HEIL CHAVES...
“As concepções de Hitler acerca da conquista do poder, são ainda o modelo clássico de uma conquista totalitária das instituições democráticas por dentro, quer dizer, com ajuda do próprio poder e não em conflito com ele”.
Herman Rauschning
Aproveitei minhas férias de julho para ler o livro do escritor alemão, Joachim Fest , “Hitler” , Editora Fronteira, cujo maior valor , penso eu, é recompor toda a história de sua época, em estilo primoroso e incrivelmente didático.
Encontrei , durante essa leitura, algo que me pareceu familiar: um comentário de Herman Rauschning, conhecedor íntimo dos bastidores da cena política da época:
“Hitler e o movimento que dirigia, não tinham nem uma idéia nem mesmo uma filosofia própria, mas se aproveitavam de tendências e inclinações do momento, na medida em que estas lhes permitiam ampliar sua ação e recrutar partidários. Seu nacionalismo, seu anticapitalismo, seu culto à tradição, suas concepções de política exterior estavam sempre na dependência de um oportunismo cínico, que nada respeitava, nada temia, não tinha fé em nada e violava sem o menor escrúpulo os juramentos mais sagrados. Quando se tratava de tática, as traições do nacional-socialismo não tinham limites, e toda a sua ideologia era apenas um chamariz de fachada, ruidosamente exposto, para dissimular sua vontade de empalmar o poder. E a essa ambição é que era preciso satisfazer antes de tudo, e todo e qualquer êxito era considerado exclusivamente uma etapa no rumo de novas aventuras tão desenfreadas quanto presunçosas, sem razão, sem objetivo concreto, impossíveis de saciar.As forças atuantes e dirigentes desse movimento eram totalmente desprovidas de princípios e de programa. Seus melhores grupos de choque estavam prontos para agir instintivamente, suas elites assim o faziam após madura reflexão, com sangue frio e maquiavelismo. Não houve nem há qualquer objetivo que o nacional-socialismo não estivesse pronto a sacrificar ou a suscitar a qualquer momento, desde que o interesse do partido assim o exigisse”.
Sugiro a leitura dessa obra a todos aqueles que não conseguem entender os pseudoparadoxos do momento político em que vivemos, não só no Brasil, mas em parte da América Latina, em que presenciamos a invasão do Congresso Nacional, a tentativa frustrada de aprovação da Lei do Desarmamento, os ataques do PCC, a desmoralização de um porcentual enorme do Congresso com seus sanguessugas, mensalões, CPIs, e o pior, com uma grande parte da população assistindo a tudo isso e portando-se tão passivamente quanto a nossa seleção brasileira de futebol, diante da seleção francesa.
E quem não acredita, leia na mídia : “Soraida Vega, uma venezuelana, pinta o seu rosto: uma risca verde, outra preta. A sua equipe é o exército venezuelano de reservistas. Com um fuzil no ombro, a jovem mulher prepara-se para desfilar pela primeira vez diante do "seu" presidente, Hugo Chávez”.
Depois de “Hitler”, continuo com a sensação de que mudou o cenário, mudaram os personagens, renomearam-se os grupos, mas a trama continua a mesma sem que possamos descobrir, como o desejava Julius Leber, dirigente social-democrata, na época, “ quais os fundamentos espirituais desses movimentos” .
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO