A MÍDIA QUE FAZ MAL
A mídia, em si, é boa, útil e necessária; o bicho homem é que a manipula ao seu bel prazer. E aí é onde a porca torce o rabo. Digo isto porque estamos em um ano eleitoral e logo mais, você, sua família e eu, todo mundo estará viajando, confortável ou desconfortavelmente, na carona da mídia nacional. “Fulano de Tal partiu na frente, agora cai nas pesquisas”; “Sicrano avança na corrida pela disputa à Presidência”; “Beltrano estacionou na preferência popular”. Estas e similares são possíveis manchetes que irão, em breve, campear pelo prado dos jornais.
É certo que os institutos de pesquisa – Ibope, DataFolha, Vox Populi, etc. – existem e estão aí, na praça, para “vender” o seu produto, ou seja, as pesquisas de opinião que realizam, se é que as realizam. Você já viu a senhora mídia, de papel à mão, querendo saber em quem você vai deitar o voto no fundo da urna? Para que eu seja bem sincero, uma vez, a única, uma mocinha me aporrinhou e tomou-me pedaço de tempo. Penso que computaram meus pontos de vista. E a mídia televisiva? Ah, esta, pois não, é outro caso de polícia. Tempo gratuito para a propaganda partidária, por voz geral, é o tipo de mídia mais porre. Mesmo assim, quando não a dos “vendilhões da pátria”, vou dando uma olhada.
Mídia, sim, é sinal dos tempos modernos; tudo bem. Que nos seja bem-vinda a mídia para o bem; aquela que faz campanhas em prol da educação, da saúde e da cultura. No entanto é injusto, e criminoso, que alguém manipule o modo pelo qual a opinião pública se expressa, livremente, quando inquirida sobre tal assunto ou qual candidatura. Outra vez, fui preterido, em casa, numa dessas entrevistas de opinião, somente por causa da minha área profissional. A moça foi peremptória: “– Professor, não”. Eis um exemplo claro, claríssimo, de quem discrimina e escolhe suas “cobaias” a dedo, sob o pretexto de é porque se trata de um “critério técnico”.
E aqui, muito a propósito, surgem duas boas interrogações. 1. Quem se daria ao luxo de, com avidez, desembolsar verdadeiras fábulas para custear e manter em funcionamento esses discutíveis balcões do ramo do Marketing? 2. Quem estaria por trás dessas “enquetes”, a encomendá-las, com frequência, a elevados custos financeiros?
Certa vez, um memorável brasileiro, quando candidato à Presidência da República, andou coberto de razão ao impacientar-se com o expediente do “conto da pesquisa”, divulgado com insistência e a pequenos espaços nos meios de comunicação. Falo do honrado e saudoso Leonel Brizola. Caso eleito, prometia o gaúcho, iria apurar a trama e meter na cadeia os manipuladores que distorcem e fraudam a vontade popular, com o objetivo de beneficiar certos oriundos das chamadas elites brasileiras (altos comerciantes, industriais, gente do setor financeiro, latifundiários).
Todo mundo está caduco de saber que, em curto prazo, não se muda a cabeça do eleitorado tão facilmente, mas que uma boa pesquisa encomendada, com dados alterados, pondo lá embaixo o primeiro colocado, com certeza, isto ajuda a reverter uma situação. Ora se não muda! E os morubixabas da política, assessorados pela mídia eletrônica – quem não vê tevê? –, manjam bem a tática das arapucas. Como diz o ditado, “Água mole em pedra dura...”
A conclusão que se tira de tudo isso é a seguinte: ninguém, senão as forças econômicas mais expressivas, representantes das elites, ninguém mesmo deixará passar em brancas nuvens a oportunidade de “comprar” espaço na máquina da propaganda e, sobretudo, de adquirir a mão-de-obra cavilosa e engenhosa dos órgãos de pesquisa, desde que para beneficiamento próprio, pois, em politicalha, o umbigo vale mais que o cérebro e o coração. Logo, e até pode ser que haja exceção, esses institutos são um perigo. Mas perigo só para quem lhes não pode ou não quer pagar a peso de ouro.
Sem temor de estar incorrendo na parcialidade, essa mídia facciosa produzida nos laboratórios publicitários (vide Coca-Cola) faz muito mal à saúde cívica, moral e mesmo fisiológica do abobado consumidor brasileiro.
Fort., 12/02/2010.