BICICLETA É IGUAL À MAQUINA DE ESCREVER?
Para responder essa pergunta deveríamos fazer outra: Podemos pedir para outra pessoa praticar esportes por nós?
Analisando a história da mais antiga fábrica de bicicletas do país – e uma das mais longevas empresas, também – a Caloi, não podemos considerar uma comparação dessas. A bicicleta que já foi o único um meio de transporte em muitas famílias, está adicionando mais uma função e se consolidando como o meio mais saudável de fazer exercício. Não estamos falando apenas das bicicletas de apartamento ou das de academia. Falamos do saudável hábito de pedalar em busca do prazer de sentir a brisa batendo no rosto, ou o prazer, às vezes solitário, de vencer distâncias e resistências pessoais.
Poucas atividades econômicas foram tão sacudidas quanto à indústria das bicicletas. A chegada das asiáticas, a preços iguais ou menores que o custo da matéria prima usada na indústria local, levou algumas empresas a cessar as atividades com todos os prejuízos sociais que isso acarreta. Uma empresa nacional grande resistiu. A Caloi, quer por musculatura acumulada por longos anos de ventos a favor, quer por sua coragem em fazer as mudanças que os tempos exigem, conseguiu manter sua marca nas placas das fábricas. As empresas centenárias, como a Caloi, normalmente têm resistência às modernizações.
Pioneira no mercado em bicicletas de 10 ou mais marchas, a Caloi substituiu o slogan dos anos 70 “não esqueça minha Caloi” por um apelo à saúde. Foram lançados muitos modelos da Mountain Bike que trouxeram robustez com diminuição de peso, graças às ligas de metais obtidas com melhorias tecnológicas. Talvez o senhor Luigi Caloi, de onde estivesse, tenha sorrido com satisfação ao comparar as pesadas bicicletas que importava da Europa em 1898, com as atuais. Naquela época a indústria das bicicletas, mesmo na Europa, ainda era incipiente.
A instalação da primeira fábrica brasileira aconteceu quase 50 anos depois do início da comercialização das bicicletas. Naquela época as coisas iam mais devagar. Embora o controle acionário tenha mudado 101 anos após a fundação da empresa, a marca e o produto continua no mercado. Em Manaus, a empresa tem aproximadamente 300 postos de trabalho, o que para o setor é muito significativo.
A bicicleta é um veículo que só se mantém em pé em movimento. Contudo, os administradores da Caloi, na época do bombardeio asiático tiveram de manter a fábrica em pé, mesmo parada, façanha que só é conseguida por ótimos ciclistas. Quando isso é conseguido com terreno fortemente desnivelado, é um feito de campeão. É como trocar de meia sem tirar o sapato. E foi feito.
A velha máquina de escrever, Remington Sperry Rand, na qual tive meu aprendizado em datilografia, só está na lembrança. Seu cursor se que levantava ao acionar a tecla “maiúscula” deve ter emperrado antes que ela virasse aterro nalguma construção. Os modelos mais novos, que sobraram, espiam do alto de algum móvel o desempenho dos computadores.
A velha bicicleta Bristol, que agüentou meus tombos até que eu conseguisse me equilibrar, já está desintegrada e virou adubo em algum lugar. Hoje sou um ciclista de apartamento. Alegro-me, no entanto em ver crianças pedalando bicicletas que vão mudando de tamanho e modelo à medida que vão crescendo. A atividade mental e até a física podem encontrar novas ferramentas para trazer conforto corporal, para que o corpo não sue em horários inapropriados. Mas o exercício, aquele que os sedentários têm de praticar para viverem melhor, não pode dispensar a velha e saudável bicicleta.
Luiz Lauschner – Escritor e empresário
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