MARCOS OLIVEIRA, UM POETA PARA ALÉM DA PALAVRA

Marcos Oliveira, 47, paulista de Caraguatatuba/SP, artista plástico e escritor, publica sua obra literária no Site Recanto das Letras. Tem sua produção textual distribuída entre poesia e prosa, num total de 219 páginas e 8 436 leituras até o momento da elaboração deste trabalho. A maior concentração de textos do referido autor é na poesia, onde sua palavra afiada e extremamente bem colocada desafia os nossos sentidos de observadores dos caminhos da literatura brasileira.

“Artista plástico por dom, poeta por esforço”, é como se perfila Marcos, modestamente. Sua poética chama a atenção pelas características que vão das nuances de todas as cores até a leveza extrema da construção lírica encadeada em ritmos diversos, aplicada à arte da palavra. O eu lírico se mostra plural em seus matizes entre o amor pela inspiração, a dedicação e a temática diversificada, transitando do emocional à total subjugação do racional vertido em textos originais.

A propósito de citar as cores, se poderia afirmar que as peças poéticas de Marcos são verdadeiras telas elaboradas com as mais belas tonalidades que o vocábulo consegue alcançar. Por outro lado, também seria justo dizer que, um a um, seus poemas poderiam transformar-se em quadros que representariam as inúmeras tendências das artes plásticas, desde os clássicos aos mais modernos traços de pintores pós-modernos.

Em SOB AS RAMAS DA POESIA, um soneto de caprichosa urdidura vocabular, o poeta ardilosamente se põe em perfeita harmonia com a linguagem metafórica e embriaga o leitor ao amorosamente enroscar-se na sua diva, como o faz no último terceto:

(...)

“Lúdico, cavo versos que subscrevo

Verme de mim, letárgico vai enrosca

Nas ramas da poesia que escrevo”

No mais recente poema, de versos livres, a tônica do ardoroso vate, encontra-se a cena de submissão do mármore à sensualidade. No extremo da percepção dos sentidos, a invocação ao êxtase de uma deusa:

(...)

“Ah! Diana! Eu sei que

Seu sexo lateja!”

É nítida a paixão desse poeta pela linguagem e suas amplas possibilidades. Dominando o movimento da palavra no verso, provoca em seus leitores o mais intenso prazer do Belo quando se sublima em linguística MÚLTIPLA VERTIGEM:

(...)

“Múltipla vertigem da linguagem

Como se eu pudesse regar

Os crisântemos que na sua

Epiderme enxergo”

A característica primordial da obra do autor focalizado é, sem dúvida, a autonomia frente à palavra e o fascínio que ela exerce quando se faz Poesia. A temática amorosa permeia o conjunto da obra de Marcos, mas de tal forma bem cantada, sussurrada e sem cair nas tentações da vulgaridade. Convido o leitor a sentir o gosto e o som sideral dos versos em PISANDO ESTRELAS:

“Tuas promessas e teus presságios são como a brasa ardente

Macerando nossas pegadas, a te acompanhar em vida andeja

Pra poder pisar um dia, os átrios da Nova Jerusalém querente”

De extrema beleza são os versos finais de ODE À INSPIRAÇÃO:

“À parte circular

que me movo às

voltas do meu

próprio eixo nos

meus voos em

amanheceres

noturnos de poesia”

O leitor crítico e conhecedor do comportamento da poesia, seja nos moldes clássicos ou nas tendências consideradas mais modernas e livres, há de sentir no corte do verso de Marcos algum movimento abrupto. Eu não o repreenderia, pois a Poesia tudo pode e o verso livre contém o ritmo e a respiração do poeta. Quem poderia contra os traços de Picasso, o surreal de Dalí ou os desenhos arrojados dos artistas pós-modernos? Pois, façamos o mesmo com a palavra e contrariemos, subvertamos a ordem, saiamos do lugar comum. A poesia é do poeta, “como o ceu é do condor”, parafraseando o grande Castro Alves. Em formas clássicas ou ultramodernas, vivamos a poesia. E Marcos Oliveira é mesmo uma legítima tradução desta arte.

Apaixonado pela poesia, o poeta e artista plástico, admirando-lhe a BELEZA NUA, dela faz seu modelo de nu artístico para mais uma tela impressionista:

“Os girassóis de Gauguin saem da tela em roda

Abandonam o sol ao brilho da tua luz

E todo o jardim com ciúmes de ti se incomoda

Beleza e formosura escreve minha pena, reluz

Há que depois um poeta, em ti os olhos ponha

Há que depois que um pintor tenha-te a posar

Apossam-se dele tal qual uma picada peçonha

Hipnotizados ficam sem o antídoto neles dosar

Ah! Os Teus perfumados olhares de rosa risonha

Ah! Os cabelos ao vento, velas em barco a singrar

Gota salitre ao mar é mais uma lágrima tristonha

Poesia platônica derrama esse meu versejar

Em meus sonhos transpiro choros em fronha

Pinturas faço dormindo, anjos eu ouço cantar.”

Este soneto sugere uma paisagem onde girassóis reluzem sob os olhos hipnotizados de um poeta e pintor posto entre a rosa, os cabelos ao vento e as velas de um barco. Orvalhando a paisagem uma gota de ouro e mar, lágrima sentida de anjos em coro.