Clima de Copa do Mundo
Luiz Luna*
É inspirado num dito popular que escrevo. “De médico e de louco todos temos um pouco”. E futebol está no sangue do povo brasileiro. Enquanto começava o aquecimento para uma corrida educativa, encontro o amigo Reginaldo e sou convidado para participar de uma “pelada”. Explico que “sou perna de pau”, mas prometo pensar no assunto, afinal de contas, nem lembro mais quando foi o último chute.
Esse desafio traz lembranças infantis, quando cursava a primeira série no Instituto Cruzeiro, no bairro de Campo Grande, em Recife, e participei de uma competição. Só consegui ser pior do que o primo André Luiz. Essa experiência foi o suficiente para entender que não havia algo em comum entre mim e uma bola. Mais tarde, residindo em solo baiano, tentei novamente, porém logo fui intimado a sair de campo, sob pena de linchamento. Os colegas não eram didáticos com aqueles que não demonstravam habilidade com a “mania brasileira”. Como torcedor, também nunca fui grande coisa. Vibrar pela Seleção Brasileira, entretanto, aprendi ainda menino e até hoje cultivo essa batida de coração mais forte diante da “Verde e Amarelo”. Tenho bem nítida na memória a Copa de 1982, quando residia nos arredores de Juazeiro da Bahia. As poucas ruas do povoado de Juremal estavam enfeitadas. Os fogos anunciavam que a Seleção Brasileira estava em campo. Os gritos mesclavam com a vibração diante de um gol marcado por um jogador brasileiro. Diante da Seleção da Itália, nosso choro na inconformidade da derrota, jamais apagada da memória. O sonho é adiado.
Como nem só de decepções futebolísticas vive o homem, minhas recordações alcançam a conquista do título de Penta Campeão em 2002. São vinte anos que separam uma frustração de infância da satisfação de um adulto, orgulhoso de sua Nação, crente em dias melhores, batalhador para que os fatos positivos ganhem maior visibilidade em meio a tantas notícias desagradáveis. Já estava em João Pessoa há dois anos, quando o Brasil conquistou mais uma Copa. As cenas eram semelhantes, mas as vibrações, maiores; os tempos, diferentes. Telefone celular, internet, caras e corpos pintados, pinturas no calçamento ou asfalto, telões... Faço vista grossa para os exageros de alguns torcedores. A válvula de escape torna-se perigosa quando beira o fanatismo. Quando o assunto é futebol essas cenas são mais comuns do que pensamos.
Novamente é tempo e clima de Copa do Mundo. Até o noticiário molda-se para a cobertura desse gigantesco espetáculo. Toda a mídia dá ênfase ao assunto e nossos olhos fixam na Alemanha, agora palco de um show democrático de um lado e capitalista de outro. Em meio a todo esse agito, o coração do humorista Bussunda não suporta o ritmo da emoção e fica-nos a saudade. A Seleção Brasileira não faz a participação que esperávamos, mas segue vitoriosa. E de nada adianta a aclamação de que possuímos o melhor futebol do mundo se não gritamos “é gol!”.
Que sigamos rumo ao Hexa. O Brasil merece mais esse título. Que os jogadores tenham a humildade e trabalhem para mostrar, outra vez, nosso futebol. Certifico-me que não entendo desse esporte. Da emoção e do gosto da vitória do País em que nascemos, todos compreendem.
* Jornalista e especialista em Gestão de Pessoas.