EDUCAÇÃO DE QUALIDADE PRESSUPÕE GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA
Nas últimas décadas, os acontecimentos no mundo se aceleraram em tal ordem e com tamanho grau de intensidade, a ponto de colocar em dúvida nossas próprias convicções. Aquele antigo modelo de sociedade estável e conservadora já não se justifica mais no turbilhão de inovações sociais, econômicas, culturais e tecnológicas que se aperfeiçoam a cada dia. É preciso que se veja a educação com uma dimensão de totalidade da realidade social, se quisermos construir um futuro sem os males do passado e com diretrizes mais confiáveis.
Apesar de todos os movimentos em defesa da gestão democrática, ainda existe uma boa parcela daqueles que atuam na educação que insistem em não acreditar que a ampliação dos mecanismos da participação seja capaz de delinear uma nova trajetória para elevação da qualidade do ensino com sua efetiva extensão àqueles setores mais oprimidos de nossa sociedade.
O ceticismo desses setores não lhes deixa enxergar que o modelo centralizado, burocrático, mutilador do trabalho do professor em sala de aula e sem a participação das forças que atuam na sociedade, só tem contribuído, como a própria história tem nos demonstrado, para aniquilar a educação pública no Brasil. É inaceitável que essa forma arcaica de conduzir os rumos do ensino ainda seja defendida por profissionais da educação, em nome do comodismo, do medo do novo e da falta de compromisso com a quebra de velhos e viciados paradigmas.
É, necessário, sobretudo, que o gestor escolar dê plena liberdade ao professor para que crie as condições para uma ampla reformulação de práticas educacionais, em busca de um novo modelo pedagógico, através de um projeto coletivo que pressuporá a presença de alunos, pais e demais protagonistas da sociedade.
É bem verdade que essa trajetória poderá ser permeada por avanços e recuos. Não deixarão de existir as dificuldades nessa interação e será preciso romper com práticas enraizadas. Não há dúvidas, porém, que esse processo enriquecerá a atividade educativa, com avanços significativos na qualidade do ensino, a partir de uma profunda reflexão alimentada pelos problemas concretos enfrentados na sociedade, construindo-se, assim, novas relações sociais num espaço público de decisão e discussão, sem a tutela do Estado.
Ressalte-se, porém, que a qualidade do ensino público ainda é um sonho de difícil realização no curto prazo, caso continue a política de ênfase na quantidade, visando sobretudo um melhor desempenho das estatísticas educacionais, gerando salas superlotadas, além de professores mal remunerados e, principalmente, alunos sem compromisso com a aprendizagem, dadas as facilidades para sua promoção/aprovação, difundindo-se a idéia de que o aluno não pode ser reprovado.
É preciso, portanto, buscar-se cada vez mais a participação de todos, procurando tomar as decisões em forma de colegiado, envolvendo o maior número possível de atores do processo ensino/aprendizagem, nunca esquecendo dos pais como sujeitos ativos desse processo, que devem ser incentivados e estimulados a dar a sua importante parcela de contribuição e a sentir-se um membro efetivo da comunidade escolar, fazendo crer que o êxito das ações empreendidas no âmbito da administração escolar, assim como de qualquer organização, está diretamente ligado ao exercício do poder de uma forma descentralizada, criativa e inovadora, onde o famoso e tradicional organograma vertical cede lugar ao organograma horizontal, em que não existem chefes e subordinados, comandantes e comandados, mas sim gestores, empreendedores e colaboradores, todos com papéis bem definidos e bem distribuídos, onde a delegação de poderes e a tomada de decisões em conjunto fazem de cada membro da organização um entusiasmado batalhador e co-responsável pelo seu sucesso ou fracasso.
(O texto acima é uma sinopse da manografia apresentada pelo autor, em março/2001, como requisito para conclusão do curso de Especialização em Administração Escolar, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, na cidade de Sobral-CE.)