Contextualização : Ler o Mundo de Várias Maneiras

Eu costumo dizer que, a cada viagem que eu faço , eu comparo á uma Universidade. Mesmo porque , vou tirando fotos , vou conversando com as pessoas, não fico só em Capitais , vou ás cidades do interior , etc... Já disse também que conheço mais o estrangeiro do que o Brasil e, aproveito TUDO, para matar a minha sede de saber e para fazer comparaçoões e procurar entender o mundo e o que acontece nele .

Eu tenho a maior birra quando eu vou à casa de alguém e a pessoa vem com uma caixa imensa cheia de fotografias e começa a mostrá-las : as primeiras são sempre do casamento de alguém . My God , pago todos os meus pecados . E veem as explicações : "esta é a noiva " . Hummmm é óbvio pois é a única vestida de noiva . E o cara ao lado dela , com terno escuro ,e cara de assustado : " Olha , este é o noivo" . Quem poderia ser, se o cara de roupa escura um cravo na lapela e beijando a noiva na boca ??? Obvio que só poderia ser o noivo . Mas ele é mostrado demoradamente com o dedo indicador. " Esta ??? Tá vendo , a de óculos , gordinha ... isso, isso , é a tia do noivo casada com este aqui , ó". E mostra na outra ponta um cara com cara de sofredor.

E , eu , o que tenho a ver com isso ??? Não conheço ninguém.... e ficar naquela xaropada. Hoje é diferente , graças a Deus . As fotos são digitalizadas e só veem aqueles que se aboletam no computador. Contudo , adoro fotógrafos . São uns verdadeiros artistas . Veja : Uma mulher , fotografa inglesa, Maureen Bisilliat procurou por Guimarães Rosa quando este ainda trabalhava no Itamaraty (RJ) . Mas não é , agora , não . Isso aconteceu nos anos 60 do século passado ou seja o século XX. Ela , a fotografa , solicitou ao criador de "Grande Sertao :Veredas" que ele mostrasse todo o roteiro , por ele traçado para a escrita da obra . Assim , Maureen conheceu outra face de Rosa , bem como permitiu ao autor , afirmar ter ficado com muitas saudades de sua terra natal .

Evandro Garcia , também fotojornalista, após ler "Os Sertões " de Euclides da Cunha ( alguém já leu inteirinho esse livro ? Já ???) , embrenhou-se para o interior do país , desejoso de ver , com os próprios olhos ( pleonasmo) o que lera na Monumental obra

euclidiana. Familiares seus , tendo vivido nas proximidades do arraial de Canudos , não lhe pouparam das memórias dos muitos "causos" que ouviram sobre o conflito. Tal experiência então lhe serviria de lição para em 2008 , a convite de uma Editora mergulhar no mundo de pessoas que à semelhança de Sinhá Vitória e Fabiano viviam as suas "vidas secas" naquele momento. Contudo nem só de viagens concretas são feitas as boas retomadas literárias.

Um talentoso fotógrafo, Tiago, ao participar de uma exposi - ção sobre Graciliano Ramos , em São Paulo , capital , mergulhou profundamente na vida e obra desse escritor . E em contato com suas obras , objetos pessoais e móveis ( foi o que eu fiz para escrever o Protagonista da Cozinha ) de sua casa, entre outros , descobriu em sí um novo caminho a trilhar : retratar em fotografias ,

um mundo que só se descobre através da leitura da literatura. Ler , minha gente , ler ( não é dar uma passada de olhos e fechar o livro - , ler e reler , é de uma importância para adquirir conhecimentos , que a gente nem pode imaginar.

Voltando à Maureen , Evandro e Tiago , buscando imagens ,

imagens que lhes lembravam a atmosfera das obras lidas, ou que retratam equivalências entre o que é narrado, estabeleceram relações entre o real e o literário. Que se complementam em seu devido tempo, ao registro de um roteiro pessoal , de lugares e pessoas que, em suas imaginações de leitores , estes 3 fotógrafos enxergavam como sendo os espaços e personagens em suas obras.

E dai , tudo bem , o que acontece , callena ??? Acontece que isso tem uma imortância fundamental : unindo a leitura da obra, passando pelos lugares onde o autor personalizou os eus protagonistas, sua sensibilidade , o se afã de querer aprender e entender uma leitura nova , do mundo , vc se aproxima do autor , lembra- se , se interessa por literatura profissional ou não , enxerga o quanto uma linguagem expressa outra, ou seja o quanto as artes se irmanam entre si. A imagem, retrato que é ,da leitura do mundo, combina o vivido com o procurado .

Nós lemos , fotografamos, visitamos e escrevemos para, mais do que registrar, é para compreendermos o mundo.

Fico por aqui... E assim caminha a humanidade.

Callena, 1 de janeiro de 2010.

P.S _ quem se inspira vendo uma gravura , NÃO é a mesma coisa , por favor não misturem . A gravura foi encontrada pronta... às vezes nem se sabe a procedência . Então , NÂO é igual , de jeito nenhum. BEIJOS !!!