Cangaço é História


     A Polícia Pernambucana estava à procura de Lampião que era fugitivo daquele estado e no inverno pesado de 1928 ele chegou à Piçarra, sítio de propriedade do seu amigo “Seu Tonho” acompanhado de apenas 9 cangaceiros e pouca munição. Vinham esfomeados e se alojaram na parede do açude, aonde esperavam a comida e a munição que viria da cidade de Juazeiro.

          Naquele mesmo dia, Antonio Piçarra recebeu a força pernambucana comandada pelo tenente Arlindo Rocha que exigiu a entrega do cangaceiro sob a ameaça de matar todos na fazenda, caso o protegesse. Não querendo entregá-lo, por conta da amizade com Padre Cícero e da certeza que se ele escapasse voltaria para vingar-se, Seu Tonho, avisou-o, por intermédio de um portador, que se retirasse da fazenda pois a casa se encontrava cercada por 100 policiais. Gostaria muito de evitar inimizade com o cangaceiro e por isto deu- lhe a oportunidade de fugir. Lampião, no entanto, não atendeu à sugestão do amigo e preferiu enfrentar a Policia. Durante o combate, sua munição acabou e ele fugiu para o estado de Sergipe, onde tinha parentes, com o bando; mas perdeu “Sabino Gomes”, o seu cangaceiro mais valente, nesta luta.

      Seu Tonho recebeu muitas ameaças de vingança por parte de Lampião durante o período em que ele estava em Sergipe, antes de ser morto. Mas este nunca mais voltou ao Ceará.

      Não se pode condenar os coiteiros de Lampião ou de outros cangaceiros; eles não tinham segurança garantida por parte da polícia, e corriam risco de vida, junto à família, caso se negassem ajudá-los.

     Chico Chicote foi o único homem que não quis nem mesmo conhecer Lampião. Nunca lhe deu abrigo.

     Determinada vez, o Coronel Santana da Serra do Mato, meu ascendente paterno, disse ao Governador do Ceará, Idelfonso Albano, que se ele morasse no interior do sertão, entenderia com muita facilidade porque os coronéis davam apoio a Lampião.

     "Em 1937 o cangaceiro Moreno inquietou o Município de Brejo Santo. Numerosos contingentes policiais foram lançados em sua perseguição. Até um campo de pouso foi construído nos arredores da cidade, com o fim de facilitar as operações. Data daí a descida do primeiro avião em Brejo.Tudo inútil, porém”. É esta narrativa feita pelo escritor Otacílio Anselmo.

     Ele estava por aqui a mandado de Lampião para matar Antonio Piçarra e, inclusive, levar uma orelha da vítima para o chefe. Foi aconselhado pelo tio Major José Francisco, que aqui residia, e era homem de bem; mas não desistia da idéia pelo fato de ter feito a promessa a Lampião.

     O Rei do cangaço faleceu em 1938 juntamente com a sua companheira Maria Bonita e os seus cabras, em Angicos, Sergipe, assassinados por policiais de Alagoas.Com sua morte, Moreno sentiu-se desobrigado da promessa e desistiu de matar Antonio Piçarra, retirando-se desta região.

     Antes, porém esteve ameaçando queimar a fazenda Minadouro do meu avô paterno: José Denguinho de Santana, caso esse não lhe mandasse dois contos de réis. No seu bilhete, no entanto, estava escrito: 200 mil réis. Quantia enviada e rejeitada, de início com desaforos, jogando o dinheiro no chão. Após a explicação do vaqueiro, o portador da encomenda, e a intervenção da sua mulher que recolheu o dinheiro do chão, ele aceitou por haver se convencido que realmente havia escrito o valor errado.
     Vovô José Denguinho de Santana conversou com o major José Francisco da silva, tio e padrinho de Moreno sobre as ameaças e mesmo aconselhado pelo tio, ele continuou algum tempo fazendo ameaças e sendo perseguido pela polícia.

     Retirou-se do Ceará e mais tarde em 1955, estava no Paraná, onde foi reconhecido por alguns brejosantenses que moravam em Itaguajé.!(1)

     Os familiares e amigos de Moreno afirmam que ele tomou o caminho do cangaço por ter sido injustiçado pela polícia. Foi caluniado por roubo de uma ovelha, por ele abatida, para venda. Ele a havia comprado de alguém que a roubou. Foi preso injustamente. Não foi ouvida a sua versão, e revoltado com a polícia e a justiça passou a comportar-se indevidamente.

     Moreno é ainda parente do nosso atual Presidente: Luis Inácio Lula da Silva.

     Recentemente recebi uma xerox de um recorte de jornal enviado pelo Dr. Napoleão Tavares Neves, residente em Barbalha – CE, onde estão estampadas as fotos do ex-cangaceiro Moreno (ou  Antonio Inácio) e sua mulher D. Durvalina Gomes de Sá ( Duvinha) em idade avançada ao lado de outra do grupo de Lampião onde o casal está dançando. Moreno, no entanto, nega que seja ele o moço da foto.

     O Dr. Napoleão assim se dirige a mim: ‘Marineusa. Pedaço vivo da História Cangaceira de Brejo Santo, fins da década de 30. Na entrevista Moreno assinalou:“-Morei em Brejo Santo”. Cangaço também é História. 
    O casal de ex-cangaceiros reside hoje, pacatamente, anonimamente, na periferia de Belo Horizonte’.

     No mês de junho, acompanhado do cineasta Wolney de Oliveira e do neto Eudse, o sr. Antonio Inácio, aos 96 anos de idade ( o ex-cangaceiro Moreno) visitou Brejo Santo, onde foi acolhido por familiares e visitou alguns nonagenários que foram seus colegas de escola.(2)



Obs: Este  texto foi escrito antes da visita de Moreno a Brejo Santo.
         Foto de Moreno e sua esposa Durvalina.
(1)Moreno afirmou em Brejo Santo que nunca esteve no Paraná.
(2)Parágrafo acrescido ao texto após a visita de Moreno a Brejo Santo.


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