O Outro e Minha Identidade

" O olhar do outro me

rouba o mundo que

era meu e rouba

a minha intimi-

dade." (KALENA)

Eu creio que muita gente, quando criança , ou nos momentos de decepção com este mundo cheio de loucuras, não desejou ser um náufrago , na soidão de uma ilha do Pacífico, tal como Robinson Crusoé? Todo mundo sabe quem foi Robinson Crusoé , principalmente quem lê , quem é escritor ( escritor TEM que ter cultura geral e também a específica. Se não tiver , não é escritor....)

Bem , mas temos uma visão diferente de Robinson Crusoé, lendo e analisando a obra de Michel Tournier. Oassei esa semana , revendo , relendo Tournieu e descobri a versão dele sobre a vida solitária de Robinaon , cob ótica existencialista ( sim , isso mesmo , a ótica de Sartre) . Que coisa bonita !!! O pensamento sartriniano sobre o OUTRO aparece muito claro , bem claro , num trecho do livro. Aí a gente pergunta . Que "OUTRO" é este ? É aquele que se depara, à minha frente , diferente de mim. E como é difícil , encarar ( ou aceitar) esse outro, nâo ?

Lá pelas tantas, depois de viver muitos anos na ilha, Robinsonesquece que o que são os corpos dos outros seres humanos. Corpo da mulher, em especial. Percebe , então, que estava perdendo a própria identidade.Esquecia-se de quem era . E neste momento ele sente o desejo de ter relações íntimas com outro diferente de si, no qual possa mergulhar e cujo interior possa conhecer. No OUTRO, poderia se olhar e conhecer. Enfim , recuperar a sua identidade.

O grande OUTRO para Robinson , é apenas aquela ilha, a terra. Terra que veste o homem , bebe o seu sangue , come sua carne , mas que também o alimenta .

Robinson descobre a terra. Dorme com ela , amando-a sexu - almente . Dessa relação com a terra desse abraço com a árvore , nasce uma flor até então inexistente na ilha. Ao v~e-la , Robinson tira-a cuidadosamente da terra e vê com espanto, que suas raízes têm forma de corpos humanos . Forma do seu corpo. Reconhece-se nas raízes. Essa flor o ajuda a entender que é ele e o que é a ilha.

É apenas o outro que permite o conhecimento de mim e o sentido de minha existência . ]

Lutando desesperadamente para encontrar sua identidade, Robinson - não convivendo com seres humanos - deve buscar no "outro", vegetal e telúrico, uma referência mínima, um espelho para seu eu.

* _ E eu , kalena , lutei dsesperadamente interpretando Tournier

e tenho , uma ótica diferente , sobre tudo . Mas , quem sou eu , para desdizer Tournier ??? Nem pensar !!! rs . Aí é que está : ele é escritor , reconhecido mundialmente , CULTo , e kalena .... rsrs tem muito chão ainda ... . **

O INFERNO SÃO OS OUTROS ???

Quando vou ao cinema , vejo filas , esbarro em pessoas ( detesto) que compram balas , pipocas , coca tamanho pequeno , médio e grande , que disputam lugares ou que riem ns sessão que ainda não terminou, etc... todas elas são objetos para mim : filas, quantidades, multidão anônima ( nossa, tenho horror ; quem me conhece sabe disso) que ri , alto, massa que briga por um lugar.

Só eu me sinto sujeito . Eu os meço , classifico, analiso . Eu é que tenho projetos , tenho consciência . Não sou uma coisa entre as coisas .

Já sentada , esperando a próxima sessão de cinema , de repente meu olhar encontra um olhar que me observa ( porque meu sapto não combina com o jeans ? Ou porque estou com os cabelos longos ? ou porque falta um botão na minha camisa branca ? Ou porque eu não sou tão linda como a Sharon Stone , a loira linda ? ) . Nesse momento como mágica , esse olhar me transforma em objeto .

Esse olhar me escapa . Pelo olhar seu (sua)dono(a) se recusa a tornar-se objeto do meu olhar. É como um jogo . []

*** Leu o meu poema O JOGO do OLHAR? Se eu não conhecesse , Crusoé, Tournier e Sartre , talvez , não o soubesse escrevê-lo , como um desafiando o outro )***

Tomo , assim, conscência, pelo olhar do outro, de que ele é também consciência. Tal é o cerne da vergonha e do pudor : sinto-me olhada e considerada um objeto. Apenas minha "casca" , meu corpo é olhado e não o meu ser consciente, o meu universo interior.

É por isso que muitas jovens meninas , mesmo que estejam vestidas dos pés ao pescoço , se sentem desnudadas por um olhar que as enche de vergonha . ( outras , adoram ..) . Por outro lado, pode ser que, mesmo usando um biquini sumário, a jovem se sibta perfeitamente dona de seu corpo conforme o tipo do olhar que se dirige a ela.

::::::::::*****ooo****::::::::::Kalena, revivendo Tournier, e o outro.Fev. carnaval - 2010.

kalena
Enviado por kalena em 12/02/2010
Código do texto: T2083521
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