O que é o Amor

O que é o Amor

Traços da face do Amor

Iniciemos com as características conclusivas do artigo “O que não é o Amor” .

O Amor: não tem motivações fisiológicas; não é um forte sentimento que impede a vontade de ser determinada por princípios; não é resultado de uma compulsão; não é refúgio de realidade insuportável, ou porto para alienação; não pode ser caracterizado como relação de domínio ou submissão; não é fusão sem integridade.

A aritmética do amor é paradoxal. Um mais um é igual a um. Entretanto, os dois seres transformados em unidade permanecem dois. Ou seja a união pelo Amor conserva a individualidade dos amantes.

No Amor, o olhar do amante transfigura o objeto amado. O olhar amoroso percebe qualidades e valores que permaneciam ocultos no objeto amado a olhares não aguçados pela força do Amor.

Força que apara as arestas, destrói fronteiras e obstáculos, que separam os homens de seus semelhantes. Força que vence o isolamento, a separação e funde preservando a integridade do sujeito e do objeto.

Extraímos da poesia “Amai-vos” de Gibran Kahlil Gibran alguns versos que pintam com muita beleza alguns traços da face do Amor:

“Mas deixai cada um de vós estardes sozinho.

Assim como as cordas da lira

são separadas e, no entanto,

vibram na mesma harmonia”.

“E vivei juntos,

mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois, as colunas do templo erguem-se separadamente.

E o Carvalho e o Cipreste

não crescem à sombra um do outro”.

O Amor Amadurecido é união sob a condição de preservar a própria integridade e individualidade. Amor é uma Ação, a prática de um poder humano, que só pode ser exercido na liberdade.

Origem ou Raízes do Amor

Mira y López observa em “Gigantes da Alma” as diversas raízes do Amor na evolução biológica. Enquanto “Erich Fromm” em “Arte de Amar” aborda a origem do Amor no topo da cadeia evolutiva, o homem.

Mira Y López em nosso entendimento deixa claro que as raízes primitivas do Amor estavam vinculadas à sobrevivência. Segundo ele: Raíz Ancestral; Raiz Tânica; e Raíz Agressiva, Possessiva e Imperialista. Já em gráus mais elevados da cadeia biológica: Raíz Genital; e Raíz Criadora

Raiz Ancestral do Amor.

Existe um momento crucial na vida de qualquer organismo unicelular, no qual vemos a impossibilidade de separar a Vida da Morte. Nesse momento que marcará a passagem de uma para outra, surge o fenômeno da reprodução, que do ponto de vista físico-químico marca a raiz ancestral do Amor.

O processo de reprodução das amebas exemplifica com muita clareza esse momento.

O crescimento da ameba alcança plenitude e inchaço tais, que começam a dificultar sua própria existência individual. Nesse instante em que a ameba alcança seu máximo volume e vitalidade aparente, apresenta-se, também, o dilema: renovar ou morrer.

Adquire a forma de um 8 e divide-se em duas células, que se distanciarão e viverão independentes, iniciando seus processos de crescimento e expansão até que, por sua vez, sofram o mesmo processo de bipartição.

Raíz Tânica do Amor

O vínculo do Amor com a Morte provêm da divisão da substância viva, em que vemos a mesma célula morrer (como mãe) e renascer como filha de si mesma. A Vida procede da Morte e retorna a ela – do pó vieste ao pó voltarás.

Essa raiz Tânica do Amor justifica as bodas tânicas em diversos níveis da escala animal: a cópula fecundante é seguida da morte de um ou de ambos os cônjuges.

Raiz Agressiva, Possessiva e Imperialista do Amor

Num caso particular de nutrição celular a célula engloba as partículas mais aptas para assegurar sua sobrevivência.

Raiz Genital do Amor

Para a conservação das espécies: o vocativo do cio e o prazer orgânico conhecido como orgasmo.

Muitos mamíferos bípedes correm ansiosos, crendo residir no orgasmo tudo quanto há de “bom” no Amor.

A maior prova de que tal impulso genital é independente do dinamismo do Amor é a possibilidade do sofrimento ou gozo de um impulso genital, sem estar enamorado, ou amar. Inversamente é também possível viver em toda a plenitude os bons e maus momentos de um grande amor, sem submeter às exigências do impulso genital.

Raiz Criadora do Amor

É provável que exista uma base de confluência entre as energias da Raiz Genital e a Raiz Criadora: ambas são fecundas e, portanto, dão frutos, mas a primeira produz filhos “carnais” enquanto a segunda engendra obras “espirituais”.

Freud e sua escola sustentam, que a transmutação de uma em outra é originada, principalmente, pela ação repressora da vida social. que determinaram saturação da carga de tensão do impulso copulativo. Sofrendo este uma conversão ascendente (sublimação), despertando o afã de saber (cultura), gozar (artístico) e criar (érgico).

O que o homem perdeu em genitalidade ganhou em capacidade de trabalho e cultura.

A raiz criadora se revela no “entusiasmo”.

Pode-se afirmar que nem todos os amores são capazes de exaltar a raiz criadora de quem os vive, mas é certo que o Amor pode extrair de cada ser humano seu máximo potencial criador, isto é: as criações máximas da humanidade tem sido, são e serão inspiradas pelo Amor.

Superar a Separação

Já, Erich Fromm em “Arte de Amar” afirma, que a origem do Amor no Homem está na busca da Unidade Interpessoal, para restabelecer a uinião perdida, ou seja recompor-se da separação.

Afirma que encontramos o equivalente ao Amor nos animais, nos quais os afetos são principlamente parte do seu equipamento instintivo. Desse equipamento instintivo só remanescentes podem ser vistos em ação no homem.

Observa, que a criança se sente unida à mãe, não tem sentimento de separação enquanto a mãe está presente. Só chegado o grau em que a criança desenvolve seu sentimento de separação e individualidade é que a presença física da mãe já não basta, surgindo a necessidade de superar a separação por outros meios.

De igual modo, a raça humana, em sua infância, sente-se ainda unida à Natureza. Quanto mais a raça humana emerge desses laços primários, tanto mais se separa do mundo natural, tanto mais intensa se torna a necessidade de encontrar meios novos de fugir à separação.

Entretanto, observa que alguns meios utilizados para restabelecer a separação não são eficientes, tratam-se de mecanismos de fuga ao sentimento de ansiedade, provocado pela separação.

A unidade realizada na Obra Produtiva não é Interpessoal; a unidade conseguida na Fusão Orgíaca é transitória; a unidade alcançada pelo Conformismo é apenas pseudo-unidade. São todas respostas parciais ao problema da existência. A resposta completa está na realização da Unidade Interpessoal, da fusão com outra pessoa: está no Amor.

O desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem. É a paixão mais fundamental, é a força que conserva juntos a raça humana, a clã, a família, a sociedade.

Acreditamos que ao enumerarmos e discorrermos no artigo “Elementos Básicos do Amor”, que caracterizam a ação de amar – Doação; Cuidado; Responsabilidade; Respeito; e Conhecimento-amplamente explorados por Erich Fromm em “A Arte de Amar” conseguiremos responder , pelo menos em parte, dúvidas sobre um tema tão cantado e propalado, o Amor.

Fontes:

Gigantes da Alma – Emilio Mira y López;

A Arte de Amar – Erich Fromm;

ocanto.esenviseu.net;

redepsi.com.br;

emdiv.com.br;

wikipedia.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 07/03/2010
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