A CULTURA EM DIFICULDADES
A CULTURA EM DIFICULDADES
Não bastasse a pouca simpatia por parte dos órgãos públicos e das entidades que teriam sobre si o apoio à cultura, um outro inimigo vem se apresentando, de há tempos, como inibidor da evolução e da expansão da cultura em todos os seus níveis. No caso da literatura, é o pouquíssimo uso do manuseio do livro. Há tão poucas pessoas que têm esse salutar hábito para o seu crescimento intelectual, que o escritor que não produz seus livros somente para apresentar à posterioridade suas idéias, ou, as peculiaridades do nosso tempo, não se anima a editar.
Cada ação tem uma reação. Assim, quando o escritor leva seu livro para as prateleiras de uma livraria, não o põe aí para enfeitá-la. Presumimos, nós escritores, que este livro desperte atenção entre os leitores; que o adquiram para ser lido e, em seu meio, a idéia principal seja divulgada. Mas eu mesmo levei dois anos para vender um único livro nas livrarias. Não por ser de todo ruim o que escrevo em prosa e verso. É porque o livro, hoje, é um artigo de consumo que não é consumido. O povo brasileiro alfabetizado, lê menos que um livro por mês. Talvez um livro por ano, se tanto. A essa falta de interesse pelo livro deve-se à cultura em baixa. Ele tem como alternativa (muito mais interessante) os videogames (que por sua vez é produto de outros países que não o nosso), e nas conversações cifradas via internet e celular do que a leitura de um bom livro, donde tiraria os conhecimentos gerais, tão necessários para que o jovem se oriente na vida.
Antes de editar meu último livro – Os Caminhos de um Cão – fiz uma pesquisa, principalmente entre estudantes. A pergunta foi no sentido de que, se eu lhes apresentasse um novo livro, o leriam? Fui literalmente agredido verbalmente por um grupo de adolescentes. Diziam ele(a)s que, não bastasse que eram obrigado(a)s a ler livros por imposição dos professores, vinha eu a vender-lhes livros?
O escritor de hoje tem que ser, também, um exímio vendedor. Tem que se empenhar no corpo a corpo para lograr algum positivismo na venda do seu peixe. E, assim mesmo, torna-se difícil. A amiga de todos os chapecoenses e minha amiga particular, Anair Weirich (poetisa), está tentando isso nas praias do litoral. Disse-me ela hoje por telefone que mal dá para as despesas correntes. Ela era dona do “Cebo” – livraria alternativa que vende toda sorte de livros usados e revistas. Os preços praticados por esse tipo de revenda de livros e revistas usadas são, na maioria das vezes, irrisórios, em vista dos das livrarias oficiais. Nem assim mi nhá amiga conseguiu manter-se. As vendas eram tão baixas que não dava para ela viajar no seu afã de vender seus próprios livros neste e noutros Estados, mantendo ao mesmo tempo alguém que tomasse conta do “Cebo”. Ainda no ano passado teve que fechar-lhe as portas para tristeza dos poucos que alimentavam grande parte da sua leitura diária por esse expediente.
O livro torna-se um artigo caro, principalmente para quem o escreve e para quem o produz. Quando se tem que tirar cinco mil reais do bolso – ou mais – para deixá-los nas prateleiras em forma de ideais (livros), a gente sente uma – em vez de alegria – tristeza muito grande. A tristeza torna-se ainda maior quando reparamos que somente uns gatos pingados interessam-se pelo que escrevemos.
Não só para satisfação do escritor e do livreiro mas, e principalmente, para que os jovens valorizem e firmem o aprendizado conseguido nos bancos da escola, fazemos um apelo para que adquiram o bom hábito da leitura o quanto antes puderem, pelo que, nós, que escrevemos, somos-lhes muito gratos.