem policial infiltrado embarcou no ônibus dos professores de Osasco, como se fosse um deles. Daí o pessoal da subsede de Osasco ter achado inicialmente ele que era um colega.
A descoberta da Apeoesp derruba três versões oficiais da PM paulista.
A primeira, no sábado, a Terra Magazine [2], de que o PM não-identificado “era um dos policiais da região, que estavam empenhados na operação” .
As outras duas são de hoje. Ao Viomundo, [3]disse que o policial militar à paisana “estava no local”. A Terra Magazine [4], informou que ele estava “passando” pela manifestação.
Aos poucos a verdade sobre a foto famosa da manifestação dos professores vai se revelando. Mas ainda há muitas perguntas sem respostas. Por exemplo, qual era a missão dele na assembleia dos professores? Levantar informações sobre o andamento do movimento? Fazer provocação? Ou o quê? A mando de quem? Qual a intenção? Criminalizar a Apeoesp?
“A partir dessa noite uma das hipóteses que passamos a considerar é a de armação para sensibilizar a sociedade e jogá-la contra os professores”, lamenta a presidente da Apeoesp. “A figura da policial feminina, frágil, indefesa atacada por nós, professores, uns bárbaros. Curiosamente o capacete dela está direitinho. A roupa alinhada, como se tivesse saído da lavanderia. Para quem levou uma paulada, como disse a PM, é estranho. Os dois muito arrumadinhos, ajeitadinhos…Esquisito demais. ”
“O fato é que seremos mais rigorosos na fiscalização de quem entra nos nossos ônibus ”, cogita Izabel Noronha. “Talvez passemos a exigir o holerit, para ter certeza de que aquela pessoa é professora mesmo e essa história não se repita.”
O último incidente mais recente foi agora dia 31 de março: dia do aniversário do Golpe Militar: a ditadura que se instalou no Brasil em 31 de março de 1964 completava 46 anos, bem no dia da manifestação dos professores na Avenida Paulista. Há exatos 46 anos da ditadura voltamos a reviver a triste realidade: os policiais da tropa de choque aprenderam bem a lição de reprimir. Um dos PMs apreendeu o carro de som da Apeoesp para impedir a manifestação, porém os professores no Vão do Masp gritaram o “Bota-fora” do Serra e fizeram um almoço simbólico com um cardápio muito especial que ao longo desse 16 anos os tucanos nos serviram: no prato, algumas folhas de alface e umas coxinhas, representando o valor de C$ 4,00 que é o valor do tiket refeição denominado “Tiket coxinha” devido ao valor irrisório do vale alimentação que esses profissionais recebam.
É melhor lutar para salvar a padaria do que ficar protegendo pão que haveremos de comer hoje, e é melhor tentar salvar a lavoura do que ficar protegendo a semente. Não sei de onde tirei isso, mas acabei inventando essa frase. Se alguém disse isso em algum lugar, me perdoe, se plagiei isso, foi sem intenção. Só sei que essa frase vem me incomodando há muito tempo e eu a uso nas aulas, sem noção de onde veio ou de quem eu teria ouvido isso.
Lutar para salvar único emprego e ganha pão. É isso que eu esperava na minha região. Parabéns aos companheiros do interior. Vocês servem de inspiração para os covasrdes da Grande São Paulo e da capital, com exceção de alguns, é claro. Enquanto tentava mobilizar os colegas eu ouvia: “Tal escola não parou, eu também não paro”. Todos queriam saber que escola estava parada com a desculpa de que também pararia. Tem colega que só faltou chorar quando 7 professores decidiram parar, acredito que não terão moral para transformar suas aulas em aulas de cidadania, não terão moral para falar de direitos para os alunos, porque ouvirão deles alunos: “Se você fala em direitos, por que você não está lá professora? Por que você não está lá professor?” Alguns professores já têm ouvido isso de alunos.
A participação dos professores em qualquer movimento, por si só já é uma bela aula de cidadania, aula esta, que deve ser realizada e ministrada não só na teoria, mas também na prática.
Como um professor ousaria falar de consciência se nem ele tem?
Como ousaria falar de direitos do cidadão, se nem ele se enxerga como tal?
Como ensinar o respeito se nem o professor respeita a si mesmo como um cidadão?
A maior contradição de ser professor é não aderir a um movimento.
Se para um religioso o maior pecado é a blasfêmia, o maior pecado do professor é o da omissão. E isso vale para o professor que ainda não entendeu que sua participação, é fundamental para a transformação da sociedade. Ele é um formador de opinião, e sem opinião, não se forma nada! Formador de opinião sem o mínimo de informação sobre os seus direitos, e sem saber fazer um juízo de valor a respeito da conjuntura política, histórica e econômica que hora que atravessa a educação, não pode ser formador de nada. Não formamos nada... Para aqueles que usam um discurso furado, de que a greve é política, vai ai um recado do poeta Bertolt Brechet: você pode ter feito até uma faculdade, mas não passa de um analfabeto político!
O Analfabeto Político
Bertolt Brecht
O pior analfabeto
É o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo de vida,
o preço do feijão,
do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política,
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
Pra quem não gosta de lutar, não tem consciência dos seus direitos e usa argumentos furados e velhas desculpas pra não aderir uma luta, uma boa maneira de você se irritar comigo que vos escrevo é me encontrar no dia da Assembléia na ALESP. Vá lá. Saia desse marasmo e dessa alienação a qual você se meteu quando se deixou doutrinar. Vá lá com a gente na próxima sexta-feira, dia 26, essa é a hora de você se indignar, não comigo, mas com o descaso do governo. Você não é nosso inimigo, então se assuma enquanto nosso companheiro nessa luta. Pare de usar esses velhos e ultrapassados argumentos. Suas retóricas estão vencidas, seus paradigmas estão criando teia de aranha, e suas justificativas não justificam sua imobilidade. Não diga que a greve é política, porque, tua indiferença e até tua falta de opinião é um ato político. Tuas desculpas esfarrapadas e até o teu medo de ficar sem pagamento são atos políticos, também. Não tem desculpa!
Visiste meu blog: Ciências Humanas e Suas Tecnologias em http://paulinhistory.blogspot.com/ lá tem fotos das Assembléias e outros assuntos relacionados à educação.