O QUE NÃO SE DIZ AO TRABALHADOR

O Programa de Alimentação do Trabalhador –PAT - foi criado em 1976, segundo a propaganda, para que o trabalhador saísse da “vidinha de sanduíche” na hora da refeição. Destinado principalmente às empresas que não têm refeitório próprio, cujos colaboradores circulam até por outras praças, os chamados vales refeição, tickets refeição e outros tinham como objetivo fornecer ao trabalhador uma refeição mais completa, mais nutritiva a preços populares.

No início, esses tickets eram todos de papel, e os restaurantes que se propusessem a recebê-los eram bem-vindos e isentos de taxas pelas administradoras. As administradoras recebiam das empresas que beneficiavam seus colaboradores com o programa. Tinham um ganho extra com a demora no ressarcimento dos valores que, por vezes, acontecia com mais de 30 dias quer porque o trabalhador demorasse em gastar seu ticket, quer porque os restaurantes recebedores esperavam acumular um volume razoável para então apresentar-los para ressarcimento em 15 dias.

Mais tarde, com o sistema já implantado, as administradoras começaram a cobrar taxas cada vez mais altas dos restaurantes que aceitavam os tickets. Como o volume em circulação era grande, todos concordavam em pagar as taxas encarecendo a alimentação do trabalhador. Hoje, os tickets tornaram-se eletrônicos, as taxas não são apenas administrativas. Cobram-se também aluguel de máquinas, custos de transferência bancária e o prazo, para a maioria, foi espichado para 22 dias. Com uma cobrança de 6,5% de taxas administrativas, mais os outros penduricalhos, o comerciante vê, por vezes, até 15% de suas vendas engolidas pelo Programa de Alimentação do Trabalhador. Um total desvirtuamento da intenção inicial do programa.

O governo trabalhista do senhor Lula, que gasta dinheiro na divulgação de sucessos na área jurídica contra empresários não se preocupa em divulgar os lucros absurdos que as administradoras de tickets obtêm metendo a mão no bolso do trabalhador. Um país que torra bilhões com a chamada Justiça do Trabalho estimula a pilantragem dos empresários que administram os “benefícios” ao trabalhador.

Não é segredo o grande crescimento da rede Accor, dona do Ticket Restaurante e do Ticket Alimentação. Além do tradicional Novo Hotel também possui outras bandeiras como Sofitel, Mercure, Ibis, Formule 1. Agora investindo na selva amazônica com um grande resort na área de Novo Airão, para explorar o turismo e o turista na região de Barcelos no interior do Amazonas. Ainda busca incentivos oficiais para a concretização do projeto já em andamento, como se já não os usasse na origem.

Alguns diriam que é muito bom ver empresários ganhando dinheiro e reinvestindo no país onde esse lucro é gerado. Esse pode ser o lado positivo disso tudo, mas nos parece ser o único. Que os trabalhadores de baixa renda vejam parte de seus parcos ganhos consumidos por igrejas peg pag, por juros bancários de instituições bancárias poderosas, que criam empresas financiadoras que cobram taxa muito acima das cobradas aos cidadãos comuns é até tolerável porque existe a opção de querer ou não querer. Contudo ninguém pode optar em comer ou deixar de comer.

Se por um lado o governo trabalhista do senhor Lula cria vantagens reais para o trabalhador empregado, por outro esconde a malandragem que existe por trás do PAT. As administradoras de tickets estão abusando e abusando além da conta. Está na hora do governo se colocar ao lado do trabalhador e evitar que parte das vantagens conquistadas sejam transformadas em benefícios para empresários sem escrúpulos.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário.

www.luizlauschner.prosaeverso.net

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 13/09/2009
Reeditado em 13/09/2009
Código do texto: T1807600
Classificação de conteúdo: seguro