Deus, acho eu, decidiu não ser mãe.

Ainda sobrevivendo sob o impacto, sob a sensação de abandono e perda, sem no entanto, até este momento descobrir a frase certa, a expressão adequada - se é que existe uma - que conforte o coração de mamãe; (Oséas, meu irmão, o cara que consertava as coisas), abreviou seus dias entre nós, faz só quatro meses); nem tive tempo de dizer umas coisas que um filho caçula, único crente da ninhada, deveria estar pronto pra dizer numa situação dessas (desavisado crente sou) e, ao abrir o boletim da minha igreja em Belo Horizonte (DEUS, abençoe a Joana Pinheiro!) deparo com uma notícia, dessas que nem em cem anos estaremos prontos pra receber: Dª Álmen, minha mãe na fé, reserva viva do “Amor de crente” e que gasta seu precioso tempo a orar por mim, sofre abundantemente uma sincera e semelhante dor, (tudo nas mães é intenso) perdeu o Hélder. Já perdera o “Bon”.

Dª Álmen é crente fiel de uma vida toda, dessas que levou os filhos pra escola dominical; mamãe é estreante, ainda faz perguntas próprias dos neófitos, recebeu Jesus como Salvador e Senhor em janeiro, dia 19.

Mamãe perdeu meu irmão numa guerra suja dessa droga de vida de drogas. Até hoje ninguém da igreja foi lá em casa orar com mamãe e ensinar uns trem da Bíblia pra ela. Moramos longe pra dedéu.

Mamãe e Dª Álmen choram seus filhos, quarentões, neste inadequado mundo; sócios da mesma sina.

O que fazer quando olhamos pra quem amamos, conhecemos-lhes o sofrimento e a única coisa decente que nos vem é olhar pro chão?

Semelhante e caótica dor, que mutila-nos a esperança de sermos, ainda aqui, absolutamente felizes.

Dª Álmen pode aprender com mamãe que nós, os filhos, desapontamos, fraquejamos e desistimos, quase sempre; sou prova disso.

Já mamãe pode aprender com Dª Álmen que nós, os filhos, ainda que raramente, somos quase bons.

Dª Álmen sempre me fala coisas boas, mesmo que às vezes endureça a voz e ensaie uma cara de brava; mamãe também sempre me fala coisas boas, mas a cara de brava é de verdade. E não é só a cara.

Ser pai é mais fácil, DEUS é pai; pai é “cerebral”, resolve tudo no grito, no ato; mãe é coração puro e pronto.

DEUS acho eu, decidiu não ser mãe; DEUS se fosse mãe, teria dificuldades terríveis pra expulsar Adão e Eva de casa. Até imagino: ah! Meus filhinhos longe de mim! (sei que não parece DEUS falando.)

É claro que o amor de mãe não é maior, mais forte ou mais bonito que o amor de DEUS. Se as mães amam desmedidamente, despudoradamente transpiram esse tanto amor, foi de DEUS que é amor que herdaram.

Na verdade não encontrei no meu empanturrado baú de boas frases, uma sequer pra dar alívio ou reacender a esperança das minhas mães, confesso minha sequidão de estio.

Nem todas as lágrimas que derramar farão frente à composição de uma só vertida por elas, minhas mães.

Assim, me descubro incompetente pra um conforto dessa envergadura, é coisa do tamanho do amor de DEUS fazer isso.

Choro, silencioso e seco, choro, numa desdita falta de opções. Também sofro e quero colo; quero um ombro.

“ Quero o Salvador comigo, ao seu lado sempre andar;

quero tê-lo muito perto, no seu braço descansar.

“ Confiando no Senhor, e fruindo seu amor,

seguirei o meu caminho, “sem tristeza”(!) e “sem temor”.

“ Quero o Salvador comigo, porque fraca é minha fé;

sua voz me dá conforto, quando me vacila o pé.” – (rev. Robert hawkey Moreton)

Breve, não sei quando, o coração de vocês duas cantará novamente, pois DEUS, não sendo mãe, deixou muito trabalho pra vocês duas.

(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)

http://www.mvida.org.br conheça-nos!

http://www.sola-scriptura.com cadastre-se!