Heidegger - Martin. O Principio da Identidade e Diferença.
A desconstrução de conceitos da hermenêutica se encontra latente em sua própria reflexão, devido às aporias que fundamentam seu discurso enquanto instituição. A questão central que subjaz esse discurso é a interpretação do axioma (proposição, premissa ou verdade por si mesma) de Heidegger: “o metafórico só existe no interior da metafísica”. Tal axioma desafia a fundação da diferença que Aristóteles procurou preservar nos domínios da filosofia e da literatura. Com isto, a diferença não é a do tipo um grau a mais, é uma manifestação baseada na lógica do “nem/nem” oposta a do “isto ou aquilo”. Nesta instância, uma coisa difere da outra, ao deferir de outra, cada uma pertencendo ao “mesmo” lugar. Com Heidegger, somos convidados a permanecer num espaço do indecidível. A questão do indecidível desloca na hermenêutica a questão do significado: não há mais polissemia, mas sim disseminação que promovida pela escrita impossibilita a hermenêutica o resgate da verdade.
O filosofar heideggeriano é uma constante interrogação a este respeito. Heidegger aborda a questão do Ser através do método fenomenológico, fazendo da reflexão acerca do Ser seu ponto de partida. Este autor aponta o fato de que, através do próprio homem, é que se dá o caminho para se conhecer o Ser. O homem em sua solidão interroga-se sobre si mesmo, colocando-se em questão e refletindo sobre ele mesmo, e neste momento o Ser dá-se a conhecer. O objetivo da reflexão filosófica encontra-se no fato de que o filósofo, partindo da existência humana (Dasein - ser-aí), procura desvendar o ser em sí-mesmo. Este pensador acredita que o Ser do homem não pode ser reduzido à filosofia ocidental, que o identifica através da objetividade. O ser-aí não pode ser então uma simples presença, por que ele é aquele ente para o qual as coisas estão presentes. Não é uma simples presença, uma vez que o ser-aí é um ser-possível, é sempre aquilo que pode ser. Heidegger descreve a vida cotidiana do homem, considerada por ele como uma forma de existência inautêntica constituída por três aspectos: facticidade, existencialidade e a ruína. A inautenticidade refere-se ao distanciamento do homem de sua condição real, de como ele se ocupa do mundo e distrai-se de sua condição enquanto um ser mortal. A autenticidade é justamente quando o homem pode conviver com sua condição enquanto ser-para-a-morte. O homem é um ser de possibilidades infinitas, as quais ele vai "escolhendo" realizar enquanto vive, mas esta possibilidade da morte é a única que lhe é dada como certa. Na segunda seção de sua obra, surge a noção de angústia. Esta se faz presente quando o homem passa a assumir-se nesta projeção futura da morte. A angústia heideggeriana possibilita que o homem possa resgatar-se do viver cotidiano indo ao encontro de sua totalidade. Ela está sempre presente tanto no distanciamento quanto na aproximação do eu, podendo ser vivida como medo no distanciamento. Outra questão importante que Heidegger apresenta, é a questão do tempo. O autor encontra na temporalidade uma dimensão fundamental da existência humana, pois o ser-aí tem como condição realizar-se nas suas possibilidades no seu vir-a-ser. Este filósofo acredita que há sempre no ser –aí (Dasein), a presença de uma tensão constante, de uma inquietação relativa ao tempo, entre aquilo que o Dasein é, o seu vir-a-ser e seu passado. A vivência da temporalidade pode dar-se na inautenticidade assim como na autenticidade. A autenticidade da temporalidade dá-se através da inquietação, que possibilita com que o homem ultrapasse o estágio da angústia e retome o seu destino em suas próprias mãos. A inautenticidade dá-se no distanciamento dele próprio, como se fosse levado pelo destino, simplesmente ocorre uma modificação, na qual Heidegger não considera mais a existência humana como ponto de partida de entrada para o Ser, mas sim o Ser passa a ser a abertura para a possível compreensão da existência humana. Em sua obra o Ser não é apresentado como ente algum, nem como princípio dos entes, nem como fundamento da realidade. Ele, de certa forma identifica-se com o nada, mas apesar disto ele é, O Ser é visto como algo que não pode ser compreendido através de nenhum ente, pois ele é a própria realidade.
O ser é linguagem, é só ela que possibilita o real, porque é o meio através do qual o “ser” se deixa perceber. Como diria Martin Heidegger, “a linguagem é a morada do ser”. Diríamos, o local onde a linguagem acontece é habitado por e tão somente pelo homem. Para Heidegger, a hermenêutica é uma ontologia, não um método, nem uma gnosiologia. O ser-aí (Dasein), enquanto parte do ser, é que se pergunta pelo ser, mas não o cria, nem o constitui, só pode descrevê-lo. Heidegger concebe a circularidade da compreensão, mais como uma possibilidade positiva, do que como circulus vitiosus (o que baniria a interpretação do campo do conhecimento rigoroso) (cf. HEIDEGGER, 1991, p. 209).
Heidegger projetou-se entre os especialistas através de interpretações pessoais de pensadores pré-socráticos como: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia, sofrendo também influência de Aristóteles, por ser o formulador da teoria do Ser enquanto Ser. Estudou ainda Kant, Fichte, Descartes, Schelling, etc. O pensamento heideggeriano surgiu em uma época em que devido a Primeira Guerra Mundial, os homens tem seus valores tradicionais e seu orgulho de sua civilização colocados em questão. Este pensamento pretende representar a recolocação dos problemas fundamentais da filosofia que é a questão do Ser.
Heidegger projetou-se como o mais famoso representante da filosofia existencialista, qualificação esta que mais tarde repudiou.