O que é o Dever
O que é o Dever
São muitas as palavras que, apesar de ouvirmos com muita freqüência, velam mistérios.
Mistérios existem para serem desvendados.
Esses termos conseguem com muita facilidade gerar questionamentos.
A experiência nesse jogo para retirar os véus, que escondem o significado das palavras, gerou um postulado, ou premissa: “a vivência dos mistérios desses termos, depende do estágio evolucional em que se encontra o homem”.
Será que o Dever existiu com o surgimento da espécie humana? Poderia o significado de o Dever ter se conservado o mesmo nos becos, ruas e avenidas do itinerário da história?
Esse trabalho de garimpagem nos rios de mistérios, na esperança de encontrar pepitas de sabedoria, acaba ensinando que: existem duas ciências - a ciência dos homens e a dos deuses; e, sempre que possível, devemos procurar fazer um paralelo entre as duas.
Essa ciência dos deuses, conhecida como “Ciência Iniciática das Idades” revela: Deus projetou o arquétipo do homem com Sete Princípios e que o homem teria que desenvolvê-Los no seu itinerário evolutivo.
Essa ciência dos deuses revela mais: as chispas semeadas pelo Grande Agricultor, com formas semelhantes às bolhas de sabão, assim como uma semente já continham a árvore, já continham o Homem. E nessa inimaginável metamorfose ocorrida até os nossos dias, quatro desses Princípios já foram realizados: o físico (mobilidade); o vital (sensitividade); o astral (sensibilidade) e o mental concreto (racionalidade).
A ciência dos homens, a arqueologia, em busca de nossa ancestralidade, na pesquisa de testemunhos fósseis, evidentemente, ainda distante dos primórdios do nascimento da humanidade, conseguiu chegar entre 4,2 e 3,9 milhões de anos atrás (maa) ao Australopitecus, ainda não do gênero homo, em registros fósseis no leste africano.
Depois os testemunhos fósseis indicam que entre 2,4 milhões de anos atrás surgiu a primeira espécie atribuída ao gênero Homo, o Homo Habilis, os primeiros a fazer ferramentas de pedras.
Há 1,7 milhões de anos atrás (maa) surgiu a espécie Homo Erectus, o primeiro a dominar o fogo.
Somente entre 550.000 e 400.000 anos atrás (aa) é que surgiu forma intermediária entre o Homo Erectus e o Homo Sapiens , os homens de Neandertal em registros fósseis na Europa.
Entretanto, os modernos Homo Sapiens só aparecem na África há cem mil anos atrás.
Evidentemente que, entre as chispas em formas de bolhas e o Homo Habilis, existe um grande percurso para a ciência dos homens. Entretanto, comparando as formas físicas dos “apolos gregos” com os físicos deduzidos aos Homo Habilis, percebemos, com muita facilidade, que estes ainda não haviam chegado ao último estágio do primeiro princípio do Homem, o Princípio Físico do arquétipo divino.
O Professor de Psicologia e psiquiatria da Universidade de Barcelona, Espanha,Emílio Mira y López, em seu livro, publicado em meados do século passado, “Quatro Gigantes da Alma” afirma: o dever nasce com a vida do homem em comunidade, com a transformação do Homo Natura em Homo Socialis.
Homo Natura caracteriza-se por modo de viver individualista e anárquico. Em determinado momento, a repetição de eventos e seus conseqüentes resultados, impostos pela força física (do agente mais forte) criou uma espécie de reflexo condicionado nos mais fracos.
Assim, para aquele Homo Natura, o Dever resulta de reflexos condicionados pelo Medo.
A lei do mais forte definiu as relações interpessoais daqueles primeiros grupos sociais e com eles a fórmula rudimentar dos primeiros direitos e deveres.
Outra citação de Mira y López que pensamos importante destacar é: que o Direito e o Dever emanam da força é coisa mais que sabida. Entretanto, de alguma forma, acompanhando uma lenta evolução humana, desenvolveu-se a substituição da razão da força pela força da razão.
Assim, o Dever não existia no surgimento da espécie humana e foi sofrendo transformações à medida que o homem cumpre seu itinerário evolutivo, para realizar os sete princípios do arquétipo divino.
Então, nesse Homo Socialis, o Dever pela razão da força deve ter passado por diversos estágios posteriores, como o da razão da emoção.
No pouco que pesquisamos, entendemos que o próximo estágio evolutivo do homem e conseqüentemente do Dever, pode ser encontrado na exposição do filósofo Kant citada por Marilena Chauí, no seu livro “Filosofia”, do qual resumimos a seguir.
Sobre a razão e ação faz a seguinte distinção: existe a Razão Pura Teórica ou Especulativa e a Razão Pura Prática; existe a Ação por Causalidade ou Necessidade e a Ação por Finalidade ou Liberdade.
Razão Pura Teórica e Prática são as mesmas para todos os homens. A diferença entre razão teórica e prática encontra-se em seus objetos.
A Razão Teórica ou Especulativa tem como objeto a realidade exterior ao homem, que opera segundo leis necessárias de causa e efeito, independentemente de nossa intervenção.
A Razão Prática não contempla uma causalidade externa necessária, mas cria sua própria realidade. A Razão Prática é a liberdade como a instauração de normas e fins éticos. Se a Razão Prática tem o poder para criar normas, tem também o poder para impô-las a si mesma.
Essa imposição que a Razão Prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou é o Dever.
Portanto, longe de ser uma imposição externa feita à nossa vontade e à nossa consciência, é a expressão da lei moral em nós, manifestação mais alta da humanidade em nós. Obedecê-lo e obedecer a si mesmo. Por dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e, por isso somos autônomos.
A Ação por Causalidade ou Necessidade é aquela regida por seqüências necessárias de causa e efeito. São as ações do reino da necessidade, a Natureza. Essas ações pertencem ao reino da física, astronomia, da química, da psicologia... Entretanto, diferente do Reino da Natureza, há o Reino Humano, no qual as ações deverão ser realizadas racionalmente e não por necessidade causal, mas por finalidade e liberdade.
Se formos racionais e livres, por que valores, fins e leis morais não são espontâneos em nós, mas precisam assumir a forma de Dever?
Porque não somos seres morais apenas. Também somos seres naturais, submetidos à causalidade necessária da Natureza. Nosso corpo e nossa psique são feitos de apetites, impulsos, desejos e paixões.
Agir determinado por motivações físicas, psíquicas vitais, é agir à maneira dos animais.
O Dever é uma forma imperativa que deve valer para toda e qualquer ação moral. O imperativo não admite hipóteses nem condições. Vale incondicionalmente e sem exceções para todas as circunstâncias de todas as ações morais. Por isso o Dever é um imperativo categórico. Ordena incondicionalmente. É a lei moral interior.
Se o Dever é a Lei Moral Interior, como acontecerá o desenvolvimento moral da humanidade?
Não só o desenvolvimento moral, mas o desenvolvimento da humanidade far-se-á à medida que sejam realizados os três Princípios restantes. O quinto princípio, Mental Abstrato, ou Superior permitirá o desenvolvimento do que a filosofia de Kant denominou de Razão Prática e Ações por Finalidae/Liberdade.
Na mesma fonte “Filosofia” de Marilena Chauí, também encontramos resposta a essa pergunta.
Apetites, impulsos, desejos, tendências, comportamentos naturais costumam ser muito mais fortes do que a razão. A Razão Prática e Ações por Finalidade ou Liberdade precisam dobrar nossa parte natural e impor-nos nosso ser moral. Elas o fazem obrigando-nos a passar das motivações do interesse para o Dever.
Essa educação moral, por meio da vigilância permanente de nossos pensamentos, emoções e ações, não é nenhuma violência contra: um corpo irrequieto e tomado por cacoetes; contra um coração tingido por paixões; e contra mentes tagarelas. Violência é não entendermos nosso itinerário evolutivo e confundirmos liberdade com a satisfação irracional de nossos desejos e instintos.
No dia em que este Homo Moralis povoar o planeta outro filósofo surgirá, para trazer novas diretrizes ao Dever.
No dia em que esse Homo Moralis povoar o planeta, certamente nossa civilização será bem outra com a grande preocupação de viver em harmonia com as leis universais, de religar-se ao Divino e de empenhar-se para a realização do Homem e de sua nave Gaia, como arquétipos idealizados por Deus.
“Dever” é rimas para serem cantadas e refletidas, sobre este gigante da alma humana em lenta e permanente construção.
Fontes:
”Filosofia” - Marilena Chauí
“Quatro Gigantes da Alma”Emilio Mira y López
Dever
Pode um deputado, ou senador
e, até mesmo, um vereador
legislar a seu favor?
Poder, pode, o poder tudo pode,
mas não deve, em respeito ao eleitor.
Querer é poder, querer é poder,
mas só um bom querer é dever.
Pode governos de estado, ou da nação
e, até mesmo, de cidades
definir metas em função de eleição?
Poder, pode, o poder tudo pode.
mas não deve por vergonha à falta de pão.
Querer é poder, querer é poder,
mas só um bom querer é dever.
Pode um juiz, ou desembargador
e, até mesmo, um advogado
lesar a lei, sem o menor pudor?
Poder, pode, o poder tudo pode,
mas não deve, para cumprir o que jurou.
Querer é poder, querer é poder,
mas só um bom querer é dever.
O dever é incondicional.
Abaixo os três poderes.
Política sem ética é ação marginal.
Viva os Três Deveres,
leis da ação moral.