ELOGIOS
A palavra elogio é mesmo, simultaneamente, antipática e necessária. Torna-se antipática pelo uso falso, dissimulado e mal intencionado. Dita de boca pra fora, a maioria das vezes, deixa sempre desconfiados tanto quem elogia quanto quem recebe elogios.
Que fazer diante de uma situação dessas? Há que se tomar uma posição, e eu sempre tomo posições, mesmo que eu me “estrepe”, como dizia meu pai. Olho para todos os lados, raciocino rápido, faço alguns cálculos e resolvo.
Desde a época de universitária, ainda muito jovem, eu lecionava. Na verdade, comecei a ensinar às minhas bonecas. Não brincava de cozinhar, mas fazia das bonecas alunas. E dava aulas, fazia perguntas e tudo o mais da profissão.
Quanto aos elogios, diria que não se pode ser professora sem eles. O grande segredo é a atenção. Fiz e faço sempre assim: gosto dos alunos antes mesmo de conhecê-los. Espero-os como se esperasse filhos desejados; em seguida apaixono-me perdidamente por cada um; coloco-me como um goleiro, bem posicionada, observando o movimento do time e a direção da bola; olho para o rosto dos meus alunos; toco neles; abraço; beijo; viro namorada. Alguém há de perguntar se viro namorada das moças, claro! Esse namoro é sagrado. Noivo, caso e engravido de meus alunos. Vivo com eles um intenso amor.
Eu sou faladeira, mas quando um aluno quer falar eu fico só olhando e escutando, ligo o botão de atenção máxima. Observo tudo, mas tudo mesmo. Quando é hora de ler, da mesma forma, não perco um músculo deles. Quando leio o que escrevem, faço-o mais de uma vez. Procuro entender-lhes a alma no texto. E isto é possível. Penso em tudo o que aprendi sobre Psicologia da Infância e da Adolescência, disciplina que até lecionei em faculdades. Uso também a intuição e sou mãe, irmã, amiga, além de namorada, noiva, mulher. Eu me exijo, cobro, faço isto e aquilo para conquistar meus queridos alunos. E sempre consigo.
Agora chegou a vez do elogio. Parto do critério de procurar o acerto e não o erro, do melhor e não do pior. E me pego nessas coisas e nelas fundamento meu elogio. Para os desacertos faço vista grossa. Só depois de conquistados os alunos, é que vou partir pra a “briga”. E eles amam quando brigo porque já dei amor de sobra. Aí aceitam que é uma maravilha. E então entro de malvada e nada deixo passar. Por isto o meu elogio é considerado sincero e merecedor de confiança. Dizem os alunos e até os escritores que reviso: Agora acredito que fiz algo melhor, pois quando você elogia é a verdade que diz.
Agora, aplicando a mesma estratégia ao Recanto, friso que um educador é educador onde quer que esteja. E a minha forma de elogiar no Recanto das Letras tem quase todas as características acima alinhadas, resguardadas as devidas proporções.
De forma alguma elogio para ser elogiada, ou comento para ser comentada, ou simplesmente leio para ser lida. Sequer eu presto atenção aos marcadores numéricos de leituras e de textos. Outro dia a colega Lu Genovez me surpreendeu parabenizando por alcançar determinada marca, mas eu nem havia percebido.
Faço questão de frisar o valor que dou aos comentários recebidos, às palavras elogiosas e carinhosas dos meus colegas de Recanto das Letras. Não estou esperando críticas abalizadas de profissionais da crítica, pois não me parece este o objetivo do espaço dos comentários, mas de uma troca de textos, experiências e muito carinho virtual. Virtual aqui está sendo empregado com o melhor dos sentidos que este termo possa ter.
O que me moveu a escrever este texto foi a colega Neuminha, de Pernambuco, que, inclusive, surpreendeu-se por lhe reconhecer e elogiar o valor literário. Pois aqui digo: a moça escreve e muito bem. Ela é jovem e tem muito tempo para exigir-se mais e apurar o seu estilo.