ESTAÇÃO SANTA HELENA
Acabo de receber um exemplar do livro SOROCABA – A CIDADE INDUSTRIAL, do meu amigo e ex-presidente da Academia Sorocabana de Letras, Geraldo Bonadio, pesquisador do processo de desenvolvimento econômico e social do sudoeste paulista, jornalista e historiador, Mestre e Especialista em Planejamento e Desenvolvimento Regional (UnG) e Mestre em Teoria da Comunicação (Faculdade “Cásper Líbero” ).
Em comum , temos o amor pela literatura, somos ambos ex-presidentes de Academias de Letras e, em nossas mais remotas infâncias, passamos uma década residindo na rua Olavo Bilac, ele, em Sorocaba; eu, em Ribeirão Preto.
Nesse, livro ele escreve sobre o pioneirismo e transformações aceleradas que marcam a história da indústria em Sorocaba.
“No início do século XIX, o município recebe a siderúrgica de Ipanema, primeiro estabelecimento no Brasil em que produção e trabalho se organizam segundo os padrões da Revolução Industrial.
Na década de 1850, seu mais rico fazendeiro, Manoel Lopes de Oliveira, faz uma tentativa sem precedentes de implantar uma fábrica de tecidos usando equipamento a vapor.
O município se afirma, a seguir, como pólo difusor do algodão herbáceo e da modernização agrícola. Sob a liderança de Luis Mateus Maylasky, monta uma estrutura de plantio e beneficiamento que rompe o monopólio exportador de algodão dos Estados Unidos.
Constrói a única estrada de ferro surgida para servir a cotonicultura, a qual se converte em corredor de apoio à comercialização de tecidos e penetração da cafeicultura na Alta Sorocabana.
Em pouco mais de trinta anos, constitui um dos maiores parques brasileiros de fiação e tecelagem. Em não mais do que vinte, afirma-se como capital do linho.
Esgotado o antigo modelo têxtil, redesenha seu perfil industrial e torna-se um centro de metalurgia e mecânica de precisão.
A cidade industrial documenta a interação da atividade fabril com um dos mais antigos núcleos urbanos paulistas.
Acompanha, ainda, o desenvolvimento, pela sua liderança operária, dos instrumentos necessários a enfrentar as tensões e conflitos de interesse entre trabalhadores e empresas “.
Lendo a obra, encontrei parte de minha infância no capítulo “Um certo Rui Barbosa” . Mais precisamente, voltei a andar no “bondinho de Votorantim”, na década de cinqüenta, uma “ linha férrea, com bitola de 60 cm e extensão de 8 km, que contava, de início, com cinco locomotivas Baldwin , 30 vagões para o transporte de carvão ou madeira, oito carros para passageiros, nos quais transitavam não só operários da fábrica, como também moradores da cidade de Sorocaba, ao preço de 1$400, passagem de ida e volta. A ferrovia tinha quatro estações: Paula Souza, Votorantim, Santa Helena ( a que conheci mais de perto) e Fábrica de Cimento”.
Voltei no tempo e no espaço, lembrei-me de uma praça muito bem cuidada, de Sorocaba, por onde passamos, em que os arbustos tinham formas de pessoas e animais, e viajei novamente, após mais de quarenta anos, sob um enorme temporal que cobria de raios o curto, mas tenso percurso que incluía a passagem sobre um pontilhão sobre o rio Sorocaba, juntamente com meus pais, em visita a um parente nosso, funcionário da fábrica de cimento Votorantim.
A Cidade Industrial, enfim, é uma obra indicada para quem deseja ter uma visão panorâmica da trajetória de Sorocaba, repleta de ilustrações, das primeiras unidades de produção de chapéus e tecidos na era da globalização, ao mesmo tempo em que mapeia o impacto da atividade fabril sobre a estruturação do espaço urbano e da vida social.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO