O VATICANO E O CELIBATO

Todos os veículos de comunicação estão interditados por notícias ligadas à sucessão do papa João Paulo II. A discussão agora é como o alemão Joseph Ratzinger irá comandar os destinos da Igreja Católica. Como não sou católico, não tenho grandes expectativas. A única coisa que espero do próximo papa é que seja flexível a alguns temas que geram debate no mundo atual. E olha quem nem estou me referindo a aborto, pesquisa com células-tronco, eutanásia, divórcio, uso de método contraceptivos ou homossexualidade. Espero, apesar de não acreditar, que a Igreja reveja o calvário do celibato.

Até hoje escapa da minha leiga compreensão como a Igreja tem castigado os seus clérigos, impondo-lhes a abstinência sexual e privando-lhes de constituir uma família. Uma pesquisa realizada em 2002, nos Estados Unidos, mostra que 70% dos católicos norte-americanos são contra o celibato. Não acredito que Deus colocou como regra que para o servir de verdade, temos que renunciar da companhia de uma pessoa amada, para compartilhar amor, companheirismo e aplacar os desejos da carne. O apóstolo Paulo em uma de suas cartas diz que para a ordenação sacerdotal, é preciso que o candidato seja marido de uma só mulher. Não disse que seja casto.

O problema da Igreja é achar que os padres são seres descomunais e não humanos, constituídos das mesmas necessidades que o restante dos mortais. Eles também têm hormônios e sentem atração sexual. O crime da Igreja resulta em práticas criminosas, de fato. O abuso sexual, principalmente de menores está aí para provar isso. Pesquisa da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos revela que 5.450 padres naquele país foram acusados de praticar abuso sexual, entre 1950 e 2002. É lógico que nem sempre a pedofilia está ligada a abstinência, mas o jejum sexual e principalmente afetivo dos sacerdotes tem a sua parcela de culpa.

Só no Brasil há mais de 5 mil padres que trocaram a batina pela vida conjugal. Fundaram até uma associação, o MPC ( Movimento dos Padres Casados). Acredito que se for realizada uma pesquisa nas paróquias e dioceses brasileiras sobre a obrigação do celibato, o resultado iria deixar os cardeais da Igreja com a batina em pé.

Curiosamente, o celibato não nasceu com a Igreja. Só foi instituído como obrigatório pela Santa Sé no século XII e mantido pelo Concílio de Trento, em 1563. O que acho mais contraditório é a celebração de cerimônia religiosa no casamento. Não acredito que um padre possa abençoar uma prática, que para eles constituem-se em pecado e tormento. Mais ainda: com qual autoridade, um batinado pode aconselhar um casal sobre a harmonia matrimonial se não conhece o assunto na prática?

Eu tenho um sonho, um sonho tímido, que Joseph Ratzinger possa por um ponto final nas angústias de milhares de ordenados ao serviço eclesiástico. Que não neguem a Deus, mas que também não neguem aos apelos da sua própria natureza. Milhares de crimes e traumas serão evitados.

* Artigo escrito em 2005.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 01/03/2010
Código do texto: T2113709